BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Exército puniu administrativamente 38 militares pelo furto de 21 metralhadoras no Arsenal de Guerra de Barueri, em São Paulo. O caso ocorreu em setembro do ano passado.
Segundo o Comando Militar do Sudeste, entre as punições internas estão a prisão disciplinar, de 1 a 20 dias.
O comando informou ainda que o inquérito policial militar que trata do caso foi prorrogado pela Justiça Militar da União, em caráter excepcional, por se tratar de um caso que demanda a “produção de muitos elementos e do retorno e informações e pesquisas”. O inquérito corre sob sigilo.
As primeiras punições ocorreram no fim de outubro de 2023, quando 17 militares foram presos administrativamente. Os outros 21 militares foram submetidos às sanções entre novembro e janeiro.
Segundo militares ouvidos pela reportagem, os 38 oficiais não estão diretamente envolvidos com o furto das armas, mas cometeram falhas no procedimento de controle das armas -o que contribuiu para o sumiço e a demora para a descoberta do crime.
Em outubro, a investigação conduzida pelo Exército já apontava que o furto havia ocorrido nas primeiras horas do feriado de 7 de Setembro, quando o quartel estava esvaziado.
Foi notada a falta de 13 metralhadoras .50 e oito de calibre 7,62 durante uma inspeção.
Segundo o Exército, as metralhadoras eram “armamentos inservíveis que foram recolhidos para manutenção”. Em pleno funcionamento, as metralhadoras .50 são capazes de derrubar aeronaves, por exemplo.
O circuito de energia do Arsenal de Guerra foi desligado durante alguns minutos, segundo a apuração militar, o que desativou as câmeras de segurança e o alarme do paiol, que é acionado por movimento.
Sem o alarme e as imagens, pelo menos três militares teriam atuado diretamente para romper o cadeado que mantinha em segurança o armário em que as armas estavam guardadas.
As metralhadoras teriam ainda sido transportadas para um carro do próprio Exército, que levou-as para fora do quartel.
Em outubro, o Exército pediu a prisão de seis militares suspeitos de atuarem no crime. As solicitações, porém, foram rejeitadas pela Justiça Militar, que alegou falta de provas suficientes para identificar a materialidade do crime.
Quando o furto das armas foi descoberto, todos os 480 militares do local ficaram aquartelados. Após uma semana, houve liberação gradual dos aquartelados. Além da autorização para sair, os militares receberam seus aparelhos celulares de volta.
Após o furto das armas, o tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista foi exonerado do cargo de diretor do Arsenal de Guerra de São Paulo. Para o seu lugar foi nomeado o coronel Mário Victor Vargas Júnior. A mudança ocorreu por ordem do comandante do Exército, general Tomás Paiva.
Até esta terça-feira (9), 19 armas foram localizadas pelas polícias do Rio de Janeiro e de São Paulo e pelo Exército. A venda dos armamentos foi negociada com duas facções criminosas, o Comando Vermelho e o PCC, segundo o secretário de Segurança Pública paulista, Guilherme Derrite.
Duas metralhadoras com poder antiaéreo, que podem derrubar helicópteros, continuam desaparecidas.
Levantamento realizado pelo Exército em 2023, a pedido do Instituto Sou da Paz, mostrou que a Força não possui dados unificados e precisos sobre a quantidade de armas furtadas ou desviadas de quartéis.
Os números enviados pelo Exército possuem divergências e informações desencontradas na série histórica desde 2015, em comparação com os dados enviados em 2020 ou com outros levantamentos realizados pela própria Força e enviados a jornais e institutos.
De acordo com o Sou da Paz, o caso expõe um descontrole da Força sobre o assunto e dificulta uma análise aprofundada sobre as razões que levam aos furtos de metralhadoras e fuzis de uso restrito.
O Comando Militar do Sudeste disponibilizou um disque-denúncia para quem tiver informações sobre o desaparecimento do armamento. O número é 0800 358 0005 e o Exército diz que será respeitado o anonimato.
CÉZAR FEITOZA E JOSÉ MARQUES / Folhapress