SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Sob as recém-restauradas estruturas de madeira, concebidas por Erwin Hauff na Mercado Livre Arena Pacaembu -novo nome oficial do estádio que é símbolo da art déco em São Paulo-, a feira de arte ArPa chega à sua quarta edição. Com abertura para convidados nesta quarta-feira (28), o público poderá ver, a partir de quinta (29) os trabalhos de 60 galerias, representando 14 países, com artistas consolidados e novas apostas do mercado.
O evento ocorre simultaneamente ao Made, o Mercado Arte Design, que reúne 50 estúdios e nomes do design brasileiro contemporâneo. Com o tema “Substrato: Da Ideia à Matéria”, a proposta é uma imersão no processo de criação dos objetos, desde a idealização à materialização.
De média escala, menor que eventos como a SP-Arte e a ArtRio, a ArPa é centrada em nomes da América Latina e busca priorizar qualidade sobre quantidade. Para a diretora-geral Camilla Barella, a estratégia curatorial é que cada estande sirva como uma pequena exposição.
São três setores. O “Principal”, maior deles, traz projetos coletivos e individuais de galerias nacionais, como Almeida Dale e Mendes Wood DM, e internacionais, como Constitución, da Argentina, e OMR, do México.
Serão exibidos tanto artistas históricos, como Jandyra Waters, que morreu em janeiro, aos 103 anos, a nomes que conquistam espaço no cenário, como Tatiana Chalhoub, que expõe obras inéditas.
Já o setor “UNI” reúne 12 exposições sob curadoria da colombiana Ana Sokoloff, que o concebeu para servir, simultaneamente, como refúgio e provocação.
“A ideia foi reunir vozes artísticas capazes de confrontar tópicos complexos por meio da clareza estética e profundidade emocional”, afirma a curadora, que tem passagem pela Sotheby’s e Christie’s.
É o caso de artistas como Camila Rodríguez Triana, colombiana com obras baseadas em visões do mundo indígena, e Ad Minoliti, argentina com exposição solo em cartaz na Pinacoteca de São Paulo, cuja prática mescla a abstração geométrica com teoria feminista, ficção científica e geografia lúdica.
“São práticas que não fogem do desconforto. Elas o iluminam através de gestos corporais, memórias ancestrais e imaginação especulativa”, afirma.
Como Ventura Profana, que traz referências estéticas da espiritualidade afro-brasileira e da estética pentecostal, criando performances imersivas, que reivindicam o espaço sagrado como um local de abundância queer.
“O mais poderoso é como esses temas são apresentados por lentes culturais específicas -latino-americanas, indígenas, queer, afro-diaspóricas- produzindo um arquivo de sensibilidades que é tanto geograficamente fundamentado quanto globalmente ressonante”, diz a curadora.
Esse interesse se reflete também num levantamento feito pela feira com cerca de 300 pessoas que atuam no mercado da arte. Entre os resultados, 88% notaram aumento no interesse por artistas latino-americanos. Além disso, a maioria vê o cenário de negócios no Brasil positivo -40% o avalia como estável, e 28% disseram ver sinais de aceleração.
Obras com identidade territorial e narrativa forte são as com maior interesse curatorial (46%), seguidas por trabalhos de artistas historicamente marginalizados (32%) e pelos artistas considerados “populares” (21%).
Dos 12 artistas selecionados no setor “UNI”, mais da metade são mulheres. “Isso reflete mais do que uma decisão curatorial”, diz Sokoloff, “reflete uma transformação estrutural já em andamento”. Aliás, quase metade das galerias que participam da ArPa são lideradas por mulheres.
Já o terceiro setor, “Base”, se aproxima de um lado pedagógico da arte. Para essa seção, artistas convidaram outros nomes para pensar um projeto em conjunto, prevendo também conversas abertas para o público.
São artistas como Dalton Paula, que convidou Genor Salles, seu colega na residência artística Sertão Negro. Ou Dora Longo Bahia, coordenadora do curso de artes visuais da Universidade de São Paulo, que formou inúmeras gerações de artistas e expõe com o grupo de pesquisa Depois do Fim da Arte, que busca investigar a finalidade da arte contemporânea.
De olho nesse aspecto, a pesquisa da ArPa apontou, ainda, que o mercado da arte é percebido como fechado e restrito por 56% dos respondentes. Para Barella, a diretora-geral, o próprio nome do evento abrevia a expressão “arte participativa”, e a ideia é promover mais diálogo entre instituições, artistas e público. “Não quero que represente meu olhar, mas que traga muitos olhares e que, por meio desta escuta e participação, possamos contribuir na construção da comunidade artística e na sua expansão”, afirma.
FEIRA ArPa E MADE
Quando De qui. (29) a dom. (1°)
Onde Mercado Livre Arena Pacaembu – r. Capivari, São Paulo
Preço R$ 60 (inteira)
Link https://arpa.art/
LARA PAIVA / Folhapress
