EUA pressionam Irã com seu mais poderoso submarino nuclear

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após um fim de semana em que houve aumento na tensão regional causada pela guerra Israel-Hamas, os Estados Unidos aumentaram a pressão para que o Irã e seus aliados não se envolvam mais no conflito anunciando a presença de seu mais poderoso submarino de propulsão nuclear nas águas do Oriente Médio.

Em uma postagem no X (ex-Twitter), o Comando Central das Forças Armadas disse laconicamente que um submarino da classe Ohio chegou à sua área de responsabilidade. Não é um anúncio que se faça: esse tipo de embarcação depende do segredo de sua posição para ser efetiva.

Assim, o que os EUA quiseram fazer foi dar um recado. A postagem não explicitou qual tipo de submarino Ohio foi enviado, mas a foto publicada mostrava o que parecia ser 1 dos 4 modelos adaptados nos anos 2000 para o disparo de mísseis de cruzeiro convencionais Tomahawk.

Os outros 14 Ohio que a Marinha americana começou a operar em 1981 são integrantes da chamada tríade nuclear do país, que inclui ogivas atômicas em bombardeiros e em silos terrestres. Maiores submarinos já construídos pelo país, eles carregam até 24 mísseis Trident-2D5, que podem levar até 14 bombas menores, mas usualmente são equipados com 4.

Como o anúncio não especificava o tipo enviado, houve comoção em redes sociais, sugerindo que os EUA pretendiam ameaçar os iranianos com um ataque nuclear. Não chegou a isso, aparentemente, mas o efeito desejado provavelmente foi esse.

De todo modo, um Ohio com armas convencionais é um instrumento poderoso: pode carregar até 154 mísseis de cruzeiro Tomahawk, cada com uma carga explosiva equivalente a 454 kg de TNT. O submarino estreou em combate na intervenção da Otan [aliança militar americana] na Líbia, em 2011.

A imagem sugere que o submarino estava acompanhando o grupo do porta-aviões USS Dwight Eisenhower, que passou pelo Mediterrâneo, onde já está outro navio do tipo, o USS Gerald Ford, rumo ao mar Vermelho.

Além disso, o Comando Central postou outra mensagem no domingo (5) informando que um bombardeiro estratégico B-1B Lancer foi reabastecido nos céus do Oriente Médio em uma missão de patrulha. Tal avião seria um dos primeiros a ser usado em um ataque convencional maciço na região.

“A missão foi desenhada para aumentar a agilidade e interoperabilidade entre os EUA e seus parceiros, demonstrando a habilidadas forças americanas de responder a crise e contingências entre teatros [de operação]”, afirmou a nota, sem sutileza.

Todo esse poder de fogo se posiciona após um domingo em que as escaramuças fronteiriças entre Isrrael e o Hezbollah, grupo libanês apoiado pelo Irã como o Hamas palestino, que é seu aliado, escalaram. Após o lançamento de um míssil e de foguetes contra posições israelenses, a retaliação foi pesada no sul do país vizinho.

Segundo o Hezbollah e o governo libanês, três crianças e avó delas morreram quando um carro foi atingido. A versão também afirma que uma ambulância foi atacada, a exemplo do que ocorrera na sexta (3) em Gaza. Israel disse que está investigando as alegações.

Até aqui, o Hezbollah manteve uma retórica em fogo alto, mas a temperatura militar mais comedida. Segundo seu líder, Hassan Nasrallah, a ideia é manter Israel ocupado, desviando o que disse ser 1/3 de seu Exército para operações na fronteira norte, aliviando a pressão sobre seus aliados em Gaza —que começaram a atual guerra há um mês, quando promoveram o maior atentado terrorista da história de Israel.

Nasrallah joga com o fato de que o Hezbollah, que travou sua mais recente guerra aberta com Israel em 2006 e saiu-se bem, com um empate inconclusivo, é uma força militar mais capaz e poderosa que o Hamas. Uma segunda frente totalmente engajada em combates seria problemática para Tel Aviv, noves fora o risco de uma escaldada regional com os padrinhos dos dois grupos, Teerã.

Aí entraram os EUA, anunciando os dois grupos de porta-aviões, que trazem além dos caças a capacidade de salvas de mísseis de seus navios de escolta, e o reforço com aeronaves de combate e sistemas antiaéreos de suas várias bases na região.

Apesar de manter o apoio e estimular a guerra, o Irã disse que seus aliados são capazes de lutar sozinhos, indicando que a dissuasão americana teve eficácia. Também é preciso levar em contra que Israel tem 80 ogivas nucleares, que estão lá para não serem usadas, mas existem.

Mas há riscos de imprevistos, particularmente quando canhões, foguetes e mísseis são disparados no atrito diário entre Israel e Hezbollah. O mar Vermelho, por onde passará e talvez fiquem alguns navios do grupo do Eisenhower, é um teatro particularmente tenso também. Lá, os rebeldes rebeldes houthis do Iêmen, bancados por Teerã, têm lançado mísseis de cruzeiro e drones contra o sul israelense.

Há duas semanas, um destróier do grupo do Ford deslocado do Mediterrâneo para lá interceptou uma barragem de projeteis. Na semana passada, foi a vez de Israel fazer o mesmo, estreando seu sistema antiaéreo de longo alcance Arrow nessa guerra.

Tel Aviv celebrou o envio do submarino. “É sempre boa notícia ver que os americanos estão trazendo mais ativos. Nós vemos isso como um tipo de dissuasão, um fator estabilizador para a região”, disse o porta-voz militar Richard Hecht.

É provável que o movimento seja condenado também pela Rússia, aliada do Irã e próximas do Hamas e do Hezbollah. Quando os EUA enviaram os porta-aviões, o presidente Vladimir Putin determinou o acionamento de patrulhas no mar Negro com caças capazes de lançar mísseis hipersônicos e atingir navios no Mediterrâneo.

IGOR GIELOW / Folhapress

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