PELOTAS, RS (FOLHAPRESS) – O Fed (Federal Reserve) decidiu nesta quarta-feira (7) manter a taxa de juros dos Estados Unidos na faixa de 4,25% a 4,50% pela terceira vez consecutiva. A decisão, tomada de forma unânime entre os diretores, ocorre em meio à incerteza econômica induzida pelas políticas tarifárias do governo de Donald Trump e aos apelos do republicano por um corte de juros.
A manutenção da taxa era esperada pelo mercado, uma vez que as autoridades do Fed já vinham indicando que queriam ter uma visão mais clara dos rumos da economia antes do próximo movimento na taxa de juros.
Conversando com jornalistas após a divulgação da decisão, o presidente do Fed, Jerome Powell, defendeu que o banco está numa boa posição para esperar antes de mudar a política monetária e que os pedidos de Trump “não afetam em nada o trabalho e as decisões” do banco.
No comunicado desta quarta, o comitê de política monetária (Fomc, na sigla em inglês) afirmou que a economia continua expandindo em “ritmo sólido” apesar do impacto das variações nas exportações nos dados econômicos -visão reforçada por Powell na entrevista. A estabilidade da taxa de desemprego em níveis baixos e um mercado de trabalho firme também ancoraram a decisão do Fed.
No entanto, o comunicado oficial elevou o tom em relação ao anterior, afirmando que “a incerteza sobre as perspectivas econômicas aumentou ainda mais”, com riscos maiores de aumento tanto da inflação quanto do desemprego. “Apesar da incerteza elevada, a economia ainda está em uma posição sólida. Achamos que é apropriado nos mantermos pacientes”, reforçou Powell.
Powell acrescentou que o banco segue focado no duplo objetivo de zelar pelo mercado de trabalho aquecido e atingir a meta de 2% de inflação, mas reconheceu que as tarifas podem desafiar esse trabalho.
Na última reunião do Fed, em março, as autoridades diminuíram a expectativa de crescimento do PIB neste ano, aumentaram projeções para inflação e projetaram uma taxa de desemprego mais alta no fim de 2025. Powell disse à época que essas perspectivas tendem a ser uma consequência das tarifas.
De lá para cá, as políticas comerciais continuaram muito instáveis. Duas semanas depois da reunião do banco, Trump anunciou tarifas sobre a maioria dos parceiros comerciais dos EUA e acelerou uma guerra comercial com a China.
Em seguida, as tarifas recíprocas sobre a maioria dos países foram pausadas para negociações, e a tensão com os chineses continuou crescendo. Os mercados financeiros também oscilaram violentamente no intervalo entre as reuniões do banco em resposta às tarifas.
Para um banco que vem se definindo como “dependente de dados” nos últimos anos, os indicadores econômicos divulgados nas últimas semanas ofereceram pouca previsibilidade: enquanto o PIB caiu no primeiro trimestre, a criação de empregos em abril ficou acima das expectativas e os gastos dos consumidores cresceram.
“Os dados que estão chegando não são nem bons nem ruins o suficiente para forçar o Fomc a revelar suas intenções”, escreveu Steve Englander, chefe de estratégia macro do Standard Chartered para a América do Norte. “Não fazer nada e dizer menos é provavelmente uma opção bem-vinda quando há tanta incerteza sobre as políticas fiscais e tarifárias e suas consequências econômicas e no mercado de ativos.”
Enquanto isso, a inflação, medida pelo índice PCE, que o Fed usa para definir sua meta de inflação de 2%, desacelerou em março para 2,3%, taxa mais baixa em cerca de meio ano. O resultado virou argumento para Trump, que voltou a pedir o corte da taxa de juros.
“Os consumidores esperam há anos para ver os preços caírem. SEM INFLAÇÃO, O FED DEVE BAIXAR SUA TAXA!!!”, escreveu na rede social Truth Social no dia 2 de maio. Dias depois, Trump disse que o presidente do Fed não era seu fã. “[Powell] deveria cortar os juros. E, em algum momento, vai fazer isso. Mas preferiria não fazer porque não é meu fã. Ele simplesmente não gosta de mim”, disse em entrevista à NBC News.
Investidores esperam que os juros permaneçam na faixa de 4,25% a 4,50% até a reunião do Fed em 29 e 30 de julho. A maioria dos economistas espera um alívio da política monetária em 2025, embora muitos não acreditem que haja evidências suficientes de fraqueza no mercado de trabalho que justifiquem uma resposta até o meio do ano.
Assim como muitas das tarifas de Trump, o impacto sobre a inflação pode não ser sentido por meses. Trump decidirá somente em julho se vai impor as tarifas mais agressivas sobre dezenas de países. Taxas finais sobre automóveis importados e outros itens também estão indefinidas.
Autoridades do Fed já vem afirmando que as tarifas devem aumentar a inflação e podem afastar o banco da meta de 2% -a questão é se esse será um aumento pontual ou o início de um problema de inflação mais persistente. A resposta pode determinar com que cuidado o Fed irá agir em termos de redução.
“Nossa obrigação é manter as expectativas de inflação de longo prazo bem ancoradas e garantir que um aumento único no nível de preços não se torne um problema de inflação contínuo”, disse Powell em um discurso em abril.
Para muitos especialistas, a política tarifária de Trump bota o banco em um dilema entre cortar as taxas para ajudar a evitar uma desaceleração econômica acentuada ou mantê-las altas para prevenir um novo surto de inflação.
“Acreditamos que a pressão inflacionária pesará mais no balanço de riscos da autoridade monetária, restringindo os graus de liberdade do Fed na condução da política monetária no futuro”, avalia Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. Ele acrescenta que, se houver sinais mais claros de perda de dinamismo no mercado de trabalho, haverá espaço para intensificação de cortes ao longo do ano.
HELENA SCHUSTER / Folhapress