RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Eles estão em todos os lugares. Pode ser no saguão de um aeroporto, na entrada do Projac (complexo de estúdios da Globo), em um teatro ou em um shopping. Não importa o local, se tem famosos, eles batem ponto por lá.
São fãs de todas as idades em busca de fotos e vídeos com seus ídolos, e quem sabe também, um bate-papo, se houver oportunidade. O autógrafo foi substituído pela câmera do celular, e postado quase que instantaneamente em redes sociais, angariando seguidores aos fãs -e também haters.
A ilustre figura pode ser o protagonista de uma novela, uma apresentadora ou até mesmo uma subcelebridade recém-saída do Big Brother Brasil. Alguns não têm um ídolo específico, o interesse é em registrar o momento ao lado da pessoa notória, e claro, exibir esse encontro nas redes. A interação e a disposição do artista pode variar bastante dependendo do local: se for no aeroporto, é comum a celebridade estar apressada, e às vezes com cara de poucos amigos. Mas isso parece não inibir a abordagem dos caçadores de famosos.
Um dos principais passatempos de Estefânia Freitas, 46, é esbarrar com personalidades da mídia; o interesse surgiu por acaso: “Em 2022, quando a Jade Picon foi eliminada do BBB, eu senti vontade de conhecê-la pessoalmente”; e desde então Fânia, como é conhecida, não parou mais.
Ela costumava ir com frequência ao aeroporto Santos Dumont, mas nos últimos tempos, tem frequentado teatros e livrarias -sem abandonar o terminal aéreo, jamais. “Não é o local mais fácil [para vê-los], pelo contrário, lá é uma questão de sorte”, diz a moradora do bairro da Glória e mãe de dois rapazes.
Em seu álbum de fotos com celebridades, há estrelas de todos os níveis, de Xuxa ao vencedor do BBB 24, Davi Brito, que ela fez questão de tentar encontrar no aeroporto quando soube que ele estaria lá.
O veterinário e servidor público Wilson Winter, 47, também tem o hábito de abordar artistas em diversos locais, porém com uma proposta diferente. Dono de uma coleção de 207 LPs, entre trilhas sonoras de novelas, filmes nacionais e minisséries, o curitibano costuma fazer fotos com os atores que estamparam essas capas, geralmente a imagem segue o mesmo padrão: a pessoa famosa da capa segurando o vinil.
Assim como Fânia, a ideia surgiu também por acaso. “Em 2014, a Claudia Raia veio a Curitiba e pensei ‘pena que ela nunca gravou um disco, vou levar o da novela Sassaricando com ela na capa’, então comecei a fazer isso com todos”.
Apesar de morar no Paraná, ele vai muito ao Rio de Janeiro, sempre a sua maleta repleta de discos que ainda não foram autografados e fotografados. Seus pontos de interesse são o aeroporto, a entrada do Projac e Shopping da Gávea. Uma vez que avista um artista, rapidamente procura em seu acervo a tiracolo se tem algum com ele/ela na capa.
“Era sorte, carregava o que conseguia, e já perdi Francisco Cuoco, Guilherme Leme e Giulia Gam por não estar com o disco na hora”, revelou ele, que hoje leva menos peso na maleta por já ter mais da metade do seu acervo assinado.
Em um dos vinis, Wilson ganhou mais que um autógrafo, mas uma marca de batom da atriz Suzy Rego, bem na capa do LP de “Top Model”. Procurada pela reportagem, a atriz, atualmente em cartaz com a peça Cá Entre Nós, em São Paulo, falou sobre o assunto. “Sou sempre tratada com extremo carinho, e retribuo isso, procuro sempre receber as pessoas com educação, respeito, com sorriso no rosto e olhos nos olhos; isso acontece muito em aeroporto, e sempre tem um tempinho para uma foto e uma conversa breve”, contou a atriz.
Em Curitiba, Wilson geralmente vai ao hotel ou teatro já com o vinil específico em mãos. A iniciativa de Wilson já rendeu elogios de alguns atores, e encontros chegaram a ser agendados: “Já entrei em contato pelo Instagram, até hoje apenas a Monique Curi, João Vitti e a Ingra Liberato me responderam e marcaram um encontro comigo, mas isso é raro”, conta orgulhoso.
Ingra, protagonista da novela “Ana Raio e Zé Trovão”, exibida em 1990, na extinta Rede Manchete [1983-1999], ficou surpresa com a ideia dos vinis, quando Wilson a conheceu em um sítio em Vargem Grande, zona oeste do Rio: “Ela fez um vídeo com o próprio celular e postou uma legenda de emocionar qualquer um”, lembra.
Diante de tantos nomes notórios, perguntado quem era seu ídolo, ele respondeu sem hesitar, “Patrícia França, deu muito trabalho encontrá-la”. Wilson revela como foi a sua saga para conhecer a atriz popular nos anos 1990, em novelas como “Sonho Meu” (1993). “Ela não tem rede social, o Instagram dela é administrado por um fã, mas uma amiga que trabalhou com ela em 1996 fez a ponte e ela me respondeu”. Ele conta como foi o encontro: “marcamos no shopping, ela autografou as capas, tiramos fotos e ficamos um tempão conversando”, conta o fã.
