SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Economistas dizem que o momento macroeconômico vivido pelo Brasil, com inflação sob controle e crescimento de quase 3% no último ano, foram fatores que levaram a agência de classificação de risco Moody’s Ratings a elevar a nota de crédito do país, que está agora a um passo do grau de investimento. No entanto, o governo terá de fazer um esforço fiscal maior para que o Brasil alcance o próximo patamar, afirmam.
Por enquanto, o país permanece no nível especulativo, agora com a nota “Ba1”. Em relatório, a Moody’s disse que a credibilidade do cenário fiscal do Brasil ainda é moderada.
Grau de investimento é uma condição atribuída por agências internacionais de classificação de risco a papéis, empresas ou países para definir que se trata de um investimento seguro –ou seja, com baixo risco de calote.
As notas de crédito também são importantes para os fundos: muitos deles são impedidos de aplicar em papéis sem grau de investimento.
Na visão de Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, o cenário da economia brasileira é relativamente bom, mas a questão fiscal é “a peça que impede o país de avançar mais”. Ele cita um déficit fiscal forte para este e os próximos anos e um aumento da dívida.
Segundo dados oficiais divulgados na proposta de Orçamento de 2025 e no quarto relatório de avaliação de receitas e despesas do Orçamento deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve encerrar seu mandato com déficit fiscal efetivo nos quatro anos da gestão.
Vale afirma que o arcabouço fiscal, que substituiu o teto de gastos, é uma medida paliativa. De acordo com o economista, para virar a nota de crédito e alcançar o grau de investimento, este ou o próximo governo terão de fazer um ajuste fiscal mais duradouro e importante, com medidas como desvinculação do salário mínimo da Previdência Social, medida descartada pelo chefe do Executivo neste ano.
“A gente vai precisar voltar nessa questão em 2027. Esse salto adicional [da nota de crédito] vai depender de um esforço fiscal muito maior do governo”, diz Vale.
Na visão de Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank, para elevar a nota de crédito para o grau de investimento –nível considerado seguro e com baixos riscos de calote para quem investe em títulos de dívida, o Brasil deverá estabilizar ou reverter a dívida pública, além de manter o ritmo de crescimento e continuar com a inflação controlada.
Salles diz ser importante avançar na reforma administrativa e melhorar o grau de abertura da economia, com maior fluxo comercial entre o Brasil e outros países.
Paulo Gala, economista-chefe do banco Master, afirma que o upgrade do Brasil pela Moody’s é razoável e que o país está bem se comparado a pares internacionais como Argentina, México e Índia. Ele chama atenção, no entanto, para o resultado das despesas públicas.
O saldo das contas do governo central no primeiro semestre foi um déficit de R$ 68,7 bilhões, o pior resultado para o período desde 2020, quando a pandemia levou a um rombo de R$ 544,1 bilhões nos primeiros seis meses do ano.
Com o crescimento econômico observado no país, no entanto, tudo fica mais fácil, diz Gala. Ele acredita que o Brasil não está longe do grau de investimento, o que deve acontecer nos próximos dois anos, segundo o analista.
“A gente não está muito longe disso. Basta honrar o arcabouço fiscal e apresentar alguns controles de despesa.”
Felipe Miranda, da Empiricus, também chama atenção para a questão fiscal. Além disso, ele diz que as agências de classificação de risco não têm mais a mesma credibilidade e impacto sobre o mercado.
“Eu não acho que isso representa uma mudança de paradigma importante em relação ao Brasil. Ao contrário, precisamos de uma medida crível e robusta de atenção sobre os gastos fiscais brasileiros. É uma notícia boa, mas com impacto marginal”, afirma.
Em nota, o banco Fator citou a preocupação da Moody’s com a credibilidade fiscal. “Serve como suporte à agenda de Haddad [Fazenda]. Lula, que visitou a agência em NY outro dia, deve estar feliz”, escreveu o banco.
Segundo o Fator, a decisão da agência de elevar a nota de crédito deve ser vista como um pouco precipitada por analistas.
PAULO RICARDO MARTINS / Folhapress