SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Entidades médicas relatam desabastecimento de insulina para tratamento de diabetes no Brasil. A causa do problema seria falta de insumos para a produção do medicamento a nível global, segundo nota publicada pelo Ministério da Saúde.
O SUS (Sistema Único de Saúde) oferece dois tipos de insulina: a Humulin ou Novolin NPH e a Regular. De acordo com Sylvio Provenzano, endocrinologista e integrante do Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro), todos esses medicamentos estão em falta na rede. “Houve uma falha de produção desses tipos de insulina”, diz.
Nesta segunda-feira (6), a Folha entrou em contato com 13 farmácias na cidade de São Paulo e todas apresentavam algum nível de desabastecimento. Sete não tinham qualquer versão do medicamento; cinco tinham somente refil para caneta; e uma oferecia apenas a caneta da insulina regular.
O principal tratamento para o diabetes tipo 1 é a insulina, pois o paciente não produz a substância em níveis suficientes. O diabetes tipo 2 é tratado de outras formas, mas em alguns casos a injeção também é necessária.
Sylvio Provenzano ressalta que pacientes com diagnóstico de diabetes tipo 1 precisam da insulina para sobreviver. “Após quatro ou cinco dias, o paciente pode entrar em coma diabético, que tem uma taxa de mortalidade alta. Isso vai sobrecarregar o sistema de saúde.”
Não há informações oficiais sobre o número de farmácias e hospitais desabastecidos. Questionado, o Ministério da Saúde não respondeu até a publicação deste texto.
No último 2, contudo, a pasta divulgou uma nota na qual anunciou ter adotado medidas estratégicas para enfrentar “a restrição global na oferta de insulinas humanas NPH e regular, essenciais para o tratamento de pessoas com diabetes mellitus tipo 1 e tipo 2 no Brasil”.
“Em 2024, foram contratadas 55,6 milhões de unidades, com um investimento de R$ 799 milhões, visando atender à crescente demanda. Para 2025, o orçamento destinado a esses medicamentos será ampliado para R$ 1 bilhão”, diz o Ministério da Saúde.
Também procurada, a Abrafarma (Associação Brasileira de Farmácias e Drogarias) diz não ter sido notificada pelas drogarias sobre um possível desabastecimento de insulina.
Em junho de 2024, o laboratório Novo Nordisk alertou que haveria falta na oferta de insulina para a Farmácia Popular e para as redes de farmácias a partir de julho. À Folha a empresa disse que o desabastecimento ocorre “devido a desafios globais na cadeia de suprimentos de medicamentos, que afeta diretamente o fornecimento de insulinas em todo o mundo”.
No dia 26 de novembro, o Ministério da Saúde fechou acordo com a Novo Nordisk para antecipar a entrega de uma remessa de 1,8 milhão de canetas de insulina até o fim dezembro de 2024 e garantir o abastecimento no SUS. A pasta não confirmou se a entrega foi feita, nem respondeu se a Novo Nordisk é o único laboratório fornecedor de insulina para o SUS.
Ainda em novembro, o CFM (Conselho Federal de Medicina) manifestou preocupação “com a grave falta de insulina no Brasil”.
“A restauração do abastecimento contínuo e adequado deste medicamento não pode ser postergada, sob risco de consequências irreversíveis para a saúde pública”, disse a entidade, em nota divulgada na ocasião.
Em 2023, o Brasil também enfrentou escassez de insulina no SUS, tendo que recorrer a contratações diretas e à abertura de licitação para insulinas análogas.
O QUE FAZER?
O Ministério da Saúde recomenda que pacientes com indicação médica para tratamento com insulina que enfrentarem dificuldades para obter o medicamento em farmácias privadas, incluindo aquelas vinculadas ao programa Farmácia Popular, devem procurar uma UBS (Unidade Básica de Saúde) para atendimento.
Uma das doenças crônicas de maior impacto no sistema de saúde, o diabetes tem crescido no país e no mundo.
Dados da pesquisa Vigitel, do Ministério da Saúde, apontam aumento de 65% em 15 anos na taxa de adultos brasileiros com diabetes em 2021 havia 9,1% da população neste grupo, ante 5,5% em 2006.
LAIZ MENEZES / Folhapress