SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Pouco mais de um quarto dos transplantes de coração realizados no Brasil desde o início do ano ocorreu com menos de um mês de espera após entrada de paciente na fila. A contagem não inclui caso do apresentador Faustão, que neste domingo (27) passou por cirurgia para receber novo órgão, após quadro de insuficiência cardíaca.
De acordo com o Ministério da Saúde, 72 pacientes transplantados neste ano aguardaram menos de 30 dias antes de receber um novo coração. O número corresponde a 28% dos 261 transplantes cardíacos realizados pelo SUS em 2023. Em apenas 38 casos o tempo de espera foi maior que um ano.
A agilidade no transplante de coração do apresentador Fausto Silva é explicada pelo quadro clínico do paciente, que enfrentava insuficiência cardíaca grave. O grau de urgência é um dos critérios que definem prioridades na lista de espera por um órgão e se sobrepõe à ordem de cadastro.
Faustão foi internado no início do mês no hospital Albert Einstein, em São Paulo, e estava fazendo diálise devido a um choque cardiogênico -quando o coração perde a capacidade bombear sangue para os órgãos e o paciente depende de medicamentos para isso.
Segundo o cardiologista João Vicente, do hospital Sírio-Libanês, casos como o do apresentador inspiram urgência pois a demora pode tornar o quadro ainda mais complexo e até irreversível. “Ele já estava em choque cardiogênico. Se essa condição persiste, talvez tivesse que ser intubado. Isso aumenta a chance de pneumonia, infecção que poderia inviabilizar o transplante”, disse o médico.
De acordo com os critérios de priorização, Faustão era o segundo na fila para receber um coração em São Paulo, mas a equipe médica do paciente que ocupava a primeira posição decidiu recusar o órgão neste domingo. O motivo não foi divulgado.
A esposa do apresentador, Luciana Cardoso, divulgou nesta segunda que ele foi incluído na lista de espera pela doação do órgão no dia 8 de agosto. “Desde o primeiro dia de internação de emergência já sabíamos da necessidade do transplante. Depois dos exames do painel de anticorpos e outros detalhes médicos, Fausto foi incluído na lista no dia 08/08/2023”, disse Cardoso em uma rede social.
Atualmente, 379 pacientes aguardam na fila para transplante de coração no Brasil. Em todo o país, o órgão com maior demanda para transplante é o rim, com 37.101 pessoas na fila de espera. A córnea está em segundo lugar, com 25.938, e o fígado na sequência, com 2.237.
A fila é única em todo o país, e se baseia em critérios técnicos, como tipo sanguíneo, compatibilidade genética e de peso e altura, além da gravidade de cada caso. Não há distinção entre pacientes da rede pública ou particular de saúde, e a ordem de cadastro funciona como critério de desempate quando demais parâmetros são semelhantes.
TEMPO DE ESPERA POR TRANSPLANTE DE CORAÇÃO
Menos de 30 dias: 72 pessoas (27,5%)
De 30 a 90 dias: 65 pessoas 24,8%)
De 3 a 6 meses: 39 pessoas (14,8%)
De 6 meses a 1 ano: 48 pessoas (18,3%)
Mais de 1 ano: 38 pessoas (4,5%)
“Quem está cadastrado e com quadro clínico estável, em casa, vai para o fim da fila”, explica Vicente. Segundo o médico, a lista de espera por outros órgãos, como rim e córnea, pode ser mais mais demorada, já que o risco de complicação ao paciente frequentemente é menor. “Com o coração é diferente, porque o paciente fica sob instabilidade muito grande. É sempre uma condição grave”, acrescentou.
O Brasil, segundo o Ministério da Saúde, tem o maior programa público de transplante de órgãos, tecidos e células do mundo, que é garantido a toda a população por meio do SUS, responsável pelo financiamento de cerca de 88% dos transplantes no país.
Até esta segunda-feira, 11.908 transplantes de órgãos foram realizados no país, sendo 6.269 de córnea, 3.760 de rim e 1.497 de fígado.
A rede pública de saúde fornece aos pacientes assistência integral e gratuita, incluindo exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos pós-transplante.
De apenas uma pessoa podem ser doados rins, fígado, coração, pulmões, pâncreas, intestino, córneas, valvas cardíacas, pele, ossos e tendões. Com isso, inúmeras pessoas podem ser beneficiadas com os órgãos e tecidos provenientes de um mesmo doador.
LEONARDO ZVARICK / Folhapress