Entenda como Erykah Badu fez do seu estilo uma marca tão forte quanto sua música

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Já faz quase três décadas desde que uma cantora de Dallas, no Texas, com o cabelo envolto em um turbante estilo Nefertiti, lançou seu álbum de estreia e, com ele, definiu o que viria a ser o estilo neosoul. Erykah Badu ganhou destaque em 1997 com “Baduizm”, seu primeiro disco, que marcou uma nova era na música.

Ao lado de artistas como D’Angelo e Jill Scott, Badu mergulhou nas raízes do soul e do funk dos anos 1970, combinando essas influências a uma sensibilidade apurada para o jazz e o hip-hop, estabelecendo-se como um dos grandes talentos de sua época. Seu som refletia um estilo de vida afrocentrado e trouxe uma consciência racial elevada, que mudaria a forma como as mulheres negras se percebiam.

Agora, Badu está de volta ao Brasil para realizar três shows, incluindo um nesta quarta-feira (6) em São Paulo, com abertura de Luedji Luna. Mesmo sem lançar um novo trabalho há quase uma década, ela se mantém relevante e credita esse sucesso à revolução que promoveu na música quando surgiu.

“Diria que fiz o que vim fazer musicalmente em 1997. Qualquer coisa depois disso é um extra. Gravo álbuns se tenho algo a dizer ou se sinto que faz parte de uma missão, porque é algo para a eternidade, para inspirar as pessoas de alguma forma,” afirma.

Ela se define como uma “artista de turnê” e adora estar na estrada a caminho do próximo show. “Poderia me apresentar todas as noites. Sou artista de performance ao vivo. Estou no palco cantando desde 1997, oito meses por ano. Não me canso.”

Desde o momento em que Badu surgiu na cena com um álbum definidor de gênero, ela fez do seu estilo pessoal um cartão de visitas. Naquela época, além do imponente turbante, ela aparecia adornada com suas joias maximalistas, misturando estampas e cores, enquanto segurava um incenso ardente entre os dedos, projetando uma imagem poderosa e mística da beleza negra. Para ela, a aparência era tão significativa quanto a música.

“Acho que [me vestir] é uma das minhas coisas favoritas desde que estou aqui na Terra. Expresso minha arte e a mim mesma de forma mais clara e completa através da maneira como visto meu corpo. Não importa qual seja a marca, tem que ser a peça certa para a silhueta que estou tentando criar na minha mente,” diz.

E essa silhueta é quase sempre extravagante. Sua abordagem não convencional de sobreposição em meio a proporções extremas, sua afeição pelo vintage e o impulso de reciclar ou personalizar são algumas das características que definem seu estilo.

“Não é divertido? Eu posso fazer isso todos os dias. Você tem uma tela todos os dias. Você nunca fica sem materiais ou meios”, diz ela sobre a arte de se vestir. Recentemente, Badu recebeu o prêmio de ícone da moda pelo Council of Fashion Designers of America (CFDA), como reconhecimento de sua relevância nesta área.

Figura cativa nas semanas de moda pelo mundo, a cantora destaca designers negros como seus favoritos. Um deles é Charlene Shepphard-Duncan, estilista de Trindade e Tobago, conhecida por seus vestidos com estampas africanas. Outro é Epperson, de Nova York.

“Ele parecia ser de algum tipo de mundo de fantasia. Quando entrei no estúdio, senti que estávamos entrando em um portal para outro lugar. Ele estava muito à frente de seu tempo. Muito habilidoso, mas decididamente desconstruído,” diz Badu. Ashaka Givens é o nome por trás dos chapéus icônicos da artista, que substituíram seus antigos turbantes.

Mas a influência dela vai além das artes e se estende ao seu estilo de vida e aos exemplos que parece querer dar. Em suas letras, a cantora clama por mais leveza e uma busca constante por autoestima, tanto para si quanto para os outros. Em canções de “Baduizm”, como “Bag Lady”, por exemplo, ela diz: “Moça da bagagem, você vai machucar as costas arrastando todas essas bagagens /acho que ninguém nunca te disse /tudo ao que você deve se apegar é você.”

Em “Appletree”, por sua vez, ela declara: “Eu não ando por aí tentando ser o que não sou /eu não perco meu tempo tentando ter o que é seu. Eu trabalho para me agradar.”

Essa forma de ver o mundo é clara também quando ela fala sobre o motivo de ter se tornado vegana. “Se as pessoas fossem veganas, teriam a oportunidade de serem mais gentis umas com as outras. Seus órgãos seriam mais saudáveis, então não estariam tão doentes, deprimidos ou tristes. Assim, não se magoariam tanto com os outros e teriam mais tempo para se importar com a Terra.”

É por ver o mundo dessa forma que ela também é doula, espécie de assistente de partos, tendo contribuído com inúmeros deles. “Percebi que meu compromisso também é com os bebês, garantindo que, quando eles chegarem, o espaço seja agradável. Esse é um dos eventos mais sagrados da vida.”

Além de sua apresentação no espaço Unimed na capital paulista nesta quarta, Badu também se apresenta no festival Rock in the Mountain, em Petrópolis, nesta sexta-feira (8), e faz outro show no Afropunk, em Salvador, no sábado (9).

A artista, que já passou pelo Brasil inúmeras vezes, sente uma forte conexão com seus fãs brasileiros. “Sinto que falamos a mesma língua, energeticamente e espiritualmente. Todas as minhas coisas são rituais, místicas e próximas à terra, e, espero, de vibração mais elevada. É isso que nos conecta uns com os outros.”

Ela diz não ter muitas expectativas para a visita e quer apenas comprar discos, passar tempo nas casas dos amigos, comer, conversar e dar risada. “Estou apenas pronta para me experimentar naquele espaço e todos experimentarem, sabe, uns aos outros.”

ERYKAH BADU

– Quando Qua. (6), às 20h30

– Onde Espaço Unimed – r. Tagipuru, 795, São Paulo

– Preço A partir de R$ 280,00

– Classificação 18 Anos

– Link: https://www.ticket360.com.br/ingressos/29659/ingressos-para-erykah-badu

ERYKAH BADU NO ROCK THE MOUNTAIN

– Quando Sex. (8), às 18h

– Onde Parque Municipal Prefeito Paulo Rattes, Petrópolis, Rio de Janeiro

– Preço R$ 362,00

– Classificação 18 anos

– Link: https://www.sympla.com.br/evento/rock-the-mountain-2024-noite-de-abertura-1-final-de-semana/2624101

ERYKAH BADU NO AFROPUNK

– Quando Sáb. (9), às 16h

– Onde Av. Luís Viana Filho, 1590, Salvador – Bahia

– Classificação 14 anos

– Link: https://bileto.sympla.com.br/event/94061/d/256390

NADINE NASCIMENTO / Folhapress

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