WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O eclipse virou uma desculpa para americanos fazerem festa nesta segunda-feira (8). Eventos gratuitos e pagos, em diversas cidades, foram organizados para assistir o fenômeno. Entre as atrações, experimentos científicos, pipoca de graça e até brincar com golden retriviers.
Em Cambridge, Massachusetts, a cidade organizou um evento chamado “Total Eclipse of the Park”, uma brincadeira com a clássica música “Total Eclipse of the Heart”. O nome não está totalmente correto, já que o eclipse será parcial -93% de cobertura do Sol-, mas ainda assim, atraiu centenas de pessoas no parque Kingsley.
As primeiras pessoas começaram a chegar por volta das 13h (hora local) trazendo cobertores, toalhas de piquenique e cadeiras. A organização do evento prometeu distribuir gratuitamente óculos adequados para assistir ao eclipse.
Segundo o guarda-florestal Tim Puopolo, um dos coordenadores da festa, foram encomendados mil óculos para serem distribuídos a partir das 14h -mas, uma hora antes disso, ele já se mostrava ansioso se a quantidade seria suficiente.
Além da atração principal da tarde, a cidade montou uma programação com uma banda folk, um telescópio, experimentos científicos sobre o universo para crianças, artesanatos e pipoca de graça.
A concorrência na área não estava de brincadeira: outro evento, em uma fazenda de cachorros da raça golden retrivier, oferecia o combo de ver o eclipse e brincar com os bichos.
Para os mais blasés -Cambridge, afinal, é sede de Harvard e do MIT-, foram organizadas também festas em terraços de hotéis e restaurantes com drinks comemorativos do eclipse.
Para quem não conseguiu fazer nenhuma programação, ainda havia a opção de ver simplesmente da rua -camelôs montaram barraquinhas vendendo óculos a US$ 5 (R$ 25).
As brasileiras Maryana Dalmeida, 34, e Maria Clara Macena, 32, chegaram animadas ao parque Kingsley pouco depois das 14h. Estudantes de odontologia na Boston University, elas chamaram a sala inteira da faculdade para acompanhar o eclipse -por sorte, tiveram uma tarde livre de aulas nesta segunda.
“Não sei se tô acreditando que vai ficar tudo tão escuro”, diz Maria Clara. “Estou curiosa para ver quão ‘dark’ vai ficar”, completa um colega brasileiro.
“É uma experiência muito americana ver isso do parque”, afirma Maryana.
Vinicius Ludovico, 42, veio ao parque com a filha, Selma, de 5 anos. Engenheiro de projetos, ele mora em Cambridge há oito anos e conseguiu negociar uma tarde livre do trabalho para assistir o eclipse.
Ele diz que pensou em ir a New Hampshire, estado próximo de Massachusetts onde o eclipse será total, mas se desanimou imaginando o trânsito para lá.
É o segundo eclipse que ele verá na vida e o primeiro de Selma.
Os brasileiros comemoravam o clima ensolarado da segunda, após um final de semana frio e chuvoso.
A americana Kay, no entanto, contrastava com o clima de festa. Ao ser abordada pela reportagem, ela se mostrou a princípio hesitante: não quis dizer o sobrenome, falou que estava sem tempo. Quando entendeu que o veículo era brasileiro, não americano, se abriu: a empresa para qual trabalha não sabia que ela estava no parque.
Kay não conseguiu tirar uma folga, então veio ao parque munida de uma toalha de piquenique e um notebook. Além da repórter, era a única pessoa nas proximidades trabalhando durante o eclipse.
Já Sofia, 44, aproveitou que trabalha apenas meio período para organizar com as outras mães de crianças da escola na qual a filha de 5 anos estuda para fazer uma festa no parque. Cada uma combinou de trazer óculo, comida e cobertores.
“Mas meus colegas de trabalho escaparam para Vermont”, diz, suspirando -lá, o eclipse será total.
“O que quer que o universo ofereça, é isso que eu vou ver”, diz Mary, uma senhora em seus 70 anos -ela não quis dizer a idade- sentada em uma cadeira sozinha.
É o segundo eclipse que verá na vida, mas o primeiro foi há muitas décadas, em Nova York, então ela considera como se fosse viver a experiência pela primeira vez, de novo.
FERNANDA PERRIN / Folhapress