WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Depois de passar cinco dias detido pela imigração americana, o estudante Marcelo Gomes, 18 anos, foi solto nesta quinta-feira (5) após a primeira audiência com um juiz no estado.
Em entrevista a jornalistas após ser libertado, ele relatou que ficou em condições precárias num centro de detenção da imigração em Burlington.
“Eu não quero chorar, mas quero dizer que esse lugar não é bom. Desde que cheguei lá, fiquei algemado. Eles me colocaram no subsolo, e eu fiquei em uma sala com um monte de homens de 35 anos. E essas salas eram pequenas em comparação com a quantidade de homens que havia lá. Tinha cerca de 40 homens naquela sala”, disse.
Aluno do terceiro ano do ensino médio da Milford High School, ele foi detido por agentes da imigração no último sábado (31) a caminho de um treino de vôlei.
“A gente mal recebia atenção das pessoas que trabalhavam lá. Era muito difícil. Eu não tomo banho há seis dias. Não fiz nada. A única coisa que eu podia fazer era agradecer a Deus todos os dias, porque era só isso que eu fazia. Eu rezava lá”, diz, sobre o local onde ficou detido.
O pai dele, João Paulo Gomes Pereira, já havia dito à Folha que o rapaz estava em situação crítica no centro de detenção.
O rapaz foi libertado depois do pagamento de uma fiança de US$ 2.000, mas ainda enfrentará um processo de deportação por ter sido pego sem documentos nos EUA.
A audiência desta quinta foi com um juiz de imigração de Chelmsford. Centenas de colegas de Marcelo se aglomeraram ao redor do local onde ocorreu a audiência para protestar por sua soltura.
Os pais de Marcelo não foram ao local por receio. Ambos estão irregulares nos EUA e agora estão com medo de serem presos pela imigração. Os dois estão sem sair de casa desde sábado. No período, o pai de Marcelo, disse que ficou sem chão. A família também divulgou um vídeo em inglês pedindo a soltura do jovem.
A advogada de Marcelo, Robin Nice, disse a jornalistas que foi uma vitória, mas parcial, “porque ele não deveria ter sido detido em primeiro lugar.” Agora, ela diz que buscará asilo ao rapaz, que chegou aos EUA aos seis anos com os pais.
Ela ainda afirmou que na quarta-feira Marcelo foi ao hospital porque estava preocupado de que poderia ter tudo uma concussão sofrida antes de ser detido.
A governadora de Massachusetts, Maura Hayley, afirmou em uma nota após a audiência de Marcelo estar aliviada com a decisão.
“Estou aliviada por saber que Marcelo voltará para casa com seus pais, irmãos, colegas de classe e para a comunidade de Milford. Este foi um momento muito traumático para essa comunidade, e espero que encontrem algum conforto em saber que o estado de direito e o devido processo legal ainda prevalecem”, afirmou Healey.
“Não é aceitável que estudantes em todo o estado tenham medo de ir à escola ou ao treino de esportes, e que pais precisem se perguntar se seus filhos voltarão para casa no fim do dia”, continuou.
Segundo o pai de Marcelo, a governadora telefonou para a família na quarta (4) oferecendo assistência. O consulado do Brasil em Boston também se colocou à disposição para ajudar com gastos financeiros e jurídicos.
Marcelo mora nos EUA com os pais e os dois irmãos mais novos, de 7 e 9 anos, já nascidos nos EUA.
A família mudou-se há 12 anos para o país. Segundo o pai do estudante, ele a mulher viajaram a princípio para os Estados Unidos para visitar parentes residentes no país. Alguns meses depois, os pais conseguiram vistos de estudantes, mas, quando os documentos expiraram, eles optaram por permanecer no país, mesmo em situação irregular.
A prisão de Marcelo faz parte de uma ofensiva de Donald Trump para promover a maior deportação de imigrantes em situação irregular da história dos EUA.
Depois que o estudante foi detido, agentes da imigração afirmavam que buscavam na verdade o pai dele, que teria infrações por direção no estado. Pereira afirma, no entanto, que em momento algum os oficiais de imigração perguntaram dele ao filho.
JULIA CHAIB / Folhapress
