Ex-chefe da Polícia Civil do RJ, delegado Allan Turnowski é preso

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O delegado Allan Turnowski, ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, foi preso na noite desta terça-feira (6) após a Justiça do estado cumprir um mandado expedido no mesmo dia. Réu por organização criminosa, ele é acusado pelo Ministério Público de colaborar com contraventores do jogo do bicho e de receber propina da contravenção.

Turnowski se entregou por volta das 20h na Corregedoria Interna da Polícia Civil, no centro da capital fluminense, onde passou a noite. A prisão ocorre depois que a Segunda Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) restabeleceu, na última quinta-feira (1º), a ordem de prisão preventiva, que havia sido revogada em 2022 por decisão do ministro Kassio Nunes Marques.

Em nota, a defesa do delegado informou que já apresentou pedidos de revogação da prisão ao STF, ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) e à primeira instância. Os advogados sustentam que Turnowski vinha cumprindo todas as medidas alternativas impostas pela Justiça há mais de três anos e que não há justificativa para a nova prisão.

A investigação aponta que Turnowski atuava em favor dos contraventores Rogério de Andrade e Fernando de Miranda Iggnácio, assassinado em 2020, ao mesmo tempo em que exercia funções de comando na estrutura da segurança pública do estado.

Segundo o MP, ele mantinha uma relação de confiança com o também delegado Maurício Demétrio, condenado por obstrução de Justiça, e teria sido indicado ao cargo de secretário da Polícia Civil em 2020 por articulação de Demétrio junto a políticos aliados do então governador em exercício, Cláudio Castro (PL).

Conversas interceptadas e transcritas pela investigação revelam o grau de proximidade entre os dois. Em uma delas, Turnowski afirma: “Guru, se ele me pegar, ele vai te pegar, Guru. Tem que me proteger por você! Nós somos um CNPJ, um CPF só! Irmãos de embrião!”. Demétrio responde: “Farei tudo o que estiver ao meu alcance”.

Turnowski foi inicialmente preso em setembro de 2022, por agentes do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), em um desdobramento da operação que investigava Demétrio. A análise de 12 celulares apreendidos com o colega revelou um esquema de corrupção e aparelhamento político da segurança pública fluminense, com atuação em favor de bicheiros.

“As provas evidenciam que, enquanto Demetrio aderiu francamente a um dos lados da guerra [entre contraventores], Turnowski o fez de modo velado, por intermédio do comparsa delegado, agindo como uma espécie de agente duplo”, afirma trecho da denúncia do MP.

Turnowski também já havia sido alvo de suspeitas durante sua primeira passagem pela chefia da Polícia Civil, entre 2010 e 2011, no governo de Sérgio Cabral (MDB). Na época, foi investigado por possível vazamento da Operação Guilhotina, da Polícia Federal, e chegou a ser indiciado por violação de sigilo funcional. O caso foi arquivado por falta de provas, e ele sempre negou irregularidades.

O delegado retornou ao alto comando da Polícia Civil em setembro de 2020, já como secretário, após a transformação da pasta em secretaria de Estado. Durante sua segunda gestão, liderou operações de impacto, como a chacina do Jacarezinho, em maio de 2021, que deixou 28 mortos e se tornou a segunda maior da história do Rio.

O delegado deixou o cargo no início de 2022 para se candidatar a deputado estadual, mas não se elegeu. Desde então, respondia às acusações em liberdade, até a nova decisão do STF restabelecer sua prisão preventiva.

As investigações também apontam vínculos de Turnowski com o sargento reformado Ronnie Lessa, preso desde 2019 pelo assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do seu motorista Anderson Gomes. Segundo o MP, Lessa chegou a ter uma sociedade com Rogério de Andrade em uma casa de apostas e foi lotado como adido na Polícia Civil durante a gestão de Turnowski.

O delegado sempre negou envolvimento com o crime organizado e sustenta que sua atuação à frente da Polícia Civil foi marcada pelo enfrentamento às milícias e ao tráfico de drogas.

ALÉXIA SOUSA / Folhapress

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