‘Existe uma política antes e uma depois do assassinato de Marielle’, diz Mônica Benício

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A vereadora Mônica Benício (PSOL), viúva de Marielle Franco, afirmou nesta quarta-feira (30) no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro que “existe uma política antes e uma depois do assassinato” da vereadora do PSOL.

“A política que vem depois se desdobra porque é um reflexo da figura que estava em construção. Não há dúvida nenhuma de que Marielle era uma grande liderança da esquerda deste país. Das mulheres, das feministas num campo em que ela construía, da população preta de favela. Acho que a Marielle hoje estaria ocupando o lugar que quisesse ocupar. Ou pelo menos disputando e com apoio político”, disse Mônica.

A vereadora foi a terceira testemunha a depor no julgamento dos ex-PMs Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, réus confessos pelo assassinato de Marielle e do motorista Anderson Gomes.

“Marielle estava no momento mais feliz da vida dela. Isso ela mesma reconhecia. Na vida profissional, não tinha dúvida nenhuma. Quem acompanhou a campanha e o início do mandato dela, quem viu um ano e três meses de sua atuação, viu ela se transformar numa figura enorme. Fosse das falas, da postura, da segurança, do seu reconhecimento pessoal do que queria. Marielle era uma figura em ascensão política dentro do partido”, afirmou Mônica.

Num depoimento emocionado, a vereadora contou sobre o relacionamento com Marielle e a importância da mulher em sua vida.

“Marielle era uma das pessoas que eu conheci que mais gostavam de estar viva. Tudo era um evento. Chamava para tomar um café e gerava um momento lindo, divertido. Ela era uma pessoa enfática no que queria. Mas tinha, pelo menos na nossa relação, muita boa vontade para ceder determinadas coisas para não passar por um conflito”, disse.

“Quando a Marielle morreu, o que eu senti é que tinham tirado a promessa do futuro. Passar todos esses anos andando de um lado para o outro no mundo tendo que falar em justiça por causa do símbolo da vereadora por muitas vezes me fez esquecer os detalhes. Mas, no final do dia, essa dor está sempre lá, te lembrando de que não adianta mais sonhar, porque não vai acontecer.”

Ela relatou precisar tomar remédios até hoje e relatou ter tentado suicídio algumas vezes nesses seis anos.

“A única justiça possível seria não precisar estar aqui e ter a Marielle e o Anderson vivos. Mas, para além disso, dentro do que é possível, eu espero que se faça a justiça que o Brasil e o mundo esperam há seis anos e sete meses. Isso é importante também”, afirmou.

“Esse é um dos crimes mais emblemáticos deste país e ele representa muita coisa para este país, que tem no corpo de uma pessoa como a Marielle o visto descartável. De ser uma mulher negra, favelada, LGBT, socialista. Enquanto essa justiça que foi buscada ao rigor da lei ao longo desses anos não se apresenta, o que a gente passa de recado e de mensagem é que existe um grupo que é capaz de assassinar como forma de fazer política e tem a certeza da impunidade.”

Antes de Mônica Benício, prestaram depoimento a jornalista Fernanda Chaves, ex-assessora de Marielle e sobrevivente do atentado, e Marinete da Silva, mãe de Marielle. Outras quatro testemunhas ainda serão ouvidas a pedido do Ministério Público do Rio de Janeiro, e mais duas foram selecionadas pela defesa de Ronnie Lessa.

O júri começou às 10h30 e deve se estender por esta quarta e a madrugada de quinta (31). Ao todo, 21 pessoas, sendo sete homens, foram sorteadas para compor o júri. Os jurados ficarão incomunicáveis e vão dormir no Tribunal de Justiça.

Lessa, preso no Complexo Penitenciário de Tremembé, em São Paulo, e, Élcio, no Centro de Inclusão e Reabilitação em Brasília, serão ouvidos por videoconferência. Os dois firmaram acordo de delação e confessaram o crime.

O Ministério Público do Rio vai pedir pena máxima aos réus, que pode chegar a 84 anos de prisão. O acordo de Lessa prevê o cumprimento de pena em regime fechado até março de 2037. A reunião das penas nos 12 processos a que ele responde será feita pelo juízo de execução penal.

Os detalhes do contrato de Élcio não são de conhecimento público.

Os irmãos Domingos Brazão e Chiquinho Brazão e o delegado da Polícia Civil Rivaldo Barbosa são réus no STF (Supremo Tribunal Federal), sob acusação de planejarem a morte da vereadora. Eles foram apontados como mandantes na delação de Lessa. Todos negam o crime.

YURI EIRAS E ITALO NOGUEIRA / Folhapress

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