BOGOTÁ, COLÔMBIA (FOLHAPRESS) – Enquanto as florestas pegam fogo lá fora, nos corredores de uma feira de arte na Colômbia as obras expostas nas paredes sonham com um respiro. São incontáveis as pinturas, desenhos, vídeos e instalações à venda na Artbo, a Feira Internacional de Arte de Bogotá, que representam árvores, folhas, flores -enfim, um verde luxuriante em vias de desaparecer ou já extinto.
São as selvas figurativas das ilustrações de Tatiana Arocha, da galeria Montenegro Art Projects, os rios no limite da abstração, feitos em grafite sobre papel por Santiago Reyes, do Instituto de Visión, a densa vegetação aquática em tinta acrílica sobre tela de Brenda Cabrera, da Collage Habana, ou as árvores de arame retorcidas de Luis Fernando Peláez, da Sextante.
Esta edição da Artbo, que celebra seus 20 anos, é “marcada por um questionamento sobre a crise ambiental”, escreve na apresentação do evento a diretora e fundadora, María Paz Gaviria. Em conversa com a reportagem, ela diz que o tanto de obras sobre meio ambiente é uma tendência de mercado, mas não só.
“Talvez a arte fale de um momento particular que é comum. Acho curioso como em cada uma das nossas feiras sempre parece haver um monte de trabalhos relacionados a algo”, afirma.
Embora esteja fora do mapa das grandes feiras de arte globais, em duas décadas de existência a Artbo encontrou o seu lugar como um evento notável da América Latina, capaz de atrair profissionais de instituições de vários países.
Nos corredores da feira circulavam representantes do Museu de Arte Contemporânea de Barcelona, do museu Reina Sofía, de Madri, do Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, o Malba, e do Guggenheim, de Nova York.
Isso sem contar os colecionadores -mulheres com óculos da Prada e bolsas da Hermès e homens de blazer fazendo compras para decorar os seus apartamentos em bairros ricos e arborizados de Bogotá.
Com 40 galerias no setor principal, sendo 15 de fora da Colômbia, a Artbo é pequena e não esgota o visitante. Apesar do tamanho intimista, a feira parece mais internacional do que a SP-Arte, por exemplo, não só porque há mais marchands estrangeiros proporcionalmente em relação à feira paulistana, mas também porque se ouve inglês o tempo todo nos estandes.
De acordo com Gaviria, a diretora, a feira foi crucial em desenvolver o mercado de arte local nos últimos 20 anos. “A Colômbia, diferentemente de outros países da América Latina, como o Brasil, tem menos uma história de colecionismo e de galerias a abertura de galerias e o crescimento do colecionismo foram marcados pela Artbo”, ela diz, acrescentando que o evento é o momento mais forte para a venda de obras de arte no mercado colombiano.
Além disso, de acordo com marchands, a Artbo é uma importante plataforma de internacionalização de artistas. Omayra Alvarado-Jensen, diretora-executiva da galeria colombiana Instituto de Visión, com sedes em Bogotá e Nova York, afirma que a feira faz um bom trabalho em trazer colecionadores e curadores estrangeiros, que acabam conhecendo os nomes representados por ela. Foi a partir disso, acrescenta, que a Instituto de Visión começou a participar de feiras fora da Colômbia.
Se os benefícios para os marchands locais parecem óbvios, o mesmo não se pode dizer para quem vem de fora. Fernanda Resstom, fundadora da galeria Central, de São Paulo, que participa este ano pela terceira vez da feira, afirma que, como a Artbo está mais próxima da América Central, ela atrai público tanto da América do Norte quanto dos países do sul do continente.
Diz ainda que faz sentido para ela mostrar os artistas que representa, todos brasileiros, para um outro público que não seja o do Brasil. A Central exibe fotos em preto e branco de Ros4, mulher trans que documenta seu processo de transição, e uma série em que Lourival Cuquinha bordou palavrões em notas de peso argentino.
Mas o otimismo de Resston é dosado pela consciência dos riscos. “É caro [participar de uma feira internacional], e você não tem nenhuma garantia que vai vender, ser um sucesso”, ela conta. “Eu não tenho muita familiaridade com a cultura do colombiano, não conheço tão bem os colecionadores para saber ‘eu vou levar essa peça pensada para essa pessoa’. Então é um aprendizado.”
JOÃO PERASSOLO / Folhapress