RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Polícia Civil do Rio de Janeiro e a Seap (Secretaria de Administração Penitenciária) realizaram nesta terça-feira (22) uma operação para impedir o avanço do Povo de Israel, uma nova facção que surgiu nos presídios fluminenses e se especializou em golpes via celular.
A polícia cumpriu 44 mandados de busca e apreensão, realizou bloqueio de contas correntes de 84 investigados e afastou cinco policiais penais, suspeitos de receber dinheiro da facção.
A investigação aponta que o Povo de Israel surgiu em 2004, dentro dos presídios do estado, como um grupo de detentos neutros, que não eram associados ao Comando Vermelho, ao Terceiro Comando Puro e ao Amigos dos Amigos, as três principais facções do tráfico de drogas.
A investigação começou há dez meses, através de um relatório técnico da Seap (Secretaria de Administração Penitenciária) que identificou o crescimento da facção na prática de falsos sequestros. As informações foram encaminhadas à DAS (Delegacia Antisequestro), da Polícia Civil.
A operação desta terça foi batizada de “13 Aldeias”, forma como os membros da facção chamam os 13 presídios em que estão, segundo a polícia.
Um relatório do grupo de combate à tortura da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) após uma visita à Cadeia Pública Patrícia Acioli, em São Gonçalo, apontou que a facção Povo de Israel era vista por detentos e policiais penais como um grupo do presídio como os detentos da faxina e da igreja.
Apesar do nome, não há relação entre a facção Povo de Israel e o complexo de Israel, na zona norte, conjunto de comunidades dominado pelo traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão. Também não há relatos de que a organização tenha relação com religião.
A Seap diz que cerca de 18 mil presos pertencem ao Povo de Israel. O estado do Rio tem, ao todo, 43 mil pessoas em privação de liberdade, em diferentes tipos de regime. A facção representaria, portanto, cerca de 42% dos detentos do estado e está em 13 presídios diferentes.
O Povo de Israel se especializou, segundo investigações, em extorsão por meio de golpes como o falso sequestro, em que detentos ligam para vítimas pedindo resgate. Desde 2023, a Seap afirma ter apreendido cerca de 7.000 aparelhos de telefone celular.
Segundo a polícia, o grupo movimentou cerca de R$ 70 milhões em dois anos.
Parte dos ganhos da facção é direcionado a um caixa único, em modelo similar ao surgimento do PCC (Primeiro Comando da Capital) e inédito no Rio. Os valores são divididos por funções: 30% para o dono do celular, 30% para o responsável pelo falso sequestro, 30% para a pessoa utilizada como laranja e 10% para o caixa único.
“O PCC começou assim há muitos anos”, afirmou o secretário de Segurança Pública do estado, Vitor dos Santos.
De acordo com a polícia, a cúpula do grupo usa laranjas e empresas de fachada, entre elas uma construtora que movimentou 4,1 milhões em dois anos. A operação desta terça fez busca e apreensão em uma casa lotérica no Espírito Santo, numa distribuidora de frutas e verduras no Ceasa (Centro de Abastecimento) de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, e em uma joalheria em Copacabana.
Os membros ainda atuam com tráfico de drogas, encomendando de fora para dentro do presídio.
A Seap afirma que abriu processo eletrônico para a compra de bloqueadores de celular, o que deve acontecer em até duas semanas. A ideia é que o aparelho comece a impedir as ligações telefônicas em janeiro do ano que vem.
Os aparelhos semelhantes atuais, como os instalados no complexo de Gericinó, são bloqueadores de sinal 3G e estão defasados, segundo a secretária estadual de Administração Penitenciária Maria Rosa Lo Duca.
“Desde 2004 todas as gestões tentam de alguma forma impedir que esses aparelhos funcionem dentro das unidades prisionais. Entretanto, no momento em que a operadora bloqueia o celular do preso, ela bloqueia também o entorno. Em Gericinó (o presídio de Bangu), ele bloqueia por exemplo o 14° BPM da Polícia Militar”, afirmou a secretária em entrevista coletiva a jornalistas nesta terça.
“Intensificamos diariamente as revistas na entrada da unidades prisionais. Temos também detectores de metais. Todos os servidores passam por esse procedimento.”
A polícia aponta Avelino Gonçalves Lima, conhecido como Alvinho, como o fundador do Povo de Israel. Alvinho está preso desde 2009. A reportagem tentou contato com a defesa de Alvinho via telefonema, mas não obteve resposta.
Além dele, também foram alvo da operação Marcelo Oliveira, o Tomate, Ricardo Martins e Jailson Barbosa. Os quatro já estavam presos e formam, segundo a investigação, a cúpula do Povo de Israel. Jailson e Ricardo fariam, de acordo com a apuração policial, os contatos com laranjas fora das cadeias.
A reportagem não conseguiu encontrar as defesas de Marcelo Oliveira, Ricardo Martins e Jailson Barbosa.
YURI EIRAS / Folhapress