Falhas estruturais ameaçam planetário da zona leste de São Paulo

SALVADOR, BA, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A situação precária do planetário do parque do Carmo, na zona leste de São Paulo, diminui a vida útil de um equipamento que custou aos cofres públicos o equivalente a R$ 20 milhões, em valores atualizados, e foi desenhado para durar pelo menos cinco décadas.

O espaço, em Itaquera, tem 1.750 m² e capacidade para um público de 168 pessoas. As apresentações são gratuitas.

Mais moderno que seu análogo do Parque do Ibirapuera, o projetor alemão Zeiss Universarium VIII é capaz de exibir 9.000 estrelas na abóbada. Há apenas quatro desses aparelhos em atividade no mundo.

Fungos proliferam nas lentes do projetor, em razão da umidade do prédio. As oscilações de energia frequentes queimam placas e componentes eletrônicos da máquina, relata Luiz Sampaio, 72, dono da empresa Omnis Lux, responsável pela manutenção do equipamento e de outros sete projetores da fabricante Carl Zeiss pelo Brasil.

“Esse é o maior e mais sofisticado equipamento ótico de planetário produzido no mundo. É uma joia”, diz Sampaio. “Mas tem apresentado defeitos frequentes em função do excesso de umidade e da instabilidade elétrica do local.”

A reportagem esteve no planetário no último dia 16, um sábado. Devido a goteiras, havia 18 baldes espalhados pelo saguão de entrada que contorna a cúpula. Fungos são visíveis nas paredes e no teto do edifício. A tela de projeção apresenta marcas de ferrugem.

Um forte cheiro de mofo pode ser notado na cúpula de 20 m², onde o “céu” é projetado. Além disso, o local não tem estabilizador elétrico ou para-raios, o que obriga os funcionários a cancelarem sessões em dias de chuva.

Os problemas de infraestrutura são antigos. Inaugurado em 2005, o espaço funcionou apenas por dois anos antes de ser fechado para reformas, que se arrastaram até 2016.

“Foram feitos todos os reparos, com a melhor tecnologia, e nós estamos seguros de que estamos devolvendo o planetário para a cidade em condições de funcionar muitos anos sem nenhuma interrupção”, disse à época o então prefeito Fernando Haddad (PT), na cerimônia de reabertura. Hoje, o espaço recebe cerca de 4.000 pessoas por mês.

A atual Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, da atual gestão Ricardo Nunes (MDB), afirma que contratou empresa para reforma do local e que a obra será realizada “em breve”. O contrato está em elaboração.

A chefe de gabinete da secretaria, Tamires Oliveira, reconheceu em audiência pública na Câmara Municipal, em agosto, que a obra “enxuga gelo”. Para sanar o problema, segundo ela, seria preciso uma reconstrução do zero.

“O planetário tem problemas desde que foi construído, no início dos anos 2000. A compactação de solo não foi feita de maneira adequada. Tudo que a gente faz hoje é para dar sobrevida”, afirmou.

À reportagem o vereador Alessandro Guedes (PT), responsável por convocar a audiência, defende uma reforma mais ampla. “O investimento não é do tamanho que o espaço precisa, considerando que há problemas estruturais”, diz.

O projeto de reforma contratado pela prefeitura prevê gasto de R$ 1,5 milhão com “reparo no telhado e na estrutura, impermeabilização, revisões do sistema elétrico e do sistema de proteção contra descargas atmosféricas”.

Artur, 7, foi levado pela primeira vez ao planetário do Carmo naquele sábado. Os pais, Rodrigo, 39, e Caroline, 38, moradores de Itaquera, contam que a criança é autista e desenvolveu hiperfoco em astronomia há três meses.

“Ele fala de buracos negros, anéis de poeira e da distância entre os planetas, então o trouxemos”, diz a mãe.

Os pais de Artur reclamam da falta de divulgação do planetário. As visitas podem ser agendadas online mas, segundo o casal, o site apresentava mau funcionamento. “Indicava ingressos esgotados”, diz a mãe. “Chegando aqui, descobrimos que era só pegar os passes na bilheteria.”

A reportagem checou o funcionamento da bilheteria digital e obteve o mesmo resultado.

A ilustradora Luanda Soares, 42, estava com seus filhos gêmeos Pedro e Gabriel, 7, no planetário. Moradora de Cidade Líder, bairro na zona leste, ela se surpreendeu ao descobrir que o espaço estava aberto. A última vez em que esteve no local foi entre 2005 e 2007.

“Eu me aproximei por acaso, estava aberto e entramos. Moro na região e não ouço falar do planetário. Tem uma aparência de abandono.”

A prefeitura afirma que divulga a programação do planetário nas redes sociais oficiais, da Umapaz (Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz), da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente e da Prefeitura de São Paulo. Informações também estão disponíveis nos sites da Umapaz e da prefeitura.

LUANA LISBOA E MARCOS HERMANSON / Folhapress

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