BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – Uma operação conjunta das forças de segurança de Minas Gerais deflagrada na quarta-feira (27) buscou desmobilizar uma facção carioca que atua em uma comunidade de Belo Horizonte.
A operação Êxodo foi resultado de dois anos de investigação contra a atuação do TCP (Terceiro Comando Puro) na comunidade Cabana do Pai Tomás, na região oeste da capital mineira.
As ações comandadas pelos Gaecos (Grupo de Combate às Organizações Criminosas) da Polícia Civil e do Ministério Público de Minas resultaram na prisão de 14 suspeitos e na apreensão de 200 quilos de maconha, um fuzil calibre 556, dez pistolas de calibres variados, dois revólveres, 1.589 munições e três veículos.
Cerca de R$ 345 milhões em recursos dos envolvidos também foram apreendidos, e três pessoas estão foragidas.
As organizações apontaram que uma organização que atua no Cabana chamada “Sala VIP” se vinculou ao TCP e passou a reproduzir práticas que a facção adota no Rio de Janeiro, afirmou o delegado Marcos Vieira.
“Entre elas, estão a ameaça a moradores para utilização de serviço de internet e ações assistencialistas, como o fornecimento de alimentação em épocas natalinas, e apoio jurídico em caso de prisão de integrantes da facção”, disse o policial civil.
Outra característica da atuação do TCP são o uso da bandeira de Israel e versículos bíblicos em muros das comunidades onde está instalado.
A prática é caracterizada pelos agentes como “narcopentecostalismo”, apesar de não estar associada a qualquer líder religioso.
“Eles usam trechos bíblicos como uma forma de domínio de território e para se autopromover”, disse o delegado.
Promotora e coordenadora do Gaeco, Paula Lima afirmou que a atuação conjunta das forças conseguiu mapear também o braço financeiro da facção.
“É uma organização que movimenta altos valores de dinheiro, envolvida em tráfico de droga e de armas, e inclusive explora atividades lícitas, como internet e gás”, afirmou a promotora.
De acordo com as investigações, a lavagem de dinheiro do grupo envolvia pessoas físicas sem envolvimento direto com a criminalidade, mas que emprestam suas contas bancárias para o trânsito dos valores da organização, e de pessoas jurídicas, criadas exclusivamente para ocultar essas quantias.
Essas empresas não possuem funcionários e não declaram tributos, o que levou os agentes a identificá-las como fictícias, criadas com a finalidade de lavar capitais oriundos do narcotráfico.
O TCP é liderado por Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, traficante mais procurado do Rio de Janeiro. Ele é o responsável por fundar na capital carioca o Complexo do Israel, conjunto formado pelas favelas Cinco Bocas, Pica-Pau, Cidade Alta e pelos bairros de Parada de Lucas e Vigário Geral.
Peixão é conhecido por usar símbolos cristão e judaicos, como a estrela de Davi e a bandeira de Israel, e por denúncias de intolerância religiosa, como a expulsão de seguidores da umbanda e candomblé.
Em operação neste ano, policiais encontraram o que seria uma casa de luxo de Peixão. O ladrilho da piscina formava a estrela de Davi. O mesmo símbolo aparecia em aparelhos de ginástica em uma academia privada.
Nesta quarta, além das prisões em Belo Horizonte, um dos apontados como fornecedor de drogas da facção foi detido em São Bernardo do Campo (SP).
A operação também cumpriu 79 mandados de busca e apreensão nas capitais mineira e carioca e em Foz do Iguaçu (PR), Praia Grande (SP), Ribeirão Preto (SP), Paranaíba (MS), Sinop (MT) e Britânia (GO). Presídios de Minas e do Rio também foram alvo dos agentes.
Em BH, boa parte do estoque de armas e drogas do TCP estava no bairro Alto dos Pinheiros, que também foi alvo da apreensão, afirmou a Polícia Militar.
“Minas Gerais continuará sendo um local onde uma viatura da Polícia Militar, de qualquer segmento, possa subir qualquer comunidade, sem qualquer retaliação”, disse Flávio Santiago, chefe do Centro de Jornalismo da Polícia Militar.
ARTUR BÚRIGO / Folhapress