SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ex-primeiro-ministro britânico David Cameron, que estava afastado da política havia sete anos, foi nomeado chanceler do Reino Unido nesta segunda-feira (13) numa decisão surpreendente do atual premiê, Rishi Sunak. A escolha faz parte de uma reforma ministerial motivada por crises internas.
Cameron, 57, assume a cadeira que era ocupada por James Cleverly. Este, por sua vez, substitui Suella Braverman no Ministério do Interior ela foi demitida nesta segunda (13) após criticar a polícia de Londres, segundo o jornal britânico The Guardian.
“Sei que não é habitual um primeiro-ministro regressar desta forma, mas acredito no serviço público”, disse Cameron, afirmando estar feliz por assumir o seu novo papel num momento de mudança global. “Espero que seis anos como primeiro-ministro e 11 anos liderando o Partido Conservador tenham me proporcionado alguma experiência útil, contatos, relacionamentos e conhecimento.”
Braverman, representante da ala mais à direita do Partido Conservador, acusou a polícia de ser conivente com manifestantes de esquerda em artigo publicado no britânico The Times.
No texto, que teria sido divulgado sem o aval de Sunak, ela diz que os agentes atuaram com “dois pesos e duas medidas” em protestos sobre o conflito entre Israel e o Hamas, sugerindo que as forças de segurança foram duras com os ativistas de direita e tolerantes com os críticos às ações israelenses na Faixa de Gaza. Ela também se refere às manifestações pró-Palestina como “marchas de ódio”.
O artigo, publicado na semana passada, teve ampla repercussão política. Líderes do Partido Trabalhista, da oposição, disseram que o texto aumentou a pressão sobre a polícia e acirrou os ânimos nos atos que ocorreram no sábado (11), quando cerca de 150 pessoas foram presas.
Alvo de críticas tanto da oposição quanto de membros mais moderados da sua legenda, Braverman sucumbiu à fritura. Foi o gatilho para Sunak iniciar uma reforma ministerial, segundo a imprensa britânica, com o objetivo de dar impulso ao Partido Conservador antes das eleições legislativas de 2024, nas quais o cenário para os governistas não é positivo.
A reforma ministerial era aguardada havia semanas, já que os trabalhistas aparecem à frente em pesquisas de intenção de voto. “Rishi Sunak está fortalecendo sua equipe governamental para implementar decisões de longo prazo, visando um futuro melhor”, escreveu a conta oficial do Partido Conservador em publicação no X.
Cameron, um conservador moderado, não exercia cargo político desde 2016, quando renunciou ao posto de parlamentar após a vitória do brexit (saída do Reino Unido da União Europeia), ao qual ele se opôs. Na ocasião, afirmou não querer ser uma “distração” para o governo liderado por sua sucessora, Theresa May.
Depois de sete anos em ostracismo, Cameron agora assume um dos principais cargos do governo segundo analistas, a escolha de Sunak indica sua preferência por políticos centristas e experientes na sua equipe em vez de conservadores mais radicais, como defendem políticos mais à direita da legenda.
Para entrar no governo sem ter o cargo de parlamentar, Cameron foi nomeado para a Câmara dos Lordes (equivalente ao Senado), segundo a Downing Street, a residência oficial do primeiro-ministro britânico.
“Embora eu possa ter discordado de algumas decisões individuais, está claro para mim que Rishi Sunak é um primeiro-ministro forte e capaz, que está demonstrando uma liderança exemplar em um momento difícil”, escreveu Cameron, que foi premiê de 2010 a 2016, no X. Sunak também foi um defensor do brexit.
Horas após o anúncio da volta de Cameron ao governo britânico, a ministra do Meio Ambiente, Therese Coffey, apresentou sua renúncia. “Considero que agora é o momento certo para nos afastarmos”, disse ela em carta enviada a Sunak, sem explicar os motivos de sua decisão.
Coffey ocupou vários cargos ministeriais. Ela esteve à frente das pastas da Saúde e do Trabalho e Pensões no governo Sunak. Antes, atuou como vice-primeira-ministra na gestão de Liz Truss, a antecessora do atual premiê.
Até a tarde desta segunda, Sunak não havia se manifestado sobre a renúncia de Coffey. As mudanças no governo ocorrem num momento em que o premiê enfrenta pressão. O conservador precisou lidar com uma série de greves nos últimos meses, um reflexo da inflação crescente e alta do custo de vida.
A crise representou a pior onda de paralisações trabalhistas desde os anos 1980 no Reino Unido. Principalmente de junho a agosto de 2022 e no início deste ano, trabalhadores de diversas categorias do serviço público cruzaram os braços reivindicando reajustes salariais acima da inflação.
O serviço de saúde britânico foi o mais afetado pelas greves, especialmente em razão de uma crise de pessoal e de consequências da pandemia. Em fevereiro, dezenas de milhares de enfermeiros e paramédicos realizaram a maior paralisação nos 75 anos de história do NHS, o SUS britânico. Membros das Forças Armadas chegaram a ser capacitados para conduzir ambulâncias, numa tentativa de mitigar as consequências da interrupção dos serviços.
As crises abalaram a popularidade de Sunak. Pesquisa do instituto YouGov divulgada no mês passado aponta que 65% dos britânicos avaliam o premiê de maneira negativa, enquanto 25% consideram seu trabalho positivo.
Em julho, os conservadores sofreram duras derrotas nas eleições parlamentares que ocorreram em três distritos. A legenda de Sunak perdeu dois assentos em regiões onde a vitória costumava ser certa.
Sunak, ex-ministro das Finanças, tenta restaurar a credibilidade do Partido Conservador após uma série de escândalos que forçaram Boris Johnson a renunciar ao cargo de primeiro-ministro no ano passado sua sucessora, Liz Truss, ficou no posto por apenas seis semanas e saiu mergulhada em turbulência política.
Redação / Folhapress