Esposa descobre demência, e casal decide morrer em ‘cápsula da eutanásia’

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Os britânicos Christine e Peter Scott, de 80 e 86 anos, decidiram morrer juntos em uma “cápsula da eutanásia” na Suíça após a esposa ser diagnosticada com demência em estágio inicial.

Casal relata medo de sofrer por anos e perder economias. Em entrevista ao tabloide britânico Daily Mail, os dois disseram ter receio de depender do “falido” sistema público de saúde do Reino Unido (NHS, equivalente ao SUS) e acabar gastando todo o dinheiro que juntaram ao longo da vida para pagar pelos cuidados de Christine.

Casados há 46 anos, eles dizem esperar que a decisão dê força à campanha pela legalização da morte assistida no Reino Unido. Os filhos, segundo o casal, respeitaram sua decisão “relutantemente”.

“Tivemos vidas longas, felizes, saudáveis e realizadas”, diz Peter. Mas a velhice, completa o engenheiro aposentado, “não traz nada de bom para você”.

“A ideia de assistir à lenta degradação das habilidades mentais de Chris e, paralelamente, ao meu próprio declínio físico é horrível para mim. Não quero ir para um asilo, ficar deitado na cama babando e com incontinência -não chamo isso de vida”, argumenta Peter.

Christine conta já ter planejado seus últimos dias ao lado do marido. A enfermeira aposentada diz que quer caminhar com Peter pelos Alpes Suíços, comer “um belo prato de peixe” e beber uma garrafa de vinho merlot ao som de Wild Cat Blues, de Chris Barber, e The Young Ones, de Cliff Richard. As músicas são especiais para o casal, que se apaixonou à primeira vista em um clube de jazz.

“Levo uma vida ótima, mas tenho esse diagnóstico, e isso cristalizou nosso pensamento. A medicina pode retardar a demência vascular, mas não pode pará-la. No momento em que pensei que estava me perdendo, eu disse: ‘É isso, Pete, não quero ir mais longe do que isso”, disse Christine Scott, 80.

“Obviamente, eu cuidaria dela até não poder mais, mas ela cuidou de pessoas com demência o suficiente ao longo de sua carreira [como enfermeira] para ser irredutível na vontade de permanecer no controle de si mesma e de sua vida. A eutanásia dá a ela essa oportunidade, e eu não gostaria de continuar vivendo sem Christine. (…) A morte não é nenhum problema para mim”, disse Peter Scott, 86.

CÁPSULA DA EUTANÁSIA

Ambos estão em processo de inscrição no The Last Resort. É uma organização sem fins lucrativos fundada na Suíça com o objetivo de diversificar e melhorar a eutanásia no país. O processo é feito na cápsula Sarco, que oferece uma morte indolor, sem o uso de drogas e de graça para pessoas em idade avançada, com doenças graves, crônicas ou terminais e demência.

Cápsula funciona substituindo a composição do ar dentro dela. A Sarco injeta nitrogênio -um gás incolor, sem cheio, sem gosto e não letal-; para criar um ambiente pobre em oxigênio, fazendo com que a pessoa perca rapidamente a consciência e pare de respirar. O processo é ativado por um botão pelo próprio paciente e dura menos de dez minutos.

No Brasil, diferentemente da Suíça, a eutanásia é ilegal. A prática configura homicídio, que tem pena prevista de seis a 20 anos de prisão. A punição para quem causa a morte de um paciente pode ser reduzida em um sexto a um terço se for comprovado que o procedimento foi feito “por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção”, segundo o Código Penal.

Redação / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTICIAS RELACIONADAS