BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – O grito de independência de dom Pedro 1º, que nesta quinta (7) completa 201 anos, foi precedido de viagens do então regente a duas das principais províncias do Brasil à época, Minas Gerais e São Paulo, com o objetivo de avaliar o ambiente político interno para a possível separação de Portugal.
Com partidas do Rio de Janeiro, uma das viagens foi feita a Ouro Preto (MG), então Vila Rica, entre março e abril de 1822. A outra, a Santos (SP), entre agosto e setembro do mesmo ano. Na volta da cidade do litoral paulista, dom Pedro proclamou a Independência às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo.
O motivo das viagens era a realização de reuniões com lideranças locais para avaliar a emancipação, ideia que já vinha crescendo em meio à elite brasileira na época.
Os dois trajetos foram repetidos em 2023 por uma expedição que teve encerramento nesta quarta (6) em São Paulo.
Com estradas de terra ou pavimento rústico substituídas por asfalto, e trocando cavalos e mulas por automóveis, a expedição esteve em cidades como São João del Rei e Barbacena, em Minas Gerais, e Bananal e Aparecida, em São Paulo. Ao todo foram cinco cidades mineiras e 13 paulistas.
A expedição foi realizada pela Federação das Câmaras Portuguesas de Comércio no Brasil e faz parte das comemorações pelos 200 anos da Independência do Brasil dentro do projeto “Heróis Portugueses do Brasil”.
O momento mais tenso da viagem de dom Pedro 1º à província de Minas Gerais ocorreu em Vila Rica. O regente teve que esperar por vários dias nas imediações da cidade, aguardando o retorno de emissários encarregados de anunciar a sua chegada.
A ida à cidade ocorreu cerca de dois meses depois do Dia do Fico, em 9 de janeiro de 1822, quando dom Pedro, pressionado pela corte a retornar a Portugal, anunciou que ficaria no Brasil.
“Tendo resolvido permanecer no Brasil e não retornar a Portugal, conforme as ordens que havia recebido das cortes de Lisboa, o príncipe regente decidiu visitar Minas Gerais, que era a província mais populosa e mais rica, a fim de sentir a opinião pública e o clima político das Minas Gerais”, conta o prefeito de Ouro Preto, Ângelo Oswaldo (PV).
“Havia a possibilidade de uma reação hostil à presença do príncipe regente, que era tido como um independentista”, acrescenta. Dom Pedro, no entanto, entrou na cidade e foi bem recebido.
Antes, d. Pedro 1º e sua comitiva já haviam ficado cinco dias em São João del Rei, em reuniões para que não faltassem apoio para a entrada em Ouro Preto, segundo Vittorio Lanari, coordenador da expedição pelos lugares em que o então regente esteve antes da proclamação da Independência. “O objetivo era abafar possíveis rebeliões”, afirma.
A preocupação com revoltas dominou também a viagem de dom Pedro a Santos. A primeira localidade em que esteve na província de São Paulo foi a hoje cidade de Bananal.
O regente dormiu na Fazenda Três Barras, que pertencia ao capitão Hilário Gomes Nogueira, um dos maiores proprietários de terras na região à época. Em seguida foi para São José do Barreiro, onde almoçou na fazenda Pau d’Alho, que também pertencia a um militar, o coronel João Ferreira de Souza.
O grupo organizador das viagens pelos locais onde passou dom Pedro documentou todo o roteiro. Um registro em audiovisual será produzido. O grupo, nas passagens pelos locais, fez palestras e distribuiu livros didáticos.
Houve espaço também para agenda religiosa do regente na viagem a Santos. Uma das paradas foi em Aparecida, onde visitou a capela da santa que dá nome à cidade, a quem pediu bênçãos.
A viagem de ida do regente à província de São Paulo teve como destino final Santos, terra natal de José Bonifácio de Andrade e Silva, conhecido como o “Patriarca da Independência”, por ser um incentivador do movimento.
O projeto “Heróis Portugueses do Brasil” já teve duas expedições. Uma sobre a história de Pedro Teixeira, que desbravou a Amazônia, e Martim Soares Moreno, que lutou contra franceses e holandeses no nordeste.
LEONARDO AUGUSTO / Folhapress