EUA pedem rapidez no envio de missão de segurança ao Haiti após morte de missionários americanos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um ataque de gangues em Porto Príncipe, capital do Haiti, deixou três membros de um grupo missionário mortos na noite desta quinta-feira (23) e fez a Casa Branca pedir celeridade no envio de uma missão internacional ao país caribenho, projeto que patina há meses.

“Estamos devastados”, afirmou a Missões no Haiti pelo Facebook ao divulgar o nome das vítimas, que incluem dois americanos e o diretor da entidade.

Com sede em Oklahoma, região central dos Estados Unidos, a organização administra uma escola para 450 crianças, duas igrejas e um lar infantil em Bon Repos, bairro no norte de Porto Príncipe conhecido por ser dominado por duas gangues. A organização sem fins lucrativos foi fundada em 2000 pelo casal David e Alicia Lloyd.

O ataque ocorreu depois que dois grupos criminosos diferentes foram até um prédio da organização, atacaram funcionários e roubaram veículos. As vítimas foram o filho dos fundadores, David Lloyd 3º, 23; a esposa dele, Natalie, 21; e o diretor da organização, o haitiano Jude Montis, 20.

Antes de confirmar as mortes, a organização descreveu um ataque anterior na rede social e pediu orações. Segundo a publicação, o grupo estava saindo de um prédio quando se deparou com uma emboscada de três caminhões cheios de homens. Eles amarram David, levaram-no para dentro do prédio e o espancaram. Em seguida, os membros da gangue roubaram os veículos e outros itens da entidade e fugiram.

Ainda segundo a publicação, a situação ficou mais dramática quando uma segunda gangue apareceu no local. De acordo com o texto, esse grupo criminoso, que supostamente havia oferecido ajuda à organização, “entrou em modo de ataque total” após um de seus membros ser morto.

“Eles estão encurralados lá, a gangue atirou em todas as janelas da casa e continuam atirando”, afirmou o grupo, com base em relatos que os missionários haviam feito pelo telefone enquanto eram atacados. “Estamos acionando todos os contatos para conseguir um carro blindado da polícia e retirá-los em segurança, mas não consigo que ninguém faça isso.”

A organização disse ainda que estava tentando negociar com os criminosos antes de publicar a atualização trágica -“Davy e Natalie e Jude foram baleados e mortos pela gangue por volta das 21h (22h no Brasil)”.

David Lloyd, pai de uma das vítimas, havia deixado o Haiti um dia antes do ataque para retornar aos EUA. Ele contou como foi a última conversa com o filho em uma entrevista ao jornal New York Times. “Eu estava falando com ele quando esse segundo grupo chegou, e ele estava me dizendo que havia sido atingido na cabeça por uma pistola”, afirmou Lloyd pai.

Ele diz não ter certeza do que aconteceu em seguida, mas afirma que testemunhas lhe disseram que um dos seguranças da organização pode ter feito um disparo. “Alguém foi baleado e eles sentiram que era culpa do meu filho”, afirmou.

Mesmo quando a maioria dos americanos que trabalhavam em Porto Príncipe foi retirada pela Embaixada dos EUA em março, após um ataque de gangues na cidade fechar o aeroporto, os Lloyds escolheram ficar. Eles também permaneceram quando o aeroporto de Porto Príncipe reabriu nesta semana, após meses fechado.

“Meu coração está partido em mil pedaços”, afirmou pelo Facebook Ben Baker, deputado estadual do Missouri e pai de Natalie. “Nunca senti esse tipo de dor.” O pastor Jude Montis, também morto no ataque, estava na organização há 20 anos. Ele deixou uma esposa e dois filhos –uma menina de 6 anos e um menino de 2.

Um porta-voz da Polícia Nacional do Haiti disse que não tinha detalhes sobre os assassinatos.

O Departamento de Estado dos EUA disse que estava ciente de relatos das mortes de cidadãos americanos no Haiti e estava pronto para fornecer assistência consular, mas não fez mais comentários. “Oferecemos nossas mais sinceras condolências à família por sua perda”, disse a pasta em um comunicado.

O Haiti enfrenta uma grave crise política, humanitária e de segurança desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em 2021. As forças de segurança estão sobrecarregadas pela violência das gangues, que assumiram o controle de várias áreas do país, incluindo na capital.

Em fevereiro, a situação piorou quando várias gangues que normalmente lutam entre si decidiram se unir e lutar contra o governo. Mais de 2.500 pessoas foram mortas ou feridas só nos primeiros três meses de 2024, de acordo com as Nações Unidas, e hospitais, prédios do governo, delegacias de polícia e prisões foram atacados. A crise forçou a renúncia do primeiro-ministro, Ariel Henry.

Em seguida, um conselho de transição foi nomeado para administrar o governo em crise enquanto Washington ajudava a organizar o envio de policiais e soldados de vários países, liderados pelo Quênia, para combater as gangues. Essa missão deve chegar nas próximas semanas.

Após o assassinato dos três missionários, a Casa Branca pediu rapidez no envio da ajuda liderada pelo Quênia. “A situação de segurança no Haiti não pode esperar”, disse um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, destacando que o presidente americano, Joe Biden, havia se comprometido a apoiar o “envio urgente” da ajuda a seu homólogo queniano, William Ruto, com quem se encontrou na quinta.

Na ocasião, Ruto e Biden disseram que estão ansiosos para enviar os primeiros homens à nação do Caribe, mas não anunciaram o envio de nenhum destacamento, ampliando ainda mais o atraso para o início da missão, aprovada em outubro pelo Conselho de Segurança da ONU. Prevista para durar inicialmente um ano a partir da data de sua aprovação, ela já tem sete meses de atraso.

Redação / Folhapress

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