SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Daniel Sikkema, ex-marido de Brent Sikkema, o galerista de 75 anos assassinado no Rio de Janeiro no início deste ano, negou que tenha qualquer relação com a morte do marchand. “Eu sou inocente e confio no sistema de Justiça”, disse ele, em entrevista ao jornal The Wall Street Journal.
Falando com a imprensa pela primeira vez desde o crime, Daniel acrescentou que o suspeito de matar Brent, o cubano Alejandro Triana Prevez, não é confiável. Prevez disse à polícia do Rio de Janeiro que ele matou o galerista a pedido de Daniel, que teria oferecido US$ 200 mil, cerca de R$ 1 milhão, como recompensa pelo crime.
Brent foi encontrado morto em sua casa no Jardim Botânico com 18 facadas, sobretudo no rosto e no peito. Dias depois, a polícia prendeu Prevez num posto de gasolina em Minas Gerais. Segundo o relato do acusado, ele tentaria fugir do Brasil pelo Paraguai.
Ainda de acordo com a reportagem do The Wall Street Journal, Prevez contou em seu relato à polícia que inicialmente pretendia usar uma besta para matar Brent, por se tratar de uma arma silenciosa. Mas na hora de efetuar o crime acabou deixando a arma no carro e pegou uma faca da cozinha do galerista.
Prevez tinha uma relação antiga com o casal. Ele foi o caseiro de uma residência dos dois em Havana Daniel era cubano. Segundo o relato de Daniel, Prevez se afeiçoou ao filho do casal, Lucas, com quem jogava bola.
Amigos afirmaram que o casal tinha uma relação aberta, mas que em determinado momento começaram a se acusar mutuamente de traição. O divórcio veio em seguida, momento no qual o galerista disse temer que Daniel levasse o filho do casal para Cuba, situação que praticamente impediria que Brent, um americano, recuperasse a criança.
No meio deste imbróglio, o marchand acusou o marido de tentar sacar US$ 200 mil, cerca de R$ 1 milhão, de uma de suas contas bancárias, mas a operação no fim não deu certo.
Em maio de 2022, depois do divórcio, Brent atualizou seu testamento com a ajuda de James Deaver, advogado e amigo de longa data. Ele deserdou Daniel e nomeou Lucas, o filho, como seu principal beneficiário.
A questão do patrimônio de Brent veio à tona enquanto eles brigavam pelos termos do acordo do divórcio. O advogado disse que todo o patrimônio líquido de Brent era inferior a US$ 20 milhões na época, mas Brent só seria obrigado a dividir a riqueza que tivesse acumulado durante o casamento.
Segundo a reportagem, entre seus bens estavam um apartamento de US$ 2,8 milhões, cerca de R$ 14,4 milhões, no bairro de Chelsea que ele comprou em 2007, uma casa modernista de US$ 1,7 milhão, ou R$ 8,7 milhões em Fire Island, sua participação acionária na galeria e obras de arte que comprou ao longo dos anos.
Daniel queria um pagamento de US$ 6 milhões, ou R$ 30 milhões, de acordo com um e-mail que enviou a Brent, embora Daniel diga que não foi um pedido formal. Deaver disse que Brent rejeitou o pedido como “excessivo” porque o galerista acumulou a maior parte de sua fortuna muito antes dos dois casarem.
Nesse ínterim, Daniel tentou, mas não conseguiu, obter os passaportes americano e espanhol de Lucas. Daniel também foi proibido de levar Lucas para Cuba até o menino completar 18 anos.
Daniel disse que um dia do nada, recebeu uma mensagem no WhatsApp de Prevez, o ex-zelador em Cuba. Desde então, Prevez havia se mudado para São Paulo em busca de melhores condições de vida.
Foi nesta ocasião que Daniel teria contado a Prevez sobre o divórcio em andamento e feito a oferta para matar o galerista. Ele passou a transferir dinheiro regularmente para o cubano, até que uma hora isto parou.
Os advogados de Daniel, contudo, argumentam que o dinheiro era apenas relativo a pagamentos atrasados pelo trabalho de Prevez em Havana.
Prevez tem agora um advogado que afirma que as declarações anteriores do seu cliente à polícia foram dados sob a suposição de que fariam parte de um acordo judicial. O advogado diz que Prevez pode preparar uma nova versão da história no futuro.
De acordo com a lei de Nova York, Daniel pode pedir um terço do patrimônio líquido de Brent como cônjuge sobrevivente, provavelmente mais do que conseguiria em qualquer acordo de divórcio. Os advogados de Daniel afirmam que pretendem reivindicar sua parte como marido sobrevivente.
Redação / Folhapress