SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No fim de semana, Andressa Urach, 36, contou nas redes sociais que fez uma cirurgia plástica para retirar duas costelas e deixar a cintura mais fina. A modelo publicou nos stories do Instagram uma foto de partes dos ossos que foram removidas.
Apesar de parecer um procedimento extremo para modificar o corpo, a remodelação costal é reconhecida e indicada pela SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica).
Nelson Fernandes, cirurgião plástico especializado em contorno corporal e secretário do departamento de eventos científicos da SBCP, afirma que esse tipo de cirurgia é indicado para mulheres cisgênero ou trans que, mesmo não tendo acúmulo de gordura na região, têm as costelas mais abertas. Essa característica física deixa o corpo menos curvilíneo, com a cintura pouco marcada.
Há duas técnicas que manipulam os ossos para afinar a cintura, explica o médico. “Na primeira, mais utilizada no Brasil, fazemos uma pequena incisão, em torno de quatro milímetros de cada lado na altura das costelas 11 e 12. Então fazemos a corticotomia, que é a lesão da parte mais externa do osso. Com isso, conseguimos fazer o que chamamos de fratura em galho verde, ou seja, apenas entortamos o osso, aumentando a curvatura das costelas”, diz.
No outro método, que foi utilizado no caso de Andressa, é feita a remoção de partes das costelas 11 e 12. “A incisão e, consequentemente, a cicatriz vai ser um pouco maior, algo em torno de 2,5 centímetros. Partes das costelas são retiradas através dessas incisões.”
Os pares de costelas 11 e 12 são os mais inferiores e chamados de flutuantes. Ao contrário das verdadeiras (1 a 7), que se conectam diretamente ao osso esterno por meio de suas próprias cartilagens, e das falsas (8 a 10), que se ligam ao esterno indiretamente pela cartilagem da costela acima, as costelas flutuantes não possuem conexão com o esterno. Elas são menores e protegem os órgãos abaixo da cavidade torácica, especialmente os rins.
PÓS-OPERATÓRIO E RISCOS
Quando ocorre a fratura das costelas, a paciente precisa usar um corset por dois meses, que é o período que o osso demora para cicatrizar na nova curvatura. No caso da remoção, o uso do corset não é necessário. Em ambas as técnicas, a pessoa precisa tomar antibióticos e anti-inflamatórios e costuma ser liberada para fazer exercícios físicos após 30 dias.
O principal risco do procedimento, afirma Fernandes, é a possibilidade de haver uma perfuração da pleura, uma membrana que reveste os pulmões, o que pode levar a um quadro de pneumotórax, que é o colapso parcial ou total do pulmão devido à presença de ar entre as camadas da pleura. “No entanto, não há nenhum caso relatado até hoje”, ressalta o cirurgião plástico.
O desejo de modificar o corpo e o rosto pode estar ligado ao transtorno dismórfico corporal, também chamado de dismorfofobia.
O quadro é caracterizado pela insatisfação constante com a aparência e pela busca por uma perfeição muitas vezes inalcançável, como de imagens manipuladas por ferramentas como Photoshop e filtros de redes sociais.
No entanto, o psiquiatra Adilon Harley Machado, do Espaço Arquétipo, observa que nem sempre o excesso de procedimentos estéticos é sinal de dismorfofobia.
“Estamos revivendo a era das super magras. Existem, sim, situações em que essa busca por cuidados estéticos irá simbolizar um transtorno, mas o apelo comercial excessivo por si só pode gerar demandas mesmo em pessoas saudáveis”, afirma o psiquiatra.
SÍLVIA HAIDAR / Folhapress