PARIS, None (FOLHAPRESS) – Em caso de uma catástrofe climática ou ambiental, o que você deve ter em um kit de sobrevivência? A Comissão Europeia decidiu responder a essa pergunta e lançou na quarta-feira (26) o que chamou de Estratégia de Preparação, com o slogan Prontos para Tudo.
A iniciativa se junta à de alguns países europeus, como Suécia, Noruega e Finlândia, que distribuíram aos cidadãos manuais com recomendações. A França está preparando uma cartilha semelhante.
Embora as recomendações sirvam para vários tipos de desastre, é mais uma evidência da mudança de mentalidade da União Europeia em relação à possibilidade de um conflito armado com a Rússia, em que os europeus não têm mais certeza do apoio dos EUA de Donald Trump.
A comissária europeia para Ajuda Humanitária e Gestão de Crises, a belga Hadja Lahbib, postou um vídeo no Instagram mostrando os itens de seu kit de sobrevivência por 72 horas.
“O que tem na minha bolsa?”, pergunta Lahbib no início do vídeo. “Primeiro, meus óculos. Super importante se quiser ver o que está acontecendo. Depois, meus documentos, em uma pasta à prova d’água.”
Ela prossegue com os demais itens: lanterna, fósforos ou isqueiro, para o caso de falta de luz; água, um canivete suíço, medicamentos de uso constante, barras de cereais, dinheiro em espécie, um carregador de celular, um baralho ou algum jogo para passar o tempo, um rádio e pilhas.
“Isso é tudo de que você precisa para sobreviver às primeiras 72 horas de uma crise”, completa a comissária, colocando todos os itens em uma pequena mochila.
A presença de alguns itens, como o rádio e o dinheiro em espécie, demonstra uma preocupação com uma ruptura das redes digitais de comunicação, provocada por ciberataques. “Em uma crise, dinheiro vivo é rei”, diz Hadja Lahbib, no vídeo promocional do Instagram.
Até junho, segundo o jornal parisiense Libération, milhões de lares franceses receberão uma cartilha do governo, com cerca de 32 páginas. O conteúdo da cartilha estaria em fase de aprovação pelo gabinete do primeiro-ministro François Bayrou. Os preparativos vêm sendo feitos em sigilo por um órgão chamado Secretaria-Geral da Defesa e da Segurança Nacional.
O manual se inspira em livretos semelhantes distribuídos nos países escandinavos. Porém, ao contrário destes, onde a ameaça de invasão russa parece mais plausível, devido à proximidade geográfica, a cartilha francesa não faz referência a guerra ou atentado terrorista.
Distribuído a 2,2 milhões de lares em novembro, o manual sueco, um livreto de capa amarela intitulado “Em Caso de Crise ou de Guerra”, vai muito além de um kit. Aconselha como se proteger em caso de ameaça militar ou invasão: como encontrar um abrigo ou uma zona de segurança, e como se deslocar. Propõe uma lista de frequências de rádio para se informar por canais oficiais, em caso de apagão da internet. E ensina até a purificar água e preparar refeições com recursos escassos.
“Vivemos uma época confusa. A guerra está grassando em nosso mundo. O terrorismo, os ciberataques e as fake news são utilizadas para nos prejudicar e nos influenciar”, diz o texto introdutório do livreto, que pode ser baixado gratuitamente em formato PDF.
Na França, não é raro encontrar material de divulgação com instruções para situações de emergência como essas. Na porta de muitos museus, há cartazes informando como agir em caso de ataque terrorista.
No site do governo francês já existe uma página listando os objetos a estocar em casa como kit de sobrevivência. Além dos itens sugeridos no kit da Comissão Europeia, os franceses recomendam incluir agasalhos e cópias das chaves importantes.
No evento de lançamento do kit, os representantes da Comissão Europeia lembraram que os confinamentos provocados pela pandemia de Covid-19 deixaram uma lição. Na época, a corrida aos supermercados para estocar produtos de primeira necessidade levou à ruptura de estoque de alguns itens, como papel higiênico.
ANDRÉ FONTENELLE / Folhapress