EUA e Argentina defendem transição na Venezuela com garantias para chavistas e opositores

BRASÍLIA, DF, E NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – Os governos de Estados Unidos, Argentina e de outros 28 países assinaram um documento nesta quinta-feira (26) em que defendem uma transição negociada na Venezuela que envolva garantias para os dois lados da disputa, chavistas e oposicionistas.

O texto, que também foi endossado pela União Europeia, foi publicado após uma reunião em Nova York copresidida pelos chefes das diplomacias de Joe Biden e do ultraliberal Javier Milei.

“Agora é hora para os líderes políticos da Venezuela começarem discussões construtivas e inclusivas sobre uma transição com garantias para ambos os lados para resolver o impasse político no país; e para restaurar instituições democráticas de forma pacífica e de acordo com a lei venezuelana, assim como a vontade do povo expressada por meio do voto em 28 de julho”, diz o comunicado.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, foi convidado a participar, mas, num gesto para distanciar o país da iniciativa, não compareceu.

Além de Argentina e EUA, assinaram o texto Austrália, Áustria, Bósnia e Herzegovina, Canadá, Costa Rica, Croácia, Dinamarca, República Dominicana, Estônia, Alemanha, Guatemala, Guiana, Hungria, Irlanda, Itália, Kosovo, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Holanda, Panamá, Peru, Portugal, Eslovênia, Espanha, Suécia, Ucrânia e Reino Unido.

A nota divulgada não detalha o que seriam essas garantias ou a quem elas se aplicariam. A administração Biden já desmentiu uma reportagem do The Wall Street Journal que afirmava que os americanos estavam dispostos a oferecer uma anistia ao ditador Nicolás Maduro.

Apesar de indicar uma disposição dos EUA, que aplicam sanções contra líderes do chavismo, de conceder garantias, especialistas que acompanham a crise venezuelana avaliam que não há, por parte do regime, sinais de que Maduro estaria disposto a negociar uma transição.

Em sua fala na reunião, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, defendeu que os responsáveis por abusos de direitos humanos na Venezuela respondam por seus atos. Segundo ele, essa cobrança é algo que os EUA já fizeram e continuarão fazendo.

O comunicado acordado também diz que o opositor Edmundo González recebeu a maioria dos votos no pleito, “de acordo com registros eleitorais disponíveis ao público”. Trata-se de uma postura diferente da adotada pelo governo Lula (PT), que não reconhece a vitória nem de Maduro nem da oposição.

“Permanecemos gravemente preocupados com a repressão generalizada, assim como os reportados abusos de direitos humanos e violações após as eleições”.

O chanceler da Venezuela, Yván Gil, discursou na Assembleia-Geral da ONU na quarta-feira (25), apresentando um cenário segundo o qual é possível interpretar que o mundo tem vários motivos mais urgentes para se preocupar –das guerras na Ucrânia e no Oriente Médio à crise do clima– antes de olhar para a crise política que se agravou após a contestada reeleição de Maduro.

“No dia 28 de julho, como é costume em nossa democracia revolucionária, o povo venezuelano se expressou de forma consciente, pacífica e massiva para eleger, com todas as garantias, transparência e liberdade, o Chefe de Estado e de Governo venezuelano para o mandato de 2025-2031. O presidente Nicolás Maduro foi reeleito com um claro e esmagador apoio”, afirmou o chefe da diplomacia de Caracas.

Sem nomear a oposição, atribui a uma suposta oligarquia “a violência criminosa que deixou 27 mortos” e, em âmbito maior, “aos Estados Unidos e seus governos satélites” uma “campanha fascista e de desinformação”.

“Rejeitamos categoricamente o uso de pretextos como os direitos humanos ou a democracia para justificar intervenções militares, golpes de Estado ou imposições econômicas que violam a soberania dos povos”, afirmou o chanceler.

A ação diplomática dos governos Milei e Biden diverge da linha adotada por Lula e mostra como os países das Américas não conseguem articular uma resposta coordenada à deriva autoritária do chavismo desde as eleições de 28 de julho.

Num primeiro momento, Lula costurou conjuntamente uma resposta com os esquerdistas Gustavo Petro (Colômbia) e Andrés Manuel López Obrador (México). Basicamente, os três países vinham pressionando pela divulgação de atas eleitorais que comprovariam o resultado anunciado –o que nunca ocorreu.

O México abandonou a articulação poucas semanas depois, e Brasil e Colômbia seguiram publicando notas sobre acontecimentos na Venezuela. Mesmo a ação da dupla, no entanto, esfriou na medida em que Maduro não enviou qualquer sinal de moderação.

A situação na Venezuela se agravou depois do pleito de julho. Maduro foi declarado vencedor pelo órgão eleitoral controlado pelo chavismo, mas o resultado foi prontamente questionado por governos da região.

RICARDO DELLA COLETTA E MARIANNA HOLANDA / Folhapress

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