Estudo alerta para baixa cobertura vacinal de portadores de HIV contra Mpox no Brasil

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma pesquisa da UFAL (Universidade Federal de Alagoas) publicada na Revista Brasileira de Enfermagem nesta sexta-feira (25) mostrou que, com um mês de vacinação, somente 18,3% da população que vive com HIV e é imunossuprimida foi vacinada contra o vírus da mpox. A maior parte dos vacinados eram homens.

O estudo analisou dados disponíveis no DataSUS da vacinação em pessoas com HIV e imunossuprimidas até abril de 2023. A campanha de vacinação do Ministério da Saúde contra a doença começou em 13 de março do mesmo ano. A pasta comprou e distribuiu 49 mil doses até outubro de 2023.

Até então, mais da metade das vacinas compradas contra a doença estava encalhada nos estados. Nessa época, foram aplicadas 21.967 doses das 50 mil adquiridas.

Em nota enviada à Folha de S.Paulo, a pasta afirmou que, até o momento atual, o número de doses aplicadas totalizou 31.508. No último ano, somente 9.541 doses da vacina foram utilizadas. O Ministério afirmou ainda que a análise ou projeção da cobertura vacinal fica impossibilitada já que “o estudo é de abril de 2023, somente um mês após o início da vacinação, quando poucas doses haviam sido aplicadas”.

Inicialmente, a vacinação era somente para portadores de HIV considerados imunossuprimidos, que são aqueles com a contagem de linfócitos T CD4 inferior a 200 células nos últimos seis meses, como explica Núbia Tavares, mestre, enfermeira e uma das pesquisadoras que conduziu o estudo. O público foi posteriormente ampliado para todas as pessoas que vivem com HIV e também para quem está em situação de PrEP (Profilaxia Pré-Exposição ao HIV).

Segundo os pesquisadores, no momento em que o panorama mostra baixas coberturas vacinais contra uma doença importante como a Mpox, surge um alerta sobre a necessidade de buscar ativamente o público vulnerável, como as PVHA (Pessoas Vivendo com HIV/Aids), devido ao aumento do risco de desenvolvimento de formas graves da doença.

A Mpox é transmitida por contato e geralmente é leve, mas pode ser fatal em casos raros. Causa sintomas semelhantes aos da gripe e lesões cheias de pus no corpo.

“Os dados obtidos destacam a necessidade de identificar as regiões onde as coberturas vacinais estão abaixo do recomendado, com o objetivo de manter processos contínuos e permanentes de planejamento, aumentando a vigilância e elaborando estratégias de intervenção oportunas para alcançar os indivíduos não vacinados e manter um cenário epidemiológico seguro”, diz o estudo.

Os pesquisadores também notaram um baixo índice de conclusão do esquema vacinal. A falta de conhecimento sobre a importância da vacinação, a falta de interesse, o medo da injeção intramuscular, a falta de tempo e o medo dos efeitos colaterais estão entre os principais motivos relacionados a esse fenômeno.

Não é possível afirmar, no entanto, se são casos de abandono do esquema vacinal ou se o intervalo de 30 dias entre as doses, preconizado pelo Ministério da Saúde, interfere diretamente ou indiretamente, pois a análise dos dados ainda não havia sido concluída até a data do estudo, uma vez que os dados disponibilizados não permitem precisar a data de início dos esquemas.

Em 2023, Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, disse que a estratégia de vacinação teria como objetivo principal a proteção dos indivíduos com maior risco de evolução para as formas graves da doença.

“Tínhamos poucas doses, pois só há um fabricante no mundo, mas conseguimos direcionar para quem se beneficiará mais da vacina, tudo definido com a CTAI [Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização]”, afirmou a secretária.

Segundo o monitoramento do Ministério da Saúde, até setembro de 2023, a população vivendo com HIV ou Aids representou 38,2% (165) dos 526 casos notificados, confirmados ou prováveis de Mpox. O estudo mostrou que, até abril de 2023, somente 18,3% da população vivendo com HIV havia sido vacinada, o que corresponde a 2.978 doses aplicadas.

A região Sudeste teve o maior percentual de cobertura vacinal, sendo 32,8%; e a região Sul o menor, com 3,5%. Estados como Espírito Santo, Mato Grosso e Rio Grande do Norte não haviam aplicado nenhuma dose da vacina contra mpox em pessoas com HIV até a data analisada.

Na época, a pasta, em nota, afirmou que as vacinas já haviam sido distribuídas aos estados. “Cerca de 47 mil doses foram enviadas aos estados. Destas, 21.967 já foram aplicadas. O Ministério da Saúde trabalha em ações para que todas as doses sejam utilizadas dentro do prazo de validade”, disse.

Em relação ao gênero, em todas as regiões do Brasil, a porcentagem de homens vacinados foi maior do que a de mulheres. A maior discrepância foi no Sul onde, dentre as pessoas com HIV vacinadas, 97,3% eram homens e 2,7% mulheres.

Segundo Tavares, “esse resultado diverge da maioria dos estudos existentes sobre a adesão aos serviços de saúde quando se avalia os diferentes sexos. O que a maioria das pesquisas trazem é que a mulher tem uma melhor adesão aos serviços de saúde do que os homens”.

A pesquisadora afirma que os motivos da taxa de vacinação ter sido maior em homens também foram questionados pelos demais autores do estudo, porém “ainda com esse estudo não foi possível identificar a causa, porque os nossos dados são muito objetivos, são numéricos”.

Desde setembro de 2023, uma nova variante do vírus mpox, denominada cepa 1b, foi identificada e associada a um aumento significativo de casos na República Democrática do Congo. O surto, provocado por uma mutação mais letal do vírus, colocou o mundo novamente em alerta.

Pela segunda vez em dois anos, a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou a Mpox uma emergência de saúde pública global, em 14 de agosto de 2024. Essa nova forma do vírus parece ser altamente transmissível, mais letal e comprometer com maior gravidade os órgãos vitais, aumentando o risco de óbito.

JULIANA MATIAS / Folhapress

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