Entenda como samba da Vila Isabel virou música do Teatro Oficina, de Zé Celso

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No início do velório de José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, morto nesta quinta-feira (6), aos 86 anos, o público presente, formado por amigos e admiradores, cantou uma música que se tornou um dos hinos informais do Teatro Oficina, fundado pelo dramaturgo na década de 1950.

Era “Quatro Séculos de Paixão-História do Teatro Brasileiro”, samba-enredo da escola carioca Unidos de Vila Isabel lançado em 1975 –época em que o Brasil amargava na ditadura militar– e assinado por Tião Graúna e Arroz.

Os versos da canção lembradas no teatro para homenagear Zé Celso depois de sua morte, causada pelas consequências de um incêndio em sua casa no Paraíso, em São Paulo, na madrugada de terça-feira (4), chegaram até Zé Celso em seu período de exílio em Portugal.

Depois de ter sido preso numa solitária e torturado no Brasil em 1974, o dramaturgo ouviu a canção que exaltava o poder do teatro justamente em um momento em que não conseguia viver de seu trabalho no país. “A imortalidade do teatro está nessa música”, disse em uma entrevista para o “Camarim em Cena”, e publicado pela escola de samba para homenageá-lo.

A letra fala sobre a arte imortal do ofício, que espalha distração e cultura em uma “magia permanente” no Brasil. No projeto do Itaú Cultural, Zé Celso falou sobre a crença da imortalidade citada na música. “Acredito realmente na eternidade do teatro. Senão, seria impossível você fazer uma peça de Shakespeare, fazer uma peça grega. É eterno, porque é natural. O teatro faz parte da vida humana. É a vida humana”, disse.

O samba-enredo passou a fazer parte da história do Teatro Oficina desde o período em exílio –em 2010, ele foi anistiado pelo Estado brasileiro e recebeu uma indenização de R$ 570 mil.

Em 2018, por exemplo, no gabinete do então vereador Fernando Holiday, eleito pelo DEM na época, o dramaturgo apareceu num vídeo cantando o samba-enredo para o político após uma discussão sobre a importância da cultura no Brasil.

Mais recentemente, na celebração de seu casamento com o ator Marcelo Drummond, no dia 6 de junho, também no Teatro Oficina, os versos também foram cantados por quem estava lá –para então serem repetidos na homenagem póstuma ao dramaturgo, um mês depois, na sede da companhia que ele fundou.

LAURA LEWER / Folhapress

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