Envolvidos em transplantes de órgãos com HIV no RJ apontam falhas e se culpam mutuamente

RIO DE JNAIERO, RJ (FOLHAPRESS) – Nos depoimentos de sócios e funcionários do PCS Lab, nenhum dos envolvidos assumiu a culpa pelos erros nos exames que resultaram na infecção de seis pessoas por órgãos e tecidos transplantados com o vírus HIV. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro.

A Folha teve acesso aos depoimentos realizados. A principal linha de investigação, até o momento, sugere que houve redução no controle dos reagentes com o objetivo de aumentar o lucro. No entanto, ninguém assumiu a responsabilidade por essa ordem, enquanto outros negam que a redução tenha ocorrido.

Confira o que cada um declarou aos investigadores da Decon (Delegacia do Consumidor), que apura o caso:

IVANILSON FERNADE DOS SANTOS, TÉCNICO DE LABORATÓRIO

Ivanilson afirmou que não assinava os laudos do laboratório, sendo essa responsabilidade do médico Walter Vieira, da farmacêutica Ariel Santos, de Jaqueline Iris (a quem conhecia como biomédica) e da bióloga Adriana Vargas. Ele disse que até dezembro de 2023 o controle de qualidade dos reagentes era diário, mas a partir de 2024 passou a ser semanal, sob a responsabilidade de Adriana Vargas.

Em seu depoimento, ele afirmou que essa mudança pode ter levado a erros, já que os reagentes poderiam se degradar, comprometendo os resultados. Ele suspeita que a alteração foi motivada por economia de custos, mas não tem certeza se a decisão foi de Adriana. Ivanilson está preso.

WALTER VIEIRA, MÉDICO E SÓCIO DO LABORATÓRIO

O médico atribuiu as contaminações a falhas humanas. Segundo ele, no primeiro caso, Cléber de Oliveira Santos não realizou a checagem de um equipamento para testes de HIV, resultando em um laudo falso-negativo. No segundo caso, Ivanilson teria digitado incorretamente o resultado de um exame, e a conferência e assinatura ficaram a cargo de Jaqueline Barcellar, que teria utilizado documentos falsos para se passar por biomédica. Wagner foi preso na segunda-feira (14).

Jaqueline Iris Bacellar, técnica em análises clínicas

Jaqueline, apontada por assinar um dos exames de sangue com falso negativo para HIV, afirmou que o setor de TI do laboratório, controlado por Matheus Vieira, tinha acesso a todos os logins e senhas, possibilitando a adulteração de resultados e assinaturas.

Ela também mencionou que Walter Vieira ordenou a redução do controle de qualidade dos reagentes para economizar custos, mas, após saber de uma fiscalização, reverteu a ordem para controle diário.

Jaqueline afirmou que sua função era administrativa e que seu nome foi usado indevidamente em assinaturas de laudos. Ela também disse que nunca se apresentou como biomédica. Jaqueline foi presa após o depoimento.

CLÉBER DE OLIVEIRA SANTOS, EX-COORDENADOR DE LABORATÓRIOV

Cléber afirmou que sempre exigiu a realização do controle de qualidade dos equipamentos diariamente, considerando esse procedimento essencial para garantir a aferição dos equipamentos e a segurança dos resultados. Ele disse que não teve conhecimento de alterações nos protocolos de segurança e destacou que “não realizar o controle diário dos equipamentos implica assumir o risco de emitir resultados incorretos”. Ele também afirmou que pessoas com acesso às senhas “master”, como os donos do laboratório, incluindo Matheus, podiam editar lançamentos anteriores.

RELATO DAS TESTEMUNHAS

**Adriana Vargas dos Anjos, coordenadora**

Adriana declarou que o controle de qualidade dos equipamentos era feito diariamente por sua orientação e que ela nunca ordenou que fosse semanal. Ainda segundo seu depoimento, o controle era feito pelos técnicos Ivanilson e Everaldo.

**Matheus Vieira, sócio do laboratório**

Matheus afirmou que a senha master do setor de TI só permitia a correção de erros em laudos, e qualquer alteração seria registrada no sistema de rastreabilidade. Ele também disse que os documentos anexados ao inquérito comprovam que nenhuma alteração foi feita no período dos fatos investigados.

Alexandre Guerra Azevedo, superintendente da Vigilância Sanitária de Nova Iguaçu

A fiscalização da Vigilância Municipal verifica a existência de programas de manutenção dos equipamentos, mas não pode garantir que o controle de qualidade seja realizado diariamente, sendo essa responsabilidade dos administradores das unidades de saúde.

**Ivair Silva Costa, técnico de laboratório**

Como testemunha, Ivair relatou que Adriana Vargas foi a responsável pela ordem de que o controle de qualidade dos reagentes fosse feito semanalmente, o que gerou reclamações dos técnicos, pois o controle diário é essencial para garantir a estabilidade dos reagentes e a precisão dos resultados.

“O controle de qualidade deve ser diário, porque o reagente utilizado nas análises pode facilmente perder a estabilidade, basta um pico de energia, falta de refrigeração, um dia mais quente”, disse ele. Ivair mencionou que não sabe se Adriana recebeu a ordem de outra pessoa.

**Everaldo Medeiros Dias, técnico de laboratório**

Everaldo afirmou que foi treinado por Ivanilson, que recomendou o controle de qualidade diário do equipamento. Após a saída de Cleber, entre março e abril, Adriana Vargas assumiu e determinou que o controle fosse feito semanalmente, sendo ela a responsável. Everaldo disse que nunca a viu realizar o controle, pois trabalhava à noite, e acredita que Adriana foi orientada por superiores. Ele afirmou que a falta de controle diário geralmente resulta em laudos errados, como falsos positivos e negativos.

**Ariel Santos de Sant’Anna, farmacêutica**

Ariel informou que, em 2024, foi chamada para realizar trabalhos extras, que incluíam conferir e assinar exames após aprovação médica. Em fevereiro de 2024, a empresa pediu que ela assinasse e carimbasse uma folha em branco para uso digital, o que ela acreditou ser legal. Ariel também afirmou que Jaqueline já se apresentou como biomédica.

**Adriana Silva de Mesquita**

Adriana, que trabalha no RH da PCS LAB Saleme desde 2006, recolheu os documentos de Jaqueline Iris Bacellar de Assis para sua contratação como supervisora técnica. Jaqueline forneceu um diploma de biomedicina e uma carteira de biomédica, além de outros documentos, como identidade e comprovante de residência. O diploma e a carteira foram enviados por foto via WhatsApp, de acordo com sua versão.

BRUNA FANTTI / Folhapress

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