SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Federal Reserve, banco central americano, anunciou nesta quarta-feira (20) que decidiu manter a taxa de juros dos Estados Unidos na faixa de 5,25% e 5,50% ao ano, numa nova pausa após ter promovido um aumento na reunião anterior.
Autoridades da instituição, no entanto, mostraram apoio a uma nova alta de juros neste ano e a menos cortes das taxas em 2024, sinalizando uma postura mais rígida de membros do Fomc (Copom dos EUA) sobre a política monetária americana.
Em seu comunicado, o banco central americano disse que a inflação continua elevada e que indicadores recentes sugerem que a atividade econômica está crescendo. Como exemplos, o banco cita o baixo nível de desemprego e forte criação de vagas de trabalho no país.
O Fed afirmou, ainda, que está “fortemente comprometido” em reduzir a inflação para sua meta de 2% -o índice está em 3,7%- e que vai continuar avaliando informações para suas próximas decisões, dizendo estar preparado para ajustar a política monetária em caso de novos riscos para alta da inflação.
A decisão desta quarta veio em linha com o esperado pelo mercado: segundo a ferramenta FedWatch, do CME Group, analistas viam 99% de chance de uma pausa nos juros americanos na reunião do Fomc (comitê de política monetária dos EUA).
A instituição também divulgou um compilado de projeções individuais de autoridades do Fomc (comitê de política monetária dos EUA) sobre a economia americana. O documento mostrou que a maioria dos membros do comitê apoia um novo aumento de 0,25 ponto percentual nos juros neste ano, prevendo uma atividade econômica mais forte.
Para Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, as novas projeções de autoridades do Fed sugerem que o ciclo de alta de juros ainda não chegou ao fim.
“Apesar dos avanços positivos, as taxas de inflação permanecem altas e a atividade mostra resiliência. Se esse ritmo continuar, provavelmente veremos um maior aperto da política monetária. Os dados revelados hoje indicam que os EUA terão que conviver com juros historicamente elevados por bastante tempo”, diz Igliori.
Em seu discurso após a divulgação da decisão, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que a decisão de manter os juros inalterados nesta quarta não significa que as autoridades já concluíram que a política monetária foi restritiva o suficiente para controlar a inflação.
Sobre as projeções para os próximos encontros, Powell disse que a maioria dos participantes do comitê acredita que uma nova alta em 2023 “é mais provável que improvável”. Ele afirmou, ainda, que há uma boa chance de que os aumentos de juros não levem a uma desaceleração da economia americana.
“Para Powell, o Fed está preparado para subir taxas se a inflação voltar a gerar efeitos. Além disso, ele sinaliza que a economia suporta juros elevados por mais tempo, mas é claro que esse patamar de juros vai começar a pressionar a economia numa janela de seis a 12 meses”, afirma João Piccioni, analista da Empiricus Research.
Nos EUA, as ações começaram o dia subindo, com alívio nos rendimentos de títulos do Tesouro americano. Após a decisão do Fed, no entanto, os índices perderam força. O S&P 500 e o Dow Jones, que registravam alta pouco antes do anúncio de juros, fecharam em queda de 0,94% e 0,22%, respectivamente.
Já no Brasil, o Ibovespa conseguiu manter a forte alta, apoiado também pela expectativa de corte de juros no país. O dólar, por sua vez, passou a operar em estabilidade, recuperando perdas registradas desde o início da manhã.
O Fed iniciou em março de 2022 seu ciclo de aperto monetário, elevando as taxas de juros dos EUA de um patamar próximo de zero para a atual faixa entre 5,25% e 5,50%, o maior nível em 22 anos.
O objetivo da autoridade monetária é desaquecer a economia para tentar levar a inflação americana para dentro da sua meta de 2%. Em agosto, o CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês) teve alta de 3,7% no acumulado em 12 meses.
As reações do mercado sobre os dados mais recentes da inflação americana foram mistas.
Por um lado, o número representou uma aceleração com relação a julho, quando o CPI registrava alta de 3,2%. Por outro, a inflação medida pelos núcleos do índice, que desconsideram preços de energia e alimentos, que são mais voláteis, diminuiu: foi de 4,65% em julho para 4,35% no mês passado.
A aceleração do índice foi impulsionada principalmente pela alta do petróleo, que vem escalando nos últimos meses e ultrapassou os US$ 86 em agosto. A situação foi agravada após uma extensão dos cortes de produção feitos por Rússia e Arábia Saudita e aparece como um dos principais riscos para a alta de preços nos EUA.
MARCELO AZEVEDO / Folhapress