‘Escritório do crime funcionou dentro da Delegacia de Homicídios’, diz Freixo

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O ex-deputado Marcelo Freixo (PT), atualmente presidente da Embratur, afirmou nesta quarta-feira (30) que o caso Marielle Franco (PSOL) revelou que o chamado “escritório do crime” funcionava dentro da Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro.

Freixo faz referência às suspeitas de obstrução da investigação por parte de integrantes da própria Polícia Civil e da Divisão de Homicídios, responsável pela apuração do assassinato de Marielle e o motorista Anderson Gomes.

“São executores muito conhecidos da segurança pública. É inacreditável imaginar que o Ronnie Lesa, depois de tantos anos, conhecido por todo mundo da segurança pública, é a primeira vez que ele é réu. Quantas pessoas esse cara matou antes e não foi investigado? Talvez, se o ‘escritório do crime’ não tivesse sido a Delegacia de Homicídios durante tantos anos, a Marielle estivesse aqui entre nós”, afirmou Freixo, de quem Marielle foi assessora antes de se eleger vereadora.

O “Escritório do Crime” a que o ex-deputado faz referência é um grupo de matadores de aluguel comandado pelo ex-PM Adriano da Nóbrega, morto em 2022 numa ação policial para prendê-lo na Bahia.

A fala do ex-deputado ocorreu no intervalo do julgamento dos ex-PMs Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, réus confessos pela execução do assassinato, no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Os dois firmaram delação premiada.

Em sua delação, Lessa afirmou que os mandantes do crime foram os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão. Ele disse também que os dois garantiram que o delegado Rivaldo Barbosa, à época chefe da Polícia Civil, atuaria para impedir o esclarecimento do crime. Eles negam participação no crime.

“Bons policiais não conseguiram fazer seus trabalhos. Sempre que um delegado avançava ele era trocado. Houve muita tentativa de não chegar a esse momento”, afirmou Freixo.

“O assassinato da Marielle e do Anderson revelou um esgoto político dentro da segurança pública muito profundo. Obstrução de investigação, gente muito poderosa por trás. São réus confessos, a gente sabe disso. Mas é muito importante esse julgamento. É uma data muito significativa para a segurança pública do Rio. São seis anos em que se tentou de tudo para que esse dia do julgamento não chegasse.”

Como a Folha de S.Paulo mostrou, Lessa nega ser matador de aluguel. A Polícia Federal, por sua vez, o trata como um “notório sicário carioca”. A contradição tem sido utilizada pelas defesas dos acusados no STF.

Freixo evitou comentar a ação penal contra os supostos mandantes do crime, que corre no STF (Supremo Tribunal Federal). Ele tratou o caso como uma “investigação em curso” e afirmou ter muita confiança nas conclusões da Polícia Federal, responsável pelo inquérito que indicou a encomenda do crime.

O delegado Guilhermo Catramby, responsável pelo relatório da PF sobre os supostos mandantes, afirmou que, ao assumir o inquérito, encontrou um “cenário árido de provas, sobretudo em relação ao mando”.

“A requisição do ministro [da Justiça à época, Flávio Dino] era para que nós identificássemos os mandantes do crime. Mas, na nossa equipe, fixamos a premissa de que tínhamos que elucidar tudo o que circundava a execução para aí prosseguirmos para eventual mando”, disse ele.

Oito testemunhas já foram ouvidas no TJ-RJ, restando apenas uma para falar.

O júri começou às 10h30 e deve se estender por esta quarta e a madrugada de quinta (31). Ao todo, 21 pessoas, sendo sete homens, foram sorteadas para compor o júri. Os jurados ficarão incomunicáveis e vão dormir no Tribunal de Justiça.

Lessa, preso no Complexo Penitenciário de Tremembé, em São Paulo, e, Élcio, no Centro de Inclusão e Reabilitação em Brasília, serão ouvidos por videoconferência. Os dois firmaram acordo de delação e confessaram o crime.

O Ministério Público do Rio vai pedir pena máxima aos réus, que pode chegar a 84 anos de prisão. O acordo de Lessa prevê o cumprimento de pena em regime fechado até março de 2037. A reunião das penas nos 12 processos a que ele responde será feita pelo juízo de execução penal. Os detalhes do contrato de Élcio não são de conhecimento público.

YURI EIRAS E ITALO NOGUEIRA / Folhapress

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