SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Já faz nove anos desde que o programa SuperNanny chegou ao fim no SBT, mas histórias de crianças que cresceram com medo de Cris Poli -a psicóloga e pedagoga argentina que impunha disciplina aos pequenos e tentava resolver os problemas entre pais e filhos- continuam sendo relatadas nas redes sociais.
Até a atriz e apresentadora Maisa Silva já contou que sentia medo de Poli, a quem conheceu nos corredores do SBT. Ela teria ajudado a menina, então, com sete anos, a largar a mamadeira. O processo, no entanto, foi traumático, disse Maisa em entrevista a Pedro Bial, no início deste ano. Ela lembrou que não bebe mais leite por causa das intervenções da pedagoga no processo, e toda vez que fazia algo errado, ouvia de seus pais uma ameaça: “Vou ligar para a Supernanny”.
Gabrielle Gobbo, 23, é mais uma criança que passou pelos cuidados de Poli, mas ao contrário de Maisa, de forma “oficial”. Ela participou do Supernanny aos 12 anos. O corte de um dos episódios em que ela aparece foi resgatado pelos usuários do Tiktok e chegou a quase 9 milhões de visualizações em 2022. Neste ano, a cena voltou a circular e Gabrielle começou a gravar vídeos em que afirma que a maior parte do que o público estava vendo não era verdade.
Gabrielle era retratada à época como uma menina tímida e malcriada no programa do SBT. A educadora foi à casa da família para tentar estabelecer uma relação mais harmoniosa na família -Gabrielle, seus pais e os dois irmãos. Após exercícios, Poli teria conseguido acabar com os atritos em casa. À reportagem, Gabrielle diz que tudo não passou de uma farsa: “Não mudou nada. O programa só serve para expor a família”.
A jovem conta que sua mãe gostava de participar de programas televisivos e este era o segundo no qual aparecia. “Eu sempre parecia desconfortável. Por mim, não participaria”. Ela diz que suas feições de incômodo eram das poucas coisas genuínas expostas na TV.
Apesar de não estar atuando e suas ações não serem falsas, ela diz que as cenas eram montadas de modo a produzir uma impressão exagerada do que realmente acontecia: “Não é encenação, mas em uma hora e meia não é possível definir uma família, nem consertá-la. O programa era muito sensacionalista”.
O fim, em que a família parece ter resolvido os impasses, é “bastante forçado”, na sua opinião. “Não é possível resolver problemas familiares em quatro dias”, disse Gabrielle. “Não mudou nada na minha vida, a não ser pelos impactos negativos”, completou.
Ela conta que sua família foi bastante prejudicada social e emocionalmente após a participação no programa. “As pessoas julgaram meus pais de uma forma bem absurda. Disseram palavras bem ruins, a ponto de meu pai entrar com processo”.
A garota tinha 12 anos quando participou, idade acima da maioria das crianças atendidas, e seus pais eram mais novos que a média dos outros participantes. Seu pai chegou a ser chamado de pedófilo em comentários na internet. “Não concordo com o modo como as famílias são expostas no programa. Por mim, nunca participaria”, enfatizou.
Em resposta, o SBT disse que a opinião de Gabrielle sobre o sensacionalismo do programa não procede. “Ficamos tristes em saber que a participante, depois de adulta, tenha tido essa impressão. O Supernanny é um formato comprado de fora e o SBT o seguiu à risca, conforme cláusulas contratuais”.
Procurada pela reportagem, Cris Poli não se manifestou.
LUÍSA MONTE / Folhapress