SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ainda não é possível compreender a dimensão da catástrofe humanitária provocada pelas inundações no leste da Líbia, afirmou nesta sexta-feira (15) o subsecretário para assuntos humanitários e coordenador de ajuda de emergência da ONU, Martin Griffiths.
“Não conhecemos o alcance do problema, o nível das necessidades e o número de mortos ainda é desconhecido”, disse Griffiths em uma entrevista coletiva em Genebra. A prioridade agora, segundo ele, é coordenar os esforços com o governo e outras autoridades um desafio, dada a instabilidade política no país africano.
Como consequência de revoltas e conflitos que se prolongam desde 2011, quando o ditador Muammar Gaddafi foi derrubado, a nação do norte da África é dividida entre governos a leste e a oeste apenas o último, com sede na capital, Trípoli, é reconhecido pela comunidade global. A área administrada pelo primeiro foi a mais atingida.
Também nesta sexta, o diretor de ajuda da Cruz Vermelha na Líbia, Tamer Ramadan, afirmou que “ainda há esperança de encontrar sobreviventes”, mas se negou a anunciar um balanço de mortos, que “não seria definitivo nem preciso”, de acordo com ele.
No fim de semana passado, a Líbia foi surpreendida com inundações provocadas pela tempestade Daniel, que deixaram cenários de destruição. A enxurrada arrastou casas, veículos e pontes em direção ao mar e destruiu prédios inteiros nos quais famílias dormiam. O local mais impactado foi a cidade costeira de Derna, no nordeste do país, na qual duas barragens e quatro pontes foram destruídas.
“A água estava carregada de lama, as árvores, com pedaços de ferro. A enchente percorreu quilômetros antes de ocupar o centro da cidade e destruir tudo que encontrava pela frente”, disse Abdelaziz Busmya, 29, que morava em um bairro que não foi afetado pela inundação.
“Perdi amigos e pessoas próximas. Estão sepultados debaixo da lama ou foram arrastados pela água até o mar”, conta ele. Dezenas de corpos são encontrados a cada dia, e alguns são enterrados em valas comuns.
As autoridades enfrentam um dilema: conservar os corpos encontrados para possibilitar a identificação ou enterrá-los rapidamente para evitar a decomposição, já que a capacidade dos necrotérios é limitada.
“Estamos tentando (…) obter amostras de DNA e fotos das vítimas antes de enterrá-las para ajudar na identificação mais tarde”, afirmou o tenente Tarek al Kharraz, porta-voz do ministério do Interior do governo não reconhecido.
Para Busmya, as autoridades líbias não adotaram as medidas de prevenção necessárias e se contentaram em orientar as pessoas para que permanecessem em casa antes da chegada da tempestade.
Balanços provisórios do Crescente Vermelho, versão da Cruz Vermelha para países islâmicos, indicaram 11.300 mortos nesta quinta-feira (14) mais do que o dobro dos 5.300 óbitos que haviam sido registrados em todas as áreas afetadas por chuvas até então. De acordo com o prefeito de Derna, Abdulmenam al-Ghaithi, porém, a cifra pode chegar a 20 mil mortes.
Mais de 10 mil pessoas seguem desaparecidas na região, segundo o Crescente Vermelho e, de acordo com a OIM, braço das Nações Unidas para migrações, o número de pessoas desabrigadas chegou a 30 mil.
Também na quinta, o chefe da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Petteri Taalas, afirmou que as mortes poderiam ter sido evitadas caso a situação política do país fosse outra.
Taalas afirmou que o poder público na Líbia “não funciona normalmente”, o que restringiu um trabalho de prevenção antes da catástrofe e agora dificulta esforços de resgate. “As inundações vieram e não houve retirada dos moradores porque não havia sistemas de alerta adequados”, disse. “[Se os sistemas fossem eficientes] as autoridades de emergência teriam sido capazes de realizar a retirada das pessoas.”
Redação / Folhapress