SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) decidiu nesta quarta-feira (18) manter a taxa de juros dos Estados Unidos no patamar de 4,25% a 4,50% pela quarta vez consecutiva. A decisão, tomada de maneira unânime pelos diretores, intensifica uma crise entre a entidade e o presidente dos EUA, Donald Trump, que tem pressionado por um corte de juros.
A manutenção era esperada pelo mercado, com o Fed afirmando que as perspectivas econômicas se mantêm nebulosas em meio à guerra comercial de Trump e à escalada da guerra entre Israel e Irã.
A decisão, contudo, promete intensificar as pressões de Trump sobre o BC americano. Mais cedo nesta quarta, o republicano afirmou cogitar nomear a si mesmo para dirigir o banco central por Jerome Powell, presidente do órgão, fazer um “trabalho ruim”.
Antes da decisão do Fed ser anunciada, às 14h55, o dólar estava estável, com alta de 0,06%, cotado a R$ 5,499, em antecipação aos posicionamentos do órgão e do Banco Central, que também divulgará o juro brasileiro nesta quarta. A Bolsa subia 0,08%, a 138.961 pontos.
Na última reunião do Fed, em maio, as autoridades do Fed afirmaram que as incertezas sobre as perspectivas econômicas haviam aumentado ainda mais. O comitê de política monetária (Fomc, na sigla em inglês) disse haver sinais de riscos de maior inflação e desemprego.
No final do mesmo mês, o chair do Fed, Jerome Powell, e Trump se reuniram na Casa Branca para discutir questões econômicas. Foi o primeiro encontro entre os dois no segundo mandato do presidente americano.
Durante a reunião, Powell disse a Trump que a política monetária dos EUA seria ditada exclusivamente pelos dados econômicos e pelas perspectivas.
De acordo com o Fed, o presidente da entidade “não discutiu suas expectativas para a política monetária, exceto para enfatizar que o caminho da política dependerá inteiramente das informações econômicas recebidas”.
Trump, por outro lado, disse acreditar que o presidente do Fed “comete um erro ao não reduzir as taxas de juros” porque isso coloca os Estados Unidos “em desvantagem econômica em comparação com outros países”, segundo a Casa Branca.
Desde a última decisão do Fed em maio, os EUA buscaram firmar acordos com os parceiros comerciais. O governo Trump e a China anunciaram uma trégua para reduzir as tarifas recíprocas por 90 dias pouco dias depois da definição do BC americano.
Também em maio, os EUA e Reino Unido anunciaram um acordo comercial, primeiro desde o “tarifaço” em abril.
Após Trump e Xi Jinping, presidente da potência asiática, conversarem ao telefone, os países anunciaram um acordo comercial no começo de junho.
Segundo o republicano, o tratado define que a China forneça imãs e minerais de terras raras aos EUA em troca da liberação do acesso de estudantes chineses às universidades americanas. Nenhuma nova informação sobre o acordo foi revelada desde então.
O Fed tem adotado uma postura mais comedida durante o governo Trump. Em abril, Powell afirmou que a obrigação do Fed é “manter as expectativas de inflação de longo prazo bem ancoradas e garantir que um aumento único no nível de preços não se torne um problema de inflação contínuo”.
“Apesar da incerteza elevada, a economia ainda está em uma posição sólida. Achamos que é apropriado nos mantermos pacientes”, afirmou Powell à época.
Segundo dados do índice PCE (Sigla para Preços para Gastos de Consumo Pessoal), a inflação dos EUA aumentaram 2,1% nos 12 meses até abril. O estudo realizado pelo Departamento de Comércio americano e é o preferido do Fed.
O presidente dos Estados Unidos, contudo, tem criticado a postura do Fed. Ele pediu no começo de junho para o órgão diminuir a taxa de juros em um “ponto completo” após dados mostrarem um enfraquecimento do mercado de trabalho do país.
Dados do Escritório de Estatísticas do Trabalho do Departamento do Trabalho, mencionados pelo republicano, mostraram que economia dos EUA criou 139 mil empregos em maio. A taxa de desemprego permaneceu em 4,2%.
“A preferência revelada pelo Fed é ficar em espera devido à incerteza de Trump. Eles são sempre um grupo conservador e, com riscos para ambos os lados de seu mandato, a tendência é esperar e ver se os próximos meses resolverão seu dilema”, afirmou Dario Perkins, economista da TS Lombard.
As autoridades do Fed dizem buscar maior clareza sobre o caminho da economia rumo a uma inflação mais alta ou a um crescimento mais fraco antes de dar novas orientações sobre os juros, mas, até o momento, a perspectiva de aumento dos preços e de desaceleração do emprego continua sendo uma possibilidade.
MATHEUS DOS SANTOS / Folhapress