Indagado sobre alguma situação inusitada, ele se recorda quando encontrou Tony Ramos acompanhado da esposa, Lidiane, em uma livraria no Rio. O ator foi educadíssimo, como sempre, mas um pouco formal ao ser abordado por ele carregando os LPs de “Anjo de Mim”, “Selva de Pedra” e “O Sorriso do Lagarto”. “O Tony disse ‘prefiro que você segure, se não vai parecer que estou vendendo os discos'”, lembra.
OS MAIS SIMPÁTICOS (E OS MENOS)
Ele se intitula no Instagram como ‘o maior caçador de famosos’. De fato, Rolin Maia, 33, tem uma vasta coleção de imagens ao lado de celebridades. Veterano no ramo, ele conta que desde os 13 anos tem o hábito de procurar artistas em todos os lugares.
Morador da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, seus encontros mais recentes foram na porta do complexo de estúdios da Globo com três nomes de peso: Xuxa, Angélica e Eliana. Contudo, suas ídolas não são as ex-apresentadoras infantis, mas a cantora Joelma. “Sempre fico nervoso e encantado quando a encontro”, contou ele que concilia a função de cabeleireiro com a ‘caça aos famosos’.
O porteiro Uendrio Sousa, 27, começou no, digamos, ofício, por acaso, também há 12 anos, por meio de um amigo que era figurante na emissora: “Fui ao programa da Fátima Bernardes [plateia], lá vi o ator Bruno Gissoni, e ali começou o interesse porque notei que era fácil vê-los”, diz.
Ao contrário de Fânia que diz ter Deus como único ídolo, Uendrio tem vários. Mais que ídolos, musas. “Sou fã da Marina Ruy Barbosa, Grazi Massafera e Maisa Silva. A Grazi me conhece, quando nos encontramos a gente conversa… Tenho contato com a Marina também, são pessoas maravilhosas”, derrete-se.
Questionados sobre as celebridades menos simpáticas, a maioria preferiu omitir nomes, e foram unânimes ao declarar que lidam numa boa quando um artista não é muito cortês. “Já aconteceu muitas vezes, no começo achava um absurdo, por exemplo, a Paula Toller, Cássia Kis e o Péricles, gosto das músicas dele, mas não achei que ele foi tão assim…”, disse Uendrio buscando um adjetivo para descrever a experiência.
Contudo, ele revela que atualmente nem liga quando isso acontece, deduzindo que o famoso “provavelmente estava em um dia ruim”.
Wilson também se recorda quando uma atriz teve uma atitude nada agradável com ele. “Não posso citar o nome, mas ela esticou o braço em minha direção e fez sinal de ‘não’ com o dedo, sem nem olhar na minha cara”, relata. Rolin também faz mistério sobre os menos cordiais. “Quase todos são acessíveis. Sobre tratar mal, já aconteceu, mas não liguei”.
“Já abordei alguns que não quiseram me atender, e outros que mesmo dizendo que não era uma boa hora, pois estavam cansados, atenderam; mas compreendo se não quiser, não julgo por não querer fazer uma foto”, afirma Fânia. Ela lembra de uma ocasião quando encontrou a veterana atriz Glória Menezes, 89. “Ela estava de cadeira de rodas, entendi perfeitamente. Fiquei feliz de ela ter falado comigo, o ‘não’ faz parte da nossa vida, e ela não gosta de ser fotografada em cadeira de rodas, é compreensível”, comentou.
Entre os caçadores de famosos não existe rivalidade, eles já se conhecem por frequentarem os mesmos locais, onde laços de amizade são gerados. Fânia e Wilson são amigos, e já foram duas vezes a São Paulo para acompanhar lançamento de livros e filmes.
ENTRE ELOGIOS E CRÍTICAS
Nos comentários dos posts publicados em sua maioria no Instagram, as opiniões se dividem entre elogios e observações em tom jocoso. O termo “desocupados” é um dos mais utilizados pelos internautas, mas os fãs não se abalam com as críticas.
“No início sentia muito, realmente tem alguns que são bem pesados, existem pessoas que não respeitam”, desabafou Fânia que, antes de entrar para essa vida, pediu a opinião dos filhos. “Perguntei se estava envergonhando eles, e disseram que não, meu companheiro fica feliz por mim, então, isso é o que mais importa para mim”.
Alvo também de críticas, Wilson relembra uma das frases mais comuns: “Joga uma carteira de trabalho nesse monte de desocupados pra ver se não correm todos”; em seguida, ele faz uma declaração, quase um esclarecimento: “Como todo trabalhador, tenho férias, feriados e fins de semana, sou solteiro, sem filhos e uso meu tempo livre para isso, não sou um desocupado como muitos pensam”.
É inevitável que as redes sociais estreitaram a relação entre anônimos e famosos, algo impensável antes, quando a televisão e o rádio eram os únicos meios de informação e entretenimento para o público. Os ‘fãs-paparazzi’ também tem desfrutado dessa notoriedade, Rolin, por exemplo, se considera um influencer digital no segmento e conta com 477 mil seguidores.
Enquanto Wilson descobriu um nicho inédito, “Instagram de fotos de famosos, há vários por aí, mas com discos de trilha sonora, só eu tenho. Por que ser apenas mais um se posso ser o único?”, pergunta-se, já com a maleta de LPs pronta para sua próxima parada: as noites de lançamento do livro de Aguinaldo Silva, que aconteceram dias atrás, no Rio e em São Paulo.
ANDRÉ ARAM / Folhapress