Etiqueta deveria ser currículo escolar, diz Fátima Scarpa, irmã de Chiquinho, o inimigo dos pobres

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quem é familiarizado com o seriado ‘Friends’ deve se lembrar da personagem de Courteney Cox, Monica Geller, separando seus aparelhos de jantar em várias categorias: dia a dia, visita, visita chique, visita especial e visita da rainha Elizabeth 2ª.

Para a socialite e consultora de etiqueta Fátima Scarpa, que cresceu em meio a jantares e festas com convidados da alta sociedade, nada disso é necessário. Fino mesmo é usar seu faqueiro de prata até para comer um brigadeiro de panela.

Filha do industrial Francisco Scarpa, herdeiro do fundador do grupo Votorantim e da antiga cervejaria Rio Claro, e da socialite Patsy Scarpa, Fátima (Fafá, para os íntimos) cresceu obedecendo às mais estritas regras de etiqueta. Hoje, se considera flexível, mas passa adiante o conhecimento do “traquejo social” adquirido em família em uma página no Instagram na qual acumula mais de meio milhão de seguidores.

“Meu pai e minha mãe eram exemplo de educação e de bem receber. Tenho orgulho de ter captado tudo isso”, diz, em entrevista ao F5. “Meu pai não admitia que se pedisse um copo d’água para os empregados sem dizer por favor e obrigado. Se não pedíssemos por favor, não era nem para trazerem”, lembra ela. Francisco Scarpa viveu 103 anos e teve com a mulher, Patsy, três filhos: Fátima, Chiquinho e Renata.

Um dos filhos de Renata, Eduardo Scarpa Julião, casou-se com a herdeira Caroline Celico, ex-mulher do jogador de futebol Kaká. Foi Celico quem introduziu Fátima no mundo das redes sociais.

“Meu afilhado Eduardo me pediu ajuda para organizar a prataria. Quando cheguei estava uma confusão: vários conjuntos diferentes de louça, copos, talheres. Ele deixou duas pessoas à minha disposição e falou que eu podia fazer o que quisesse. Joguei tudo fora, perguntei onde estavam o faqueiro de prata e a porcelana inglesa que ele herdou da avó e falei: ‘São estes que você vai usar’. Não temos que guardar o melhor para as visitas, temos que usar no dia a dia”, afirma, convicta.

Carol Celico gostou da dica e convidou Fafá para participar de um vídeo em seu canal. O sucesso foi tanto que ela decidiu profissionalizar as próprias redes. Fafá já conta, no total, com 650 mil seguidores no Instagram e 160 mil no TikTok, tem vinhetas e identidade visual próprias e dispõe de uma equipe de assessores preparados para blindá-la de qualquer saia justa.

SABER MANDAR

“Etiqueta e educação deveriam ser ensinados na escola”, defende Fafá. “Existe uma carência disso no mercado”, atenta ela, que, no entanto, prefere passar os ensinamentos apenas em sua casa. “Eu treino meus empregados e só. Já me pediram para ensinar, mas não faço, de jeito nenhum. É uma coisa tão trabalhosa e chata ter que explicar tudo”, diz. “Ensino só para os meus”.

A regra número um de Fafá na hora de treinar sua equipe é saber fazer as tarefas. Com ela não tem esse papo de ficar só na teoria. “Se você não sabe fazer, você não sabe mandar”, ensina. “Eu sei fazer tudo, sei até lavar carro, se precisar”, diz.

Fafá se orgulha de ter os mesmos funcionários há décadas e considera sua equipe enxuta. “Hoje não é como antigamente, que tinham vários empregados, as coisas eram muito mais fáceis. Não faz mas sentido ter aquele bando de gente que tinha antes”, conta ela, que dispensou a cozinheira quando se deu conta de que estava fazendo todas as refeições fora de casa. “Ela reclamava que não tinha nada para fazer”.

“Meu guarda e meu motorista estão comigo há 40 anos e minha copeira e arrumadeira estão há 20. Eu que ensino tudo, e não adianta chegar aqui dizendo que ‘na casa de Fulano faziam assim’. Não quero nem saber como era na outra casa. Até prefiro pegar uma pessoa que não sabe nada, que chegou da Bahia ontem, porque daí eu ensino do meu jeito”, diz.

JUNTO E MISTURADO

Em recente entrevista a um podcast, Chiquinho Scarpa falou sem cerimônia da ojeriza que sente por quem não tem dinheiro. “Eu não gosto da pobreza. Todo pobre vive pedindo alguma coisa. A pior coisa do pobre é você chegar e dizer: ‘Como vai?’ Aí você está frito. Ele fica meia hora destilando todos os problemas”, disparou.

Nesta sexta (7), Chiquinho veio a público se justificar. “O podcast é um programa de humor, lamento muito pelo transtorno e pelas interpretações sobre o personagem que atuei durante a entrevista”.

Fátima se diz uma entusiasta da distribuição de renda. “Por um lado, eu gosto das mudanças do mundo. Acho bom não termos mais aquela diferença tão grande entre as pessoas. Antes existia muita distância entre quem tinha dinheiro e quem não tinha. Hoje é tudo muito misturado. Acho ótimo”, diz.

“Agora, o que não suporto é falta de respeito. Odeio que falem palavrão. Palavrão para mim é o fim da picada. A falta de educação me incomoda muito. Não sou nenhuma expert em português, mas falar ‘vamo’, ‘tamo’, eu acho complicado”.

O que Fátima diz valorizar vai além da conta bancária. Para ela, respeito não se compra: se aprende. “Tem gente muito rica sem a menor educação. E ainda dizem que o que importa é ter dinheiro. Acho que não é por aí, não”, protesta.

MULHER NÃO SE DIRIGE AO GARÇOM

Em alguns de seus posts recentes, a socialite contracena com Chiquinho. Geralmente, na série “Fafá Ensina”, em que sai de sua casa para mostrar como se portar em ambientes públicos, tendo o irmão como coadjuvante. Em um dos vídeos, ela dá uma aulinha sobre o local correto para deixar o guardanapo quando, em um restaurante, o comensal precisar sair da mesa: “Em cima da cadeira”; cadeira esta puxada com delicadeza pelo irmão.

Em outro post, comete o pecado de dirigir-se diretamente ao garçom. “Eu gostaria de uma Pêra-Manca”, pede o vinho, assim mesmo, no feminino, ao funcionário do lugar. Erro grave. ‘Fátima, nunca se dirija ao garçom”, recrimina Chiquinho, em tom monocórdio.

“Quem tem que pedir as bebidas é sempre o homem”, diz, demonstrando como se faz: “Então, por favor, um vinho Pêra Manca branco”. Ele também solicita ao funcionário da casa uma água sem gás “para a Fátima”, e uma com gás para si. “É evidente que se só estiverem mulheres na mesa, cada uma vai pedir sua bebida. Mas sempre que estou com um homem, peço a ele”.

São deslizes comuns, que Fátima diz relevar. Já usar o celular à mesa, isso não dá para aturar. A socialite considera o hábito rude e inadmissível. E cita um episódio recente, quase eclipsado por mais uma falta de educação da mesma família, em cenas que a deixaram irritadíssima.

“Outro dia, estávamos jantando no Caviar Kaspia [Jardins] e na mesa ao lado tinha um pai com o filho. Pediram uma quantidade enorme de caviar para duas pessoas, o que já está errado. O rapaz e o pai não saíam do telefone. Um não falava com o outro. O pai se serviu do caviar, colocou o creme com a faca em vez da colher e ainda lambeu a lâmina”, conta, horrorizada.

“Mas eu não vou mudar ninguém”, suspira. “É natural, a vida vai mudando. A gente não pode querer que fique tudo do mesmo jeito. Tenho que me adaptar.”

Viúva de Wladimir Nikolaef, Fátima mora com a filha Patsy, o genro e o neto de nove anos. “A gente tem que escutar os jovens para não ficar por fora das coisas. Meu neto é muito educado, nunca ouvi esse menino gritar”, orgulha-se.

ANAHI MARTINHO / Folhapress

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