Ex-São Paulo se reinventa no rúgbi 18 anos pós-tragédia e conta com Rafinha

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Bruno Landgraf era uma das maiores promessas do São Paulo até o dia 11 de agosto de 2006, quando sofreu um grave acidente de carro na Régis Bittencourt que o deixou tetraplégico e matou Weverson, seu colega de time, e Natália Manfrim, jogadora de vôlei. Depois de quase um ano hospitalizado entre a vida e a morte, o ex-goleiro retomou o contato com o esporte na vela paralímpica e, nesta quinta-feira (6), se aventura em outro esporte coletivo: o rúgbi de cadeira de rodas.

“Está ajudando bastante na minha reabilitação. A prática não ajuda só no esporte, mas também no dia a dia. Para mim, é muito bom voltar a competir em um esporte coletivo. A vela era em dupla, mas era totalmente diferente. É muito bom sentir isso que eu tinha no futebol”, disse Bruno à reportagem.

AJUDA DE EX-COMPANHEIRO

O rúgbi em cadeira de rodas surgiu na vida de Bruno em 2022. Antes, ele havia representado o Brasil na vela nos Jogos Olímpicos de Londres-2012 e Rio-2016.

Há seis meses, ele e outros atletas fundaram um time do zero. A meta é participar de projetos para conseguir fazer caixa para a equipe e, dentre outras coisas, pagar viagens para competições.

“Nosso time [Drakkar Quad] tem sete atletas, e dois ainda não têm cadeiras. Uma cadeira nacional de rúgbi está em torno de R$ 15 mil. Não é um equipamento barato, mas a Associação Brasileira de Rúgbi em Cadeira de Rodas vem ajudando bastante. O Instituto tem uma parceria com a Levi’s, e eles ajudam em alguns materiais. Conseguimos algumas camisetas para a divulgação do time”, afirma Bruno.

Um dos nomes escolhidos para ajudar na tal divulgação é o lateral-direito Rafinha, que defende o Tricolor e é cotado para ser um dos “padrinhos” da equipe de rúgbi —o laço entre eles vem dos tempos de seleção de base, ainda nos anos 2000. Alguns outros esportistas, como Adenízia (vôlei) e Rogério Ceni (técnico do Bahia), também foram citados por Bruno no projeto.

“Tenho muita amizade com ele. Jogamos juntos na seleção sub-20, em 2004, 2005. Tenho um carinho grande, uma admiração imensa por ele, e seria um dos padrinhos do time. Combinamos de mandar uma camisa pra ele fazer a divulgação”, conta Bruno.

A iniciativa pode alavancar um dos novos sonhos do ex-goleiro: a participação nos Jogos Paralímpicos de 2028 na modalidade. “É um objetivo de todo atleta participar de uma Paralimpíada, ainda mais agora no esporte novo. Mas estou passo a passo. Primeiramente, quero ajudar o meu time buscando parcerias e fazer com que todos possam ter uma remuneração. Aí, subir para a primeira divisão. Ainda tenho de melhorar bastante a minha parte física e a parte técnica de dentro de quadra. Mas é um objetivo e estou treinando todos os dias para que isso aconteça”.

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RELAÇÃO ATUAL COM O FUTEBOL

Amizade com Rogério Ceni

“Tínhamos contato nos treinos, mas não havia uma amizade. Depois do acidente, ele me ajudou muito: tanto na minha recuperação, fazendo visita, quanto conversando com meus pais. Era uma pessoa que passava no hospital. Às vezes, chegava lá às 6h porque estava em concentração. Ele arrumava um tempo. O carinho que ele tem comigo e com a minha família são coisas que eu levo para a minha vida toda.”

Como usar o futebol hoje em dia?

“Acho que o futebol me ensinou a ter muito comprometimento. Ser responsável com horário, buscar melhorar tanto na parte técnica quanto na parte física, o acompanhamento com nutricionista… Acho que essa disciplina do futebol é que eu procuro passar.”

Carinho pelo São Paulo

“Eu acompanho sempre. No ano passado, não consegui ir muito ao estádio, calhou de muitos jogos caírem nos dias e horários dos meus treinos, mas acompanho pela televisão e até estou para ir ao CT. Sou torcedor do São Paulo desde pequeno, mesmo antes de começar no clube. Acompanho bastante futebol e assisto aos amigos da época que estão em outros times.”

Dono da meta Tricolor

“Vejo o Rafael como um dos goleiros mais seguros. Após o Rogério, foi ele quem teve uma sequência melhor. Vem jogando muito bem, tanto embaixo das traves quanto com os pés. Ele tem uma qualidade muito boa e vem fazendo ótimos jogos. A continuidade de jogos está sendo muito boa.”

Expectativa com o São Paulo para 2024

“Eu espero que o São Paulo seja campeão de tudo que puder: Brasileirão, Libertadores e Copa do Brasil (risos), mas sabemos que é muito difícil. O São Paulo vem em uma crescente e voltou a vencer mesmo quando faz jogos não muito bons. Vejo que o Zubeldia está fazendo um ótimo trabalho: ele trouxe aquele espírito de São Paulo de novo.”

ALEXANDRE ARAUJO E BRUNO MADRID / Folhapress

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