RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A maior conferência do setor de petróleo do país foi alvo nesta segunda-feira (23) de protesto de organizações ambientalistas, que batizaram o evento de “saldão do fim do mundo” e questionam sua realização em paralelo à Semana do Clima em Nova York.
O governo brasileiro vem sendo duramente criticado por apresentar o país como líder na transição energética ao mesmo tempo em que incentiva a abertura de novas fronteiras para a exploração de combustíveis fósseis no país.
“Enquanto uma parte do governo brasileiro participa da Semana do Clima em Nova York, com foco em discutir ações concretas para enfrentar a crise climática, outra parte recebe os principais executivos do setor fóssil do mundo”, criticou, em nota, diretor para América Latina e Caribe da 350.org, Ilan Zugman.
O evento no Rio tem como principal patrocinador a Petrobras e participação das maiores petroleiras globais. É hoje chamada de ROG.e, mas já foi Rio Oil and Gas: as palavras óleo e gás foram retiradas do nome, que ganhou um “e” em referência a outras fontes de energia.
A mudança é parte de um esforço do setor para se posicionar como parte da transição para uma economia mais renovável, garantindo o suprimento de energia “confiável e barata” enquanto o mundo migra para novas tecnologias.
As organizações ambientalistas, porém, defendem cortes mais rápidos na produção global de petróleo, alegando que o mundo já vem sofrendo com catástrofes provocadas pelas mudanças climáticas, como as inundações no Rio Grande do Sul e, mais recentemente, os incêndios em boa parte do país.
“O Brasil vem sofrendo alguns de seus piores eventos climáticos extremos, a resposta deveria ser fácil, mas até o momento não é. O país busca protagonismo internacional na agenda climática através do G20 e da COP30, então, chegou a hora de tomar suas decisões”, disse Zugman.
Na campanha, questionam os elevados salários dos executivos das principais operadoras do mundo. “Eles lucram, a gente sofre”, dizem peças espalhadas pela cidade. Em 2022, por exemplo, o CEO da ExxonMobil, a maior petroleira americana, recebeu US$ 32 milhões entre salários e bônus.
“As grandes empresas de petróleo deveriam priorizar investimentos para as soluções energéticas capazes de reduzir a demanda por óleo e gás e incluir em seus planos estratégicos o cronograma e os recursos para descontinuar o uso do petróleo”, afirmou Ricardo Baitelo, gerente de projetos do Iema (Instituto de Energia e Meio Ambiente).
O setor defende que vem investindo em descarbonização de suas operações, com o objetivo de atingir emissões líquidas zero até 2050. A conta, no entanto, só inclui as atividades próprias e não as emissões pelo consumo do petróleo, que são muito superiores.
Já o governo alega que o Brasil tem matriz energética limpa e não pode prescindir da riqueza do petróleo. “Não podemos e não vamos abrir mão de conhecer o verdadeiro potencial petrolífero do país”, afirmou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em discurso na cerimônia de abertura do evento.
NICOLA PAMPLONA / Folhapress