SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Nesta sexta (20), Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, afirmou, em debate no SBT, que errou ao instituir o passaporte de vacina na cidade durante a pandemia de Covid-19. “A gente precisa sempre corrigir aquilo que às vezes a gente erra, que foi a questão do passaporte. Não precisa obrigar as pessoas, para ir em uma igreja, ter que apresentar um passaporte, para ir em um bar, para ir em um restaurante”, diz.
Entre janeiro e maio de 2022, para acessar qualquer evento na cidade de São Paulo, independente do número de pessoas, era necessário apresentar o comprovante de vacinação contra Covid-19, com pelo menos duas doses da vacina. Anteriormente, desde setembro de 2021, era exigido o passaporte, com uma dose da vacina, para eventos com mais de 500 pessoas.
Segundo Edson Aparecido, secretário municipal de Saúde na época, as regras não valiam para bares e restaurantes, mas foram instituídas pelo grande número de festas realizadas no período de Carnaval. Alguns órgãos públicos, como fóruns do Tribunal de Justiça, Câmara Municipal e o próprio prédio da prefeitura exigiam o documento para liberar a entrada das pessoas.
Na época, a medida foi tomada por causa do avanço da variante ômicron do coronavírus e dos casos de pessoas com sintomas gripais, que lotavam unidades de saúde e hospitais, inclusive particulares.
O passaporte da vacina também passou a ser exigido dos servidores públicos municipais em agosto de 2021. Em um decreto, a gestão municipal obrigou todos os funcionários da administração municipal a serem imunizados contra o coronavírus, sob risco de punição.
Conforme publicado pela Folha, a prefeitura cruzou informações para saber quem tomou vacina, com o apoio das Coordenadorias de Administração e Finanças de cada unidade administrativa da prefeitura. Em outubro de 2021, Ricardo Nunes solicitou a elaboração de despacho com a exoneração de funcionários comissionados que não se vacinaram contra a Covid.
Servidores públicos concursados sofreriam processos administrativos. Os trabalhadores que apresentaram comprovantes médicos de motivos para não tomar a vacina foram liberados da obrigatoriedade.
“A cidade aderiu de forma exemplar à vacinação. Não é razoável que servidores públicos, mesmo muito poucos que não se vacinaram, coloquem em risco aqueles que os pagam para lhes atender”, disse Nunes à Folha, na época.
Nesta segunda (16), em entrevistas a podcasts bolsonaristas, Nunes disse que errou ao defender a obrigatoriedade da vacina e o fechamento do comércio durante a pandemia.
“A questão da obrigatoriedade da vacina, eu tenho muito tranquilidade, depois de toda a experiência, e tenho humildade para falar isso, que hoje eu sou contra”, declarou.
Também afirma que foram equivocadas medidas como fechamento do comércio, que na época ele defendeu. “Está provado que foi errado, até por conta do que está vindo agora de estudo”, disse.
Uma pesquisa publicada no periódico científico Jama Network Open, de março de 2023, mostrou que o reforço contra a Covid protege até mesmo aqueles que já tiveram uma infecção contra a ômicron.
Outro estudo, conduzido no Brasil, sugere que para uma melhor resposta imune contra a ômicron após a Coronavac, eram recomendados reforços com a vacina AstraZeneca ou Pfizer.
Além disso, as vacinas contra a Covid continuam oferecendo proteção contra hospitalização e morte mesmo seis meses após a última dose, indicando que é importante garantir a chamada atualização vacinal, especialmente daqueles com maior risco de gravidade, como idosos e pessoas imunossuprimidas.
No estado de São Paulo, de junho a setembro de 2024, as internações por Srag (síndrome respiratória aguda grave) causadas por Covid aumentaram.
Segundo a SES (Secretaria Estadual da Saúde) de São Paulo, de 1º de junho a 11 de setembro deste ano, ocorreram 1.696 hospitalizações por Covid, com 254 em junho, 318 em julho, e subindo para 995 em agosto. Já de 1º a 11 de setembro, foram registradas 129 internações. Do total, 1.095 (64,5%) referem-se à população com 60 anos ou mais.
Para Evaldo Stanislau de Araújo, infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, a alta nos dados de Covid é global e observado há algumas semanas. Novas cepas, baixa testagem e cobertura vacinal explicam os números.
“É uma soma do comportamento das pessoas, do comportamento do vírus e de má adesão ou esquecimento da adesão às medidas básicas de contenção. A gente já sabe as ações, já conhecemos a doença, que é de transmissão aérea. E, para evitar transmissão, temos que fazer algumas medidas básicas não farmacológicas: vacinar, tratar e testar”, afirma Araújo.
Redação / Folhapress