WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – “Ninguém mais pode negar o impacto da crise climática. É só olhar ao seu redor”, afirmou o presidente americano, Joe Biden, ao comentar o furacão Idalia, que atingiu o sul do país nesta quarta (30), e os incêndios que devastaram a ilha de Maui, no Havaí, há algumas semanas.
O destinatário é claro: parte significativa dos republicanos, que rejeita a relação entre os desastres e o aquecimento global. No caso do Havaí, deputados do partido já afirmaram que pretendem examinar a resposta do governo federal, assim como de autoridades locais, sob suspeita de despreparo e negligência.
Com a resposta por ora bem-sucedida do governador da Flórida, Ron DeSantis, ao furacão que atravessou seu estado -até agora, há a suspeita de duas mortes, não confirmadas pelo governo-, a narrativa republicana pode ganhar força.
É um contra-ataque inteligente da legenda de oposição ao presidente, que busca virar o jogo em um campo que Biden tenta projetar domínio após implementar políticas históricas para promoção de energia verde e combate ao aquecimento global.
Na semana passada, durante debate entre pré-candidatos republicanos à Presidência, DeSantis se negou a levantar a mão quando os participantes foram estimulados a dizer se acreditavam ou não que a crise climática é resultado de ações humanas.
“Não somos crianças de escola”, respondeu, para em seguida atacar a resposta de Biden aos incêndios. O presidente, que estava de férias na praia no momento do desastre, foi duramente criticado por isso.
DeSantis, em contraste, suspendeu sua campanha e voltou à Flórida no domingo para preparar o estado para a chegada do furacão.
“Parece que a resposta ao furacão foi, até agora, robusta. Vocês perceberam que a resposta ao Havaí não foi boa, ou é só mais fácil para as pessoas conseguirem ajuda da Casa Branca quando o presidente não está viajando de férias?”, perguntou um repórter do canal conservador Fox News, alinhado aos republicanos, à porta-voz de Biden, Karine Jean-Pierre, mais cedo. Ela descreveu o questionamento como errado e falho, e defendeu que a reação do governo foi em tempo recorde.
Biden, por sua vez, falando a jornalistas pouco depois, anunciou o envio de mais US$ 95 milhões para a reconstrução da ilha havaiana, e disse que a infraestrutura será fortalecida para resistir a eventos extremos futuros. O governo federal também decretou emergência de saúde pública na Flórida.
Autoridades meteorológicas americanas alertaram nos últimos dias para um impacto catastrófico do Idalia. DeSantis declarou estado de emergência. Aeroportos, pontes e rodovias foram fechados. Moradores de regiões na rota do furacão foram orientados a deixar suas casas.
Alimentado pelas temperaturas mais quentes do oceano neste verão, o Idalia, que era uma tempestade, evoluiu rapidamente para um poderoso furacão de categoria 4 na madrugada desta quarta.
Ao atingir a costa do estado durante a manhã, ele havia recuado ligeiramente para a categoria 3 -a mesma do Katrina em 2005, quando provocou enorme destruição em Nova Orleans. A velocidade do vento foi calculada em 200 km/h.
Conforme ele avançou sobre o território, foi perdendo força, e à tarde estava na categoria 1 -ainda assim, deixando um rastro de destruição, sobretudo enchentes.
DeSantis também aproveitou o desastre para enfatizar sua política linha-dura contra violência. Em uma entrevista a jornalistas no início da tarde, ele disse ter recebido relatos de saqueadores tirando proveito da passagem do furacão.
“Você saqueia, nós atiramos”, relembrando que “as pessoas têm direito a defender sua propriedade”.
A resposta ao furacão é um teste crucial para a candidatura do republicano, ainda muito atrás de Donald Trump nas pesquisas de intenção de voto. Uma gestão má avaliada poderia ser o fim da sua ambição presidencial no próximo ano. Por outro lado, uma visão positiva -como a que está se firmando-, em contraste com o que aconteceu com Biden no Havaí, pode reanimar suas bases.
FERNANDA PERRIN / Folhapress