SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A farmacêutica Luciana Rodrigues de Campos, 28, reclama de pagar R$ 20 para deixar seu carro no estacionamento do shopping center onde costuma almoçar na zona oeste da cidade de São Paulo. “Sai quase o preço de um lanche, mas não tem jeito”, diz ela, que, sem querer, evita entrar nas estatísticas de criminalidade.
Das dez vias com mais furtos e roubos de carros no município, ao menos três ficam no entorno destes centros de compras. Em outra localidade, a avenida Afonso de Sampaio e Sousa, estacionam pessoas que vão ao parque do Carmo, na zona leste.
Os dados fazem parte de um levantamento feito pela empresa de rastreamento Ituran Brasil, referente ao primeiro semestre deste ano, com base em dados de boletins de ocorrência disponibilizados pela Secretaria da Segurança Pública. A pesquisa contabiliza carros de passeios e SUVs (utilitários esportivos).
Segundo o estudo, a avenida Vereador Abel Ferreira, na zona leste, é a campeã de furtos e roubos na capital paulista, com 69 queixas nos seis primeiros meses deste ano. A uma quadra da via fica um shopping, cujo estacionamento custa R$ 17,50 pelo período de três horas –ali também há uma universidade e um hospital.
O levantamento diz que foi vedada a divulgação de dados de vias de 1.788 boletins de ocorrência.
A vereador Abel Ferreira fica na região do Tatuapé. Com 477 ocorrências, o bairro perde apenas para a região central de São Paulo (1.409 furtos e roubos de carros) no ranking deste tipo de criminalidade.
Na esquina da avenida Octalles Marcondes Ferreira com a avenida Nações Unidas, em Jurubatuba, na zona sul, também há um shopping. Com 67 casos, ela é a segunda do ranking. O mesmo ocorre com a rua Francisco Marengo (41 ocorrências e sexta colocada nas estatísticas), também no Tatuapé.
A pesquisa não desmembra furtos e roubos, mas a empresa de rastreamento diz que a maioria dos veículos foram furtados nestes locais –98% na avenida Vereador Abel Ferreira, por exemplo.
Fernando Correia, gerente de operações da Ituran, afirma que esses ladrões observam o motorista entrar no shopping depois de estacionar na rua, e calculam que ele não deverá voltar em menos de uma hora.
“O bandido sai dali e roda com tranquilidade, pois o veículo ainda não tem queixa de furto, com tempo de sobra para desmontar um carro [para venda de peças no mercado clandestino], o que geralmente é feito em 30 minutos”, afirma.
Especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que o policiamento deve ser reforçado no entrono destes locais, mesmo com a opção de estacionamento no centro de compras, principalmente quando estatísticas apontam alta incidência de crimes ali.
“A polícia, enquanto fornecedora de um serviço público, o de segurança, deve prestar atenção nestes indicadores”, afirma Rafael Rocha, coordenador de projetos do Instituto Sou da Paz.
“É obrigação da segurança pública considerar isso, independente de onde o motorista resolveu estacionar. É obrigação da Polícia Militar cuidar para que o roubo não aconteça”, diz.
Opinião semelhante tem Rafael Alcadipani, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Segundo ele, espera-se que a polícia atente para onde há a maior incidência de crimes.
“Se ela é na cercanias de shoppings, é preciso se deslocar efetivo para o patrulhamento, pois isso impacta no indicador criminal”, afirma.
A Secretaria da Segurança Pública discorda da comparação de indicadores criminais de ruas, bairros ou distritos policiais, pois cada localidade possui características populacionais, sazonais e geográficas distintas.
Entretanto, afirma que o policiamento foi reforçado em locais de maior incidência sazonal desses crimes.
No 29º Distrito Policial (Vila Diva), que atende a avenida Vereador Abel Ferreira, a pasta aponta que houve queda de 37% nos roubos de veículos, entre janeiro a julho de 2024, na comparação com o mesmo período de 2023.
No 99º Distrito Policial (Campo Grande), que abrange a avenida Octalles Marcondes Ferreira, a redução neste mesmo indicador foi de 18%.
“Nas áreas das seccionais que abrangem ambos os distritos, 4.937 infratores acabaram presos e mais de 2.000 veículos foram recuperados”, diz a SSP.
No geral, o levantamento mostra que furtos e roubos de carros foram menores no primeiro semestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2023.
No estado de São Paulo, a queda foi de 21% -passou de 40,5 mil para 32,2 mil casos. Na capital paulista, a redução foi de 13,2% -em 2024 ocorreram 15.5 mil queixas ante cerca de 18 mil do período anterior.
Carros com mais de dez anos de fabricação são os mais visados, de acordo com o levantamento.
Há modelos que saíram de linha há mais de uma década e continuam na lista dos campeões de furtos e roubos. É o caso do Chevrolet Corsa, que não é mais produzido desde 2012 está em quarto lugar do ranking, com 1.652 ocorrências no estado.
FÁBIO PESCARINI / Folhapress