DRESDEN, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – O partido AfD (Alternativa para a Alemanha) venceu neste domingo (1º) as eleições para o Parlamento da Turíngia, ficando com quase 33% dos votos, apontavam projeções da imprensa alemã no fim da noite deste domingo (1º). A sigla poderá ser a primeira de extrema direita a governar um estado alemão desde o fim do regime nazista, em 1945 embora dependente de aliança, o que por ora é improvável.
“Estamos prontos para assumir responsabilidade de governo”, disse o líder da AfD na Turíngia, Björn Höcke, segundo a mídia local.
Já na Saxônia, outro estado da comunista República Democrática Alemã até 1990, a AfD estava em segundo lugar, com aproximadamente 31% dos votos. O partido reduziria, assim, a um ponto percentual a desvantagem em relação à tradicional legenda de centro-direita CDU (União Democrata-Cristã), atual líder da coalizão governista estadual, que ficou com aproximados 32%.
A AfD é oficialmente considerada extremista por autoridades alemãs na Saxônia e na Turíngia, mantendo conexões com grupos neonazistas.
Estas eleições estaduais foram amplamente consideradas um termômetro da política nacional, um ano antes do pleito para o Parlamento alemão, enquanto o primeiro-ministro Olaf Scholz lidera uma pouco popular coalizão em Berlim.
Diante do avanço da AfD, os grandes partidos falam num cordão humanitário para barrá-la do governo. Parte dos eleitores recorreu ao voto útil para evitar que a sigla formasse uma minoria com um terço dos assentos legislativos, o que lhe daria o poder de paralisar o Parlamento estadual.
“Não sou muito politicamente engajado. Mas, neste ano, vim votar para impedir a AfD. Não sair para votar é a mesma coisa que votar azul”, disse o eleitor Bruno, em referência à cor da AfD.
SAI CENTRO-ESQUERDA TRADICIONAL, ENTRAM POPULISTAS
Na Saxônia e na Turíngia, o terceiro lugar ficou com a BSW (Aliança Sahra Wagenknecht), partido populista de centro-esquerda criado em janeiro deste ano por uma homônima ex-parlamentar do A Esquerda, mirando as eleições estaduais deste domingo.
Em um hotel de Dresden, capital saxã, o resultado foi efusivamente celebrado pelos líderes do partido ao atingir a expectativa de garantir um percentual de dois dígitos.
A candidata Sabine Zimmermann, que lidera o partido na Saxônia, subiu ao palco e atribuiu o sucesso da sigla, em apenas oito meses, ao discurso pró-Rússia na Guerra da Ucrânia e contra a “imigração descontrolada”. A BSW divide as duas pautas com a AfD, alavancando sua popularidade no leste alemão.
“Nós conseguimos!”, bradou Zimmermann, sob aplausos. “Nós estamos escrevendo História”.
Minutos antes do fechamento das urnas, o coordenador regional da BSW em Dresden, Andreas Uhlig, disse à reportagem descartar uma coalizão com a AfD, mas não com a CDU.
“Nós esperamos uma oferta (da CDU) e temos que discutir o conteúdo de um contrato de coalizão. Estamos abertos à colaboração, se fizer sentido”, disse Uhlig. “No caso da AfD, há muitas posições do partido que não estão alinhadas ao que queremos para a nossa sociedade.”
Uma vez confirmado, o resultado aprofundará o escanteamento dos partidos de centro e esquerda. Em ambos os estados, o SPD (Partido Social-Democrata) e os Verdes ficaram abaixo dos 10% nas primeiras previsões.
Já o A Esquerda tido como sucessor do Partido Socialista Unificado da Alemanha, que governou a Alemanha Oriental antes da queda do Muro de Berlim passaria de primeiro partido na Turíngia para o quarto (13%) e seria o sexto na Saxônia (4%).
A derrocada do partido se deve, em grande medida, à ascensão da AfD e da BSW. Ambas encontram no leste alemão um bastião para os seus projetos nacionalistas, capturando votos que já foram do A Esquerda.
Eleitora fiel do A Esquerda, Rita Kunert, 63, assiste com pesar ao esvaziamento da sigla, com parte dos seus correligionários tendo migrado nos últimos dez anos para a AfD e a BSW. Até os 29 anos, ela trabalhava como engenheira numa usina nuclear da RDA e, com a dissolução da Alemanha Oriental, perdeu seu trabalho, deixou de ter o diploma reconhecido e viu a vida que conhecia acabar.
Assim como ela, os órfãos da RDA se tornariam uma importante base do A Esquerda e, hoje, são atraídos por discursos nacionalistas que miram as elites do oeste alemão, até hoje mais desenvolvido, e os imigrantes.
“Na RDA, nós tínhamos respostas simples para problemas difíceis. É isso que a AfD faz hoje”, afirma. “As pessoas passaram a achar que os refugiados e imigrantes é que fazem as suas vidas mais difíceis.”
HELOÍSA TRAIANO / Folhapress