BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A equipe econômica do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) monitora desde a madrugada a evolução dos mercados internacionais, que passam nesta segunda-feira (5) por um quadro de estresse com temor de uma desaceleração da economia dos Estados Unidos.
A avaliação no Ministério da Fazenda é a de que, caso se confirme um cenário de desaceleração da economia americana, mas não de recessão, a economia brasileira poderá se beneficiar com a queda das taxas de juros dos Estados Unidos.
Neste cenário, ficará mais mais tranquilo para o BC (Banco Central) do Brasil conduzir a política monetária, o que ajudaria a estabilizar um pouco a taxa de câmbio doméstica.
Um integrante da equipe econômica avaliou à reportagem que, mesmo diante deste momento delicado dos mercados, o Brasil não está “performando mal”.
Para auxiliares do ministro Fernando Haddad (Fazenda), com os Estados Unidos reduzindo os juros, o Brasil poderia recuperar um pouco do diferencial de taxas (a distância entre os juros externos e brasileiro).
Isso teria poder de acalmar também um pouco o cenário para a moeda brasileira, já que juros externos mais baixos deixam o Brasil relativamente mais atrativo ao capital de fora.
Um outro integrante do Ministério da Fazenda considera que o dólar mais alto pressiona o governo e pode aumentar a capacidade do ministro Haddad de acelerar pautas econômicas importantes. Eventualmente, isso pode antecipar novos anúncios de cortes de gastos e dar mais poder para o ministério em negociações difíceis com o Congresso.
Há uma corrente na área econômica que avalia que o anúncio do nome do diretor de política monetária do BC, Gabriel Galípolo, para comandar a instituição poderia, na margem ajudar, porque ajudaria a reduzir ruídos.
Entre alguns técnicos ouvidos pela reportagem, há a percepção de que o BC já poderia ter feito intervenção no mercado de câmbio. O ponto que é citado por esses defensores é que em outras situações como essa o BC sempre interveio.
A preocupação é que o dólar mais pressionado pode se transformar em mais inflação, no curto prazo, trazendo alguma leitura de que o BC vai começar a ver necessidade de subir os juros.
No mês passado, economistas consultados pela reportagem desaconselharam uma intervenção pontual do Banco Central no câmbio. Para eles, a alta do dólar estava mais relacionada à confiança na política fiscal do país.
Um auxiliar de Haddad destaca que é comum nesses momentos um certo açodamento, mas que não é possível, com os dados que se tem até agora, falar em cenários recessivos nos EUA.
A área econômica avalia que uma sequência de três quedas dos juros americanos já é consenso, a partir de setembro. Mas não se descarta que a primeira queda possa acontecer até antes de setembro.
Diante da alta volatilidade, dado o cenário maior de aversão a risco, a expectativa de uma desaceleração mais forte nos Estados Unidos afetou muito o Japão e as bolsas asiáticas, principalmente os países que têm mais ligação com essas duas economias.
ADRIANA FERNANDES / Folhapress