SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Zé Celso, que morreu nesta quinta-feira (6) aos 86 anos, vítima de um incêndio em seu apartamento em São Paulo, brigou na Justiça com Silvio Santos por mais de 40 anos.
O dramaturgo, um dos nomes fundamentais do teatro brasileiro, e o apresentador de TV e empresário travaram disputa por uma área em torno do Teatro Oficina, companhia de Zé Celso, no bairro do Bexiga.
Enquanto o artista lutava para que fosse construído no local o parque público do rio Bexiga, o dono do SBT, por meio de uma de suas empresas, a Residencial Bela Vista, desejava construir ali um conjunto residencial de três torres de cem metros cada. Silvio Santos é o proprietário do terreno.
O imóvel que é sede da companhia teatral tem projeto arquitetônico de Lina Bo Bardi e segundo Zé Celso, o empreendimento do apresentador, se realizado, prejudicaria o teatro. O prédio foi tombado pelo patrimônio histórico do estado de São Paulo nos anos 1980.
Para o artista, conforme ele afirmou na Folha de S.Paulo, após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), Silvio Santos se tornou “inimigo público” do Teatro Oficina.
“Até o ‘golpeachement’ de Dilma em 2016, todos os órgãos de defesa do patrimônio, Iphan, Condephaat, Conpresp, protegiam este entorno”, escreveu em artigo. O Iphan é o órgão federal de preservação patrimonial, o Condephaat é o estadual e o Conpresp, o municipal.
Em agosto de 2017, Zé Celso e Silvio Santos se encontraram com o então prefeito João Dória para discutir o assunto. Na ocasião, o dramaturgo afirmou que o parque deveria abrigar uma tenda em que pudessem ser realizados shows e peças, e que São Paulo não suportaria mais torres e carros.
Em 2020, o então prefeito em exercício Eduardo Tuma, do PSDB, vetou o projeto de lei de autoria do vereador Gilberto Natalini, do PV, que viabilizaria a construção do parque.
A prefeitura alegou que o projeto “invade” o escopo de atuação do Executivo e, portanto, não teria condições de ser convertido em lei.
Dois anos depois, a Justiça proibiu a prefeitura de autorizar a construção do projeto imobiliário do Grupo Silvio Santos. De acordo com a sentença da juíza Paula Micheletto Cometti, o empreendimento atingiria o rio que corre sob o terreno e o lençol freático a quatro metros do solo.
A construção, portanto, além de não considerar a paisagem do bairro poderia causar “danos ambientais e danos ao patrimônio histórico, cultural e arquitetônico, diante da existência de áreas tombadas como o bairro do Bexiga, o Castelinho da Brigadeiro, o Teatro Oficina, o Teatro Brasileiro de Comédia, a Casa da Dona Yayá, Escola de Primeiras Letras e Arcos da Rua Jandaia”.
Em junho deste ano, no mesmo dia do casamento de Zé Celso com o ator Marcelo Drummond, ambos foram intimados por um oficial de Justiça. O casal foi informado que seria multado em R$ 200 mil caso praticasse intervenções no terreno de Silvio Santos durante a cerimônia.
Eles haviam dito que plantariam no local uma árvore dada de presente a eles pelas atrizes Fernanda Montenegro e Fernanda Torres. “Foi o presente do Silvio Santos. Dele não espero muita coisa”, disse Drummond.
“Eu acho que o melhor presente que o Silvio Santos pode dar a Zé e Marcelo é um acordo em forma da criação do parque do Rio Bexiga”, afirmou na cerimônia o deputado estadual Eduardo Suplicy (PT).
Silvio Santos foi convidado à festa, embora não tenha comparecido. Ele foi o único que receberia um convite de papel com uma sugestão de presente de casamento o terreno. No entanto, o casal não conseguiu encontrar o apresentador.
Redação / Folhapress