BOGOTÁ, COLÔMBIA (FOLHAPRESS) – Em um difícil ano eleitoral, os Estados Unidos demonstram dar palco para que a negociação costurada por Brasil, Colômbia e México seja a prioridade ao menos neste início das tratativas regionais com a Venezuela após a eleição presidencial e a contestação dos resultados oficiais que deram vitória ao ditador Nicolás Maduro.
Mark Wells, subsecretário interino de Estado para o Hemisfério Ocidental, afirmou à imprensa nesta terça-feira (6) que Washington apoia o esforço dos três governos e que apoiará qualquer forma de diálogo cunhada pelo trio junto à oposição e o regime da Venezuela.
Wells foi questionado por diversos veículos de comunicação sobre quais garantias os EUA estariam dispostos a oferecer à ditadura sul-americana nesta mesa de negociação. A reportagem o questionou sobre a possibilidade de ofertar anistia aos líderes do regime acusados de violações de direitos humanos e de envolvimento com narcotráfico.
A resposta era invariavelmente a de que a diplomacia americana não comentaria o que está em jogo nas negociações, mas de que favorecerá as tratativas de Brasil, Colômbia e México.
São países com governos de turno progressistas, alguns mais à esquerda que outros, que ainda mantém um canal de diálogo com Maduro, enquanto outras nações da vizinhança, como Argentina e Chile, o romperam.
Após uma confusão semântica nos últimos dias, o subsecretário também reforçou que Washington reconhece Edmundo González, candidato da principal coalizão opositora, como o vencedor nas urnas. Mas evitou dizer que o reconhece como presidente eleito, maneira como o próprio González se refere a si mesmo.
“O Conselho Nacional Eleitoral, controlado por Maduro, o declarou ganhador sem divulgar evidências que sustentem essa afirmação”, disse Wells. “A sociedade civil e líderes da oposição reuniram cópias físicas detalhadas desse processo. Nós examinamos essas evidências e determinamos que seria impossível falsificar as atas compiladas tão rapidamente depois da votação para presidente.”
O pleito presidencial na Venezuela ocorreu no último dia 28. Assim que as urnas fecharam, a oposição começou a manifestar que estava organizando uma contagem paralela dos votos com base nas atas das urnas eletrônicas que suas testemunhas de mesa estavam recolhendo.
O regime disse que não aceitaria nenhuma contagem que não a oficial. Dois dias após o pleito, a coalizão tornou públicas essas atas em uma plataforma online.
“Esses dados mostram que González recebeu apoio de ao menos 66% dos que votaram”, seguiu o representante do Departamento de Estado. “O resultado real das eleições está claro, e o mundo pode ver. Maduro e seus representantes devem reconhecer os verdadeiros resultados.”
Wells também pediu que Caracas libere o que chama de presos políticos, as pessoas detidas no país após as eleições acusadas de envolvimento em manifestações políticas. Esse número já passa de mil.
Os EUA são um dos atores mais importantes nesse processo de negociação internacional que ainda não deu sinais de se colherá bons frutos. Além das sanções que sustenta contra o regime e contra indivíduos específicos da cúpula chavista na Venezuela, o país também acusa figuras como o próprio ditador Maduro de narcotráfico.
Há ainda o peso doméstico. A migração venezuelana que chega à fronteira sul americana é expressiva em meio a um mandato do presidente Joe Biden que foi amplamente criticado por suas políticas migratórias. Washington, Bogotá e Brasília sabem que o agravamento da crise na Venezuela pode levar a uma onda recorde de emigração.
Ao mesmo tempo, qualquer manifestação americana é descrita por Caracas como um movimento do “imperialismo norte-americano fascista” que quer desestabilizar o país e produzir o que chamam de uma “guerra híbrida”. Por outro lado, os movimentos de Brasil, Colômbia e México têm sido até aqui lidos com parcimônia por Maduro, que nesta semana inclusive agradeceu ao trio pelas tentativas.
Os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Gustavo Petro e Andrés Manuel López Obrador (ou AMLO) pedem que Caracas divulgue ao público as atas eleitorais e os dados de votação desagregados por região e mesa de votação. Até aqui, um pedido sem resposta.
MAYARA PAIXÃO / Folhapress