BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A inauguração de obras na rodovia presidente Dutra no próximo fim de semana provocou um mal-estar nos bastidores entre o presidente Lula (PT) e o grupo político do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O governador de São Paulo, adversário político do PT e aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi convidado para o evento e mesmo incluído inicialmente no material de divulgação da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência). No entanto, respondeu ao governo Lula que não poderá comparecer.
Aliados de Tarcísio acusam nos bastidores o governo Lula de buscar ofuscá-lo durante a inauguração de uma obra realizada com leilão conduzido por ele próprio, quando era ministro da Infraestrutura. Procurado, o governo paulista não se manifestou até a publicação desta reportagem.
Lula participa no sábado (25) da cerimônia de inauguração de obras viárias na Dutra, em Guarulhos (Grande São Paulo). Devem comparecer o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e outros oito ministros, quase todos com base política no estado.
Após divulgar inicialmente a participação de Tarcísio de Freitas, o material de divulgação da Secom foi alterado e o nome do governador foi retirado.
Aliados de Tarcísio afirmam que o convite foi feito de última hora, chegando ao Palácio dos Bandeirantes apenas na quarta-feira (22). Ele teria alegado outros compromissos para recusar a proposta.
“O convite da Presidência da República para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, foi enviado nesta quarta-feira (22), por email. O aviso de pauta publicado nesta quinta-feira (23), às 11h43, falava em ‘previsão’ da participação dele. Após o envio oficial da resposta de que ele não poderá participar, o texto foi atualizado”, afirmou a Presidência da República, em nota.
Em uma de suas transmissão na internet, no ano passado, Lula disse que sempre convidaria os governadores adversários para participar de eventos em seus respectivos estados. Em tom de provocação, citou os estados de São Paulo e Minas Gerais, este último governado por Romeu Zema (Novo).
“Eu quero ver se na outra semana eu consigo ir a Minas Gerais e a São Paulo, para discutir os investimentos do estado de São Paulo. Vamos tentar fazer um ato, vamos tentar a participação do governo do estado. Se [Tarcísio] quiser participar, se não quiser participar, a gente fará o ato do mesmo jeito”, afirmou, em agosto.
“Mas, como nós somos civilizados, nós vamos fazer e convocar o governador, porque é importante ele estar, porque os compromissos que nós vamos assumir são com eles também. Se vamos emprestar dinheiro do governo federal, do BNDES, para fazer a ferrovia Campinas-São Paulo, nós queremos que o governador esteja presente, afinal de contas é o estado de São Paulo que vai fazer”, completou.
O mais recente evento com participação de Lula em Minas Gerais teve uma guerra de versões entre o estado e o governo federal.
O governo mineiro afirma não ter recebido nenhum email formal por parte do Palácio do Planalto convidando Zema, que é adversário político de Lula e potencial candidato ao Planalto em 2026.
Por outro lado, a Secom afirmou na ocasião que o evento seria realizado pela empresa Biomm -não pela Presidência-, que teria convidado Lula e Zema. Mesmo assim, o cerimonial da Presidência diz que entrou em contato com o gabinete do governador, que teria confirmado a ausência do mandatário de Minas.
Apesar de adversários, Lula e Tarcísio estiveram juntos em uma série de eventos, como o aniversário do Porto de Santos, em fevereiro deste ano. Assim como tem feito com outros governadores, o presidente defendeu Tarcísio em um momento em que era vaiado.
Nesta semana, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, disse que Tarcísio iria migrar para o partido de Jair Bolsonaro em junho. O governador depois disse que a mudança não aconteceria neste momento.
RENATO MACHADO / Folhapress