SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Estudantes e a Polícia Militar entraram em confronto na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) nesta sexta-feira (20), quase dois meses após o início de uma ocupação contra mudanças nas regras para concessão de bolsas e auxílios de assistência estudantil. Há denúncias de agressões e prisões arbitrárias.
A confusão nesta quinta-feira (19). Dezenas de seguranças da instituição estiveram na unidade Maracanã, na zona norte carioca, para cumprir uma ordem judicial de desocupação do espaço. Manifestantes estavam acampados no local desde 26 de julho.
Segundo a Uerj, muitos aceitaram deixar o local nesta quinta, mas “um pequeno grupo, com ação violenta, tentou perturbar a liberação pacífica”. Mascarados, descreve a instituição em nota, teriam tentado invadir o campus para impedir o despejo e ofereceram resistência violenta.
Foi quando agressões foram registradas. Em vídeos, seguranças tentam agarrar, dão socos e arrastam alunos pelas pernas. No fim, a ocupação foi mantida.
O movimento estudantil convocou então uma manifestação em frente ao campus Maracanã para esta sexta a fim de impedir nova tentativa de expulsão. Centenas de graduandos compareceram. Em resposta, a PM foi acionada e o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro emitiu nova decisão de reintegração, com aplicação de multa diária de R$ 10 mil.
A Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que seus agentes atuam para cumprimento da ordem judicial. O Batalhão de Choque atua por terra, e o Grupamento Aeromóvel sobrevoa a região.
Confrontos foram registrados em poucas horas. Os manifestantes colocaram fogo em pneus para impedir a passagem das tropas numa das vias próximas à Uerj. Em resposta, policiais jogaram bombas de efeito moral, entraram na universidade e retiraram os presentes à força.
Ao menos cinco prisões foram realizadas. Foi o caso do deputado federal Glauber Braga (PSOL), que estava no local para tentar mediação entre os manifestantes e o poder público, mas acabou colocado em um camburão e conduzido a uma delegacia.
“É extremamente intransigente a postura da reitoria, de Cláudio Castro [governador] e da Justiça ao criminalizar o movimento estudantil e agora dar um novo salto exigindo o uso da força policial. Essa medida foi o auge de uma permanente negativa em resolver o impasse que esteve colocado”, diz o comando central da ocupação em nota.
A PM, segundo eles, está realizando uma caça às bruxas no entorno da universidade, perseguindo, humilhando e agredindo alunos.
ENTENDA A OCUPAÇÃO DA UERJ
Estudantes da Uerj ocuparam em 26 de julho o campus Maracanã em protesto contra cortes e mudanças nos programas de auxílio permanência da instituição a partir deste semestre.
Havia uma bolsa-material de R$ 600 reais semestrais, para financiar livros e impressões, agora reduzida à metade. Um auxílio-alimentação de R$ 300 foi extinto para alunos dos campi com restaurante popular. E uma bolsa permanência de R$ 706, antes elegível a alunos com renda familiar per capita de até 1,5 salário mínimo, hoje vale apenas para os que vivem com até meio salário.
Com as reformas, estima-se que 1.400 alunos percam amparo da universidade.
A Uerj justifica a ação afirmando enfrentar “dificuldade de obter os recursos necessários” ao funcionamento dos programas. “As bolsas de apoio à vulnerabilidade foram criadas de maneira emergencial no período da pandemia e que, no contexto atual de insuficiência orçamentária,
Em entrevista à Folha de S.Paulo em 8 de agosto, a reitora da Uerj, Gulnar Azevedo e Silva, disse que se a medida for revogada, como pedem os estudantes acampados no campus, há risco de “perder tudo” por falta de recursos para custeio das bolsas.
“Quando assumi a reitoria, em janeiro deste ano, a situação já era difícil. Necessitava de uma engenharia financeira. Esticamos a distribuição até julho, mas o orçamento acabou”, afirmou Silva.
Uma equipe designada pela gestão da Uerj se reuniu várias vezes com representantes do Diretório Central dos Estudantes e dos centros acadêmicos das unidades e apresentou uma proposta para encerrar a crise. Ela não inclui, porém, a revogação da reforma, o que pedem os manifestantes.
A universidade ressalta estar aberta ao diálogo, “ao contrário dos manifestantes que seguem irredutíveis na postura de não negociar, agindo de maneira antidemocrática”, afirma.
BRUNO LUCCA / Folhapress