Faculdade não reconhece diploma de técnica responsável por emitir laudos de órgãos com HIV

SÃO PAULO, SP, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Faculdade Unopar informou nesta segunda-feira (14) que não reconhece o diploma de biomedicina da técnica em patologia clínica Jacqueline Iris Bacellar de Assis, 36, que teria assinado laudos no laboratório PSC Lab Saleme, que está sob investigação por emitir exames com falsos negativos para HIV no Rio de Janeiro.

O atestado de formação foi apresentado pelo laboratório, que afirma ter recebido o documento de Jacqueline no momento de sua contratação. A técnica, por sua vez, afirma desconhecer o documento.

Os laudos emitidos na clínica resultaram na infecção por HIV de seis pacientes que receberam transplantes no estado do Rio. O laboratório está sob investigação e Jaqueline de Assis está foragida.

O PSC Lab Saleme afirmou que a técnica “informou ao laboratório diploma de biomédica e carteira profissional com habilitação em patologia clínica”. A clínica enviou o print de uma conversa com Jaqueline em que ela teria enviado o diploma da Unopar.

Procurada pela Folha, a instituição negou a formação acadêmica da investigada. “A Unopar não emitiu certificado de conclusão de curso de graduação, de qualquer natureza, para a Jacqueline Iris Bacellar de Assis.”

A defesa da profissional também afirmou que ela “jamais trabalhou como biomédica”, que “não tem capacidade técnica e nunca teve interesse na função” e que não reconhece o diploma citado pelo laboratório, pois a funcionária “jamais cursou ou tem a faculdade de biomedicina”.

O CRF-RJ (Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro) afirma que a técnica em laboratório possui inscrição ativa como profissional de nível médio. Para assinar laudos, no entanto, o conselho diz que é preciso ter uma formação acadêmica de nível superior.

Em entrevista à Folha antes de ser declarada foragida, a profissional disse que começou a trabalhar no local como supervisora administrativa em outubro de 2023 e que não assinava laudos. Segundo ela, seu nome estaria sendo usado como “laranja”.

“Só quem tinha o poder de vincular meu nome a um exame eram eles [os responsáveis pelo laboratório]. Qual o interesse em colocar meu nome como laranja?”, questionou Jacqueline, acompanhada do advogado, José Félix.

O nome da técnica aparece na assinatura de um dos laudos de uma mulher de 40 anos que morreu no Hospital Municipal Albert Schweitzer, na zona oeste da cidade, após ter os rins e fígado transplantados em maio. Em outubro, um dos receptores apresentou sintomas e recebeu resultado positivo para infecção por HIV.

“O que eu fazia em relação a esses laudos era uma conferência para verificar se estava tudo digitado corretamente, se a pontuação estava certa, porque havia laudos que precisavam de vírgula e não de ponto, por exemplo. Eu fazia essa conferência antes de enviar para os médicos liberarem”, explicou.

Nesta segunda-feira (14), a Polícia Civil informou que o PCS Lab Saleme operava com redução do controle de qualidade para obter lucro.

“Houve uma quebra do controle de qualidade para a maximização de lucro, deixando de lado os reagentes que precisam ser analisados sistematicamente”, afirmou André Neves, diretor geral do departamento de Polícia Especializada do Rio, em entrevista coletiva a jornalistas.

Segundo o delegado, houve uma determinação para que a análise dos reagentes, que deveria ser diária, passasse a ser semanal. “Assim, diminuíram o controle e assumiram, com essa lacuna, a chance de ter uma falha”, acrescentou.

Uma operação da Polícia Civil do Rio que tem o objetivo de identificar os responsáveis pela emissão dos laudos errados cumpriu 11 mandados de busca e apreensão e quatro de prisão na cidade do Rio e em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

Foram presos o médico ginecologista Walter Vieira, um dos sócios do laboratório, e o responsável técnico pelos laudos, Ivanilson Fernandes dos Santos. Gabriele Pereira, advogada de Ivanilson, assim como Afonso Destri, defensor de Walter Vieira, afirmaram que só irão se posicionar após terem conhecimento do inquérito.

Além de Jacqueline, o técnico de laboratório Cleber de Oliveira Santos também está foragido. O advogado da técnica em patologia, José Félix, no entanto, afirmou que ela vai se entregar ainda nesta segunda.

LAIZ MENEZES E BRUNA FANTTI / Folhapress

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