SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um homem negro de 55 anos foi executado no estado americano do Missouri nesta terça-feira (24) apesar de a Procuradoria que o condenou ter voltado atrás e pedido sua libertação. Essa é a segunda execução de um homem negro nos Estados Unidos em poucos dias –na última sexta-feira (20) o estado da Carolina do Sul executou Khalil Allah, 46, ignorando o surgimento de provas que indicariam sua inocência.
Preso desde 1998, Marcellus Williams foi condenado pelo assassinato de Lisha Gayle, uma jornalista do St Louis Post-Dispatch. Ele foi acusado de invadir a casa de Gayle, esfaqueá-la até a morte e roubar uma série de objetos do local, e condenado com base no depoimento de duas pessoas.
Entretanto, nenhuma prova física conectava Williams ao crime, e as duas testemunhas foram motivadas pela recompensa de US$ 10 mil dólares oferecida pela família da vítima –que, desde então, se manifestou repetidas vezes contra a execução de Williams.
Em 2017, um exame de DNA realizado na arma do crime não detectou material genético de Williams, e sim de uma pessoa desconhecida. O resultado levou o governador do Missouri à época, o republicano Eric Greitens, a ordenar que a pena de morte de Williams fosse adiada horas antes da sua execução.
Greitens criou um painel de juízes independentes para analisar o caso –mas quando o governador atual, Mike Parson, do Partido Republicano, chegou ao cargo, o painel foi dispensado e a execução, marcada novamente.
Em janeiro desse ano, o novo procurador da cidade de Saint Louis, Wesley Bell, cujo escritório foi responsável pela condenação de Williams, entrou na Justiça para reverter a decisão, citando o exame de DNA e dizendo que houve erros no julgamento original.
Segundo Bell, o procurador que participou do caso original atuou para barrar a presença de pessoas negras no tribunal do júri –ele rejeitou um jurado porque ele “poderia ser irmão do réu”. O júri que condenou Williams era composto por 11 pessoas brancas e uma pessoa negra.
Os pedidos de Bell foram ignorados pelo procurador-geral do Missouri, Andrew Bailey, pelo governador, Mike Parson, e pela Suprema Corte dos EUA, que rejeitou uma ação que suspenderia a pena de morte para Williams.
Bell chegou a aprovar um acordo na primeira instância no qual Williams se declarava culpado em troca de prisão perpétua –a defesa dele disse que isso não era uma admissão de culpa, e sim uma estratégia para que ele pudesse seguir provando sua inocência. O acordo foi derrubado pela Suprema Corte do Missouri a pedido do procurador-geral do estado.
“Precisamos questionar um sistema que permitiu que isso acontecesse”, disse a advogada de Williams, Tricia Bushnell. “Hoje, testemunhamos o grotesco exercício de poder do estado do Missouri. Que não seja em vão. Isso nunca deve acontecer, e não podemos permitir que continue”. Williams foi executado na presença dos seus advogados e do filho.
Redação / Folhapress