SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Nas últimas semanas, uma campanha chamou a atenção dos seguidores de várias famosas nas redes sociais. Celebridades como Tata Werneck, Cláudia Raia e Viih Tube apareceram em seus stories exaltando as vantagens da Serra Ribeiro, uma “assessoria de salário-maternidade”.
Segundo o site oficial da empresa, a Serra Ribeiro Assessoria “desenvolve um trabalho para assegurar o direito da mamãe em receber o salário-maternidade”. “Nossa equipe está capacitada para te ajudar a garantir esse direito”, completa a página.
Ocorre que o salário-maternidade é um benefício concedido pelo INSS sem a necessidade de intermediação. Ele pode ser pedido por gestantes e mães de crianças de até 5 anos que precisaram se afastar de suas atividades profissionais em razão do parto ou adoção.
A Serra Ribeiro, uma empresa privada de Londrina, no Paraná, oferece o serviço de reunir os documentos e fazer a inscrição no site do governo -algo que pode ser feito de graça e pela própria beneficiária. A propaganda vem tendo repercussão negativa nas redes sociais, já que a empresa cobra uma taxa de 30% em cima do próprio benefício.
No começo do mês, a empresa investiu pesado na divulgação dos seus serviços via influenciadores e artistas. A lista é grande: além de Tata, Claudia e Viih Tube, fizeram propaganda o marido desta última, Eliezer, a dupla Maiara e Maraísa, a ex-BBB Paula Amorim, a influencer Gabriela Morais (ex-Pugliesi), a sertaneja Thaeme, da dupla com Thiago, Maíra Cardi, Nicole Bahls e outros. Após as críticas na internet, os stories foram excluídos dos destaques da empresa no Instagram.
Procurado pea Folha de S.Paulo, o INSS disse que acionou a Procuradoria Federal Especializada e pediu providências sobre a utilização da marca em plataformas, redes sociais e afins. O órgão afirmou, via assessoria de imprensa, que os vídeos dos famosos que fizeram campanhas para a empresa estão incluídos no pedido encaminhado à procuradoria.
“A Procuradoria Federal Especializada do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), órgão de execução da Procuradoria-Geral Federal vinculado à AGU, encaminhou a solicitação recebida do INSS para conhecimento e atuação conjunta do departamento de Polícia Federal, da Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil e da Autoridade Nacional de Proteção de Dados, além de adotar outras medidas internas com o objetivo de instruir a adoção das medidas cabíveis para o caso”, afirmou o INSS em nota enviada à reportagem.
A Serra Ribeiro continua operando normalmente, porém deixou de usar a conta “Salário Maternidade Brasil” no Instagram, que estava ativa até o começo desta semana. O INSS já fez campanhas alertando contra “golpes” e “fraudes” envolvendo empresas que prestam esse tipo de serviço. Apesar de não ser ilegal, as ditas assessorias cobram por um serviço que não é necessário, uma vez que o próprio beneficiário pode se cadastrar gratuitamente na plataforma e no aplicativo do órgão.
O INSS afirma ainda que “sites e redes sociais que oferecem facilidades e se apresentam como canais para conseguir o salário-maternidade não são canais oficiais e devem ser vistos com desconfiança, pois podem representar risco à segurança de dados do cidadão”.
Procuradas pela reportagem, Tata Werneck, Claudia Raia, Viih Tube, Eliezer, Gabriela Morais, Nicole Bahls, Maíra Cardi e Paula Amorim preferiram não se manifestar sobre o assunto. Maiara e Maraísa disseram, via assessoria de imprensa, que não participaram da campanha e acreditam se tratar de uso de inteligência artificial. Thaeme confirmou ter feito a campanha, mas disse não ter conhecimento da repercussão negativa do cliente.
‘INSS NEGA PEDIDOS ARBITRARIAMENTE’
O advogado da Serra Ribeiro, Gabriel Bertin, afirmou à Folha de S.Paulo que o serviço prestado pela empresa não é ilegal e que a companhia não responde a nenhum processo. “Não há nada de errado com o serviço. A pessoa pode conseguir o benefício sozinha e ela é informada disso”, diz.
Segundo o advogado, cerca de 70% da clientela é formada por mães que já fizeram o pedido no aplicativo do INSS e tiveram o benefício negado. “Por diversos motivos: cadastrais, falha em algum documento ou comprovante, computagem equivocada do próprio INSS”, exemplifica. “Muitos pedidos são negados arbitrariamente pelo INSS.”
Questionado se os stories da campanha foram retirados do ar após a repercussão negativa, o advogado afirmou que “essas inserções são de curto prazo”. Bertin também ressalta que a assessoria tem vários concorrentes que prestam o mesmo tipo de serviço. “A empresa tem convicção de que o serviço prestado não tem nenhum tipo de irregularidade e vai continuar operando, inclusive o feedback dos clientes é muito positivo”, diz.
ANAHI MARTINHO / Folhapress