RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O novo retrato do Censo Demográfico 2022, divulgado nesta segunda-feira (7) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostra uma população de quase 1,7 milhão de indígenas no Brasil.
Esse contingente equivale a 0,83% do total de habitantes no país (203,1 milhões). A seguir, entenda como foi feita a contagem dos indígenas referente a 2022, a metodologia usada pelo IBGE e a importância dos dados.
ONDE A CONTAGEM INDÍGENA É REALIZADA?
A contagem dos indígenas é feita nas 27 unidades da federação, tanto dentro quanto fora das localidades indígenas.
O QUE SÃO LOCALIDADES INDÍGENAS?
O IBGE trabalha com três conceitos de localidades indígenas: terras indígenas oficialmente delimitadas, agrupamentos indígenas e outras localidades indígenas.
As terras são aquelas que contavam com alguma delimitação formal por parte da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas). Eram 573 até a data de referência do Censo 2022 31 de julho do ano passado.
Os agrupamentos, por sua vez, são os conjuntos de 15 ou mais indígenas em uma ou mais moradias contíguas espacialmente e com vínculos familiares ou comunitários.
Esses agrupamentos podem ocorrer em áreas rurais ou urbanas, dentro ou fora de terras indígenas. A identificação deles é feita pelo próprio IBGE.
Já as outras localidades indígenas abrangem diferentes situações, como as ocupações domiciliares dispersas em áreas rurais e urbanas e os registros no entorno das terras e dos agrupamentos. A identificação também é feita pelo IBGE.
QUEM É CONSIDERADO INDÍGENA?
O Censo Demográfico segue o princípio da autodeclaração. Ou seja, para ser considerado indígena, o entrevistado precisa se declarar dessa maneira.
O CENSO 2022 É O PRIMEIRO A CONTAR INDÍGENAS?
Não. O IBGE vem investigando sistematicamente a população indígena desde o Censo 1991. O que mudou de lá para cá é parte da metodologia.
No Censo 2022, uma das principais novidades foi o retrato inédito de outra população: a dos quilombolas. Isso ocorreu porque houve a inclusão da seguinte pergunta: “você se considera quilombola?”.
Até então, os quilombolas eram contabilizados apenas na população total, sem o detalhamento de quantos são e onde vivem, agora disponível. O Censo 2022 registrou 1,3 milhão de quilombolas, contingente inferior ao dos indígenas (quase 1,7 milhão).
A POPULAÇÃO INDÍGENA AUMENTOU OU NÃO?
A população indígena identificada em 2022 (quase 1,7 milhão) é 88,8% maior do que a contada no recenseamento anterior (896,9 mil), referente a 2010. Os dados, porém, não são totalmente comparáveis.
Conforme o IBGE, não é possível afirmar que essa população quase dobrou em 12 anos apenas em razão de fatores demográficos. Parte da limitação está associada a uma mudança na metodologia dos questionários.
Além disso, o IBGE também reconhece uma possível subenumeração na contagem de 2010, o que o órgão tentou evitar em 2022 por meio de um refinamento nas técnicas de abordagem aos indígenas.
QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS DE 2022 EM RELAÇÃO A 2010?
No Censo 2022, o IBGE fez a seguinte pergunta em todo o território brasileiro: “a sua cor ou raça é?”. As opções de resposta eram as seguintes: branca, preta, amarela, parda ou indígena.
Se uma pessoa estivesse dentro de uma localidade indígena (terra, agrupamento ou outra localidade) e não se declarasse indígena no quesito cor ou raça, o recenseador abria uma segunda questão: “você se considera indígena?”.
Em 2010, o IBGE também fez a primeira pergunta sobre cor ou raça em todo o território nacional, incluindo as possibilidades de resposta branca, preta, amarela, parda ou indígena.
A diferença é que, em 2010, a segunda questão ”você se considera indígena?” só era aberta para brancos, pretos, amarelos e pardos se eles estivessem nas terras indígenas oficialmente delimitadas, e não em todas as localidades indígenas, como é o caso de 2022.
Segundo especialistas e representantes de entidades ouvidos pelo IBGE, esse fator pode ter gerado uma subenumeração na contagem anterior. O instituto indicou que a mudança em 2022 veio a partir dessas avaliações.
O IBGE também diz que buscou aprimorar as técnicas de abordagem no Censo 2022 com o objetivo de minimizar as recusas a entrevistas.
Para aplicar os questionários junto aos indígenas, o IBGE teve o apoio de guias e intérpretes, além de reuniões anteriores com lideranças das comunidades. A ideia foi sensibilizar as localidades sobre a importância da contagem.
COMO O IBGE ACESSA OS TERRITÓRIOS INDÍGENAS?
Para chegar até as áreas com presença indígena, os recenseadores do IBGE utilizaram diferentes estratégias, desde caminhadas até uso de barcos, aviões e helicópteros.
Parte dos territórios é de difícil acesso, sem estradas de circulação e com rios onde a navegação é considerada complicada.
Não bastasse isso, o recenseamento também encontrou dificuldades associadas a tensões em locais como a Terra Indígena Yanomami, a mais populosa do Brasil.
O território virou palco de uma crise humanitária em meio a invasões de garimpeiros ilegais. O IBGE contou com o apoio de forças de segurança para concluir a coleta yanomami neste ano.
POR QUE O CENSO TEM IMPORTÂNCIA?
O Censo pode servir como base para a definição e o aprimoramento de políticas públicas. Segundo o IBGE, trata-se da única pesquisa que investiga a população indígena em todo o território brasileiro.
Dados sobre etnias indígenas e outros detalhamentos, como idade e sexo, ainda não estão disponíveis.
Por ora, o Censo 2022 indica que a maioria dessa população vive fora das terras oficialmente delimitadas.
O número de indígenas contabilizados fora desses locais foi de quase 1,1 milhão, o equivalente a 63,27% do total (quase 1,7 milhão). A parcela de indígenas dentro das terras ficou em 36,73% (622,1 mil).
LEONARDO VIECELI / Folhapress