SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ramon Menezes tinha 23 anos quando o então meio-campista deixou o Vitória rumo ao Bayer Leverkusen, da Alemanha. No Brasil, ele já havia vestido as camisas de Cruzeiro e Bahia, e tinha seis anos de carreira profissional quando mudou-se para o futebol europeu.
Hoje, o técnico da seleção brasileira olímpica vê jogadores deixarem o país ainda mais jovens. Dos 23 que ele convocou para dois amistosos em setembro, ambos contra a equipe sub-23 de Marrocos, 11 atuam no exterior. A média de idade dos expatriados é de 21 anos, sendo que três deles têm apenas 19.
“A nossa preocupação é com a adaptação deles”, afirma Ramon à reportagem. Para ele, uma dificuldade comum enfrentada pelos jovens é saber adequar suas expectativas sobre o futebol europeu.
“Por vezes, é melhor o atleta entender a atmosfera e tudo que envolve o clube [antes de mudar]. Chegando lá muito cedo, esse processo pode até mesmo ser em um time sub-23 ou equipe B, como fazem em alguns clubes”, indica o técnico.
O lateral-direito Vinicius Tobias, 19, é um bom exemplo disso. Convocado para os próximos compromissos da seleção olímpica, ele foi vendido pelo Internacional ao Shakhtar Donetsk em julho de 2021, pouco antes de completar 18 anos.
Ele ingressaria no clube ucraniano em fevereiro do ano passado, pouco depois de atingir a maioridade. No entanto, teve de ser emprestado sem nem estrear pelo novo clube por causa da guerra no país. Em abril de 2022, ele se juntou ao Real Madrid, mas foi designado para o Castilla, o time B do clube espanhol.
“O Tobias vem jogando muito bem no Castilla”, elogia Ramon. “Mas essa expectativa criada, de já chegar e jogar no time principal e ser contratado, com uma expectativa muito grande, é o que mais acontece. E, por vezes, dentro de campo, você não consegue realizar tudo que se espera”, alerta.
Trata-se, contudo, de uma situação normal e até natural pela mudança de país para uma cultura diferente, com outra língua e outros costumes, além da rotina de cada clube.
Alguns atletas, porém, não sofrem com isso. “Nós estamos trazendo agora, por exemplo, o Igor Paixão. Ele vem muito bem, parece que nem precisou de adaptação. Está muito bem no Feyenoord, da Holanda, e vem fazendo gols”, cita o comandante da seleção.
Jogadores como eles são vistos como fundamentais pelo técnico na formação de um elenco competitivo para os próximos dois compromissos da seleção olímpica, os Jogos Pan-Americanos de Santiago, no Chile, em outubro, e o torneio pré-olímpico, que deverá ser realizado na Venezuela, no começo de 2024.
Segundo Ramon, o elenco que ele levará para os amistosos em setembro está praticamente fechado para também representar o Brasil no Pan. Com menos de um ano para os Jogos Olímpicos de Paris, o grupo já tem a cara do plantel que será levado caso o Brasil conquiste a vaga olímpica.
“Essa convocação de agora já é basicamente a cara do que a equipe deve ter, não deve fugir muito do que está aqui. Essa é a cara do Brasil”, afirma.
Para chegar a esse grupo, o treinador observou 168 jogadores, listados no que ele chama de “caderno radar”. Estão nessa lista, por exemplo, Endrick, do Palmeiras, e Moscardo, do Corinthians, ambos com chances de pintar no grupo final, embora tenham ficado fora da atual lista.
“O Moscardo vem bem entre os profissionais, já é titular do Corinthians e está sendo observado por vários clubes”, comenta o treinador.
Com a qualidade da atual safra de jovens talentos, Ramon está confiante de que a seleção brasileira tem grandes chances de conquistar a terceira medalha de ouro consecutiva, nos Jogos de Paris, alcançando uma série inédita na história do futebol olímpico masculino.
“É uma responsabilidade grande, mas a gente está consciente disso.”
A conquista seria a mais importante da carreira dele como treinador. À frente da seleção brasileira sub-23 desde julho, ele tem em seu currículo a conquista do Campeonato Sul-Americano sub-20 deste ano.
No primeiro semestre, o técnico teve ainda uma breve experiência na seleção brasileira principal após a saída do técnico Tite, que deixou a equipe depois do fracasso na Copa do Mundo no Qatar.
Ramon comandou o grupo em três amistosos, venceu a Guiné (4 a 1), mas perdeu para Marrocos (2 a 1) e Senegal (4 a 2). “Só o contato com esses jogadores aumenta sua capacidade de gerir [um grupo], a gestão do dia a dia, foi uma experiência muito importante.”
LUCIANO TRINDADE / Folhapress